As chuvas ocorridas na primeira e na segunda semana deste ano resultaram na elevação do nível do rio Sorocaba, conforme medições feitas por funcionários da Usina Hidrelétrica Santa Adélia, localizada no distrito de Americana.
Com a cheia de pouco mais de dois metros, casas ribeirinhas da localidade registraram a “aproximação das águas”. O rio já ocupa parte dos quintais.
Na manhã de quarta-feira, 11, a reportagem de O Progresso percorreu o distrito, conversou com moradores e visitou a barragem da companhia. A usina é considerada fundamental na a prevenção de enchentes, uma vez que tem a capacidade de represar, por controle de vazão, a água do Sorocaba.
Uma das 331 CGHs (centrais geradoras hidrelétricas) em operação no país, a represa de Americana tem capacidade para produzir um megawatt/hora de energia, sendo considerada minigeradora pela Aneel (Agência Nacional e de Energia Elétrica).
Ela possui 11 comportas que controlam, automaticamente, o nível do rio, conforme legislação, e ajudam a reduzir inundações.
“O Sorocaba registrou uma boa subida, mas já está estabilizando”, contou o gerente da Companhia Energética de Tatuí, Carlos Eduardo de Oliveira. De acordo com ele, funcionários da empresa estão monitorando o rio, em especial por conta das chuvas nas cabeceiras (na parte superior dos rios).
Oliveira explicou que as precipitações são maiores entre os meses de dezembro e março. Caso o volume de chuvas aumente neste período na parte superior do rio, o volume “desce” para a represa e atinge, primeiro, a localidade rural.
Antes de chegar a Tatuí, o Sorocaba – que tem 227 quilômetros de extensão – passa pelas cidades de Votorantim, Iperó e Boituva. O rio ainda corta outras quatro cidades (Ibiúna, Cerquilho, Jumirim e Laranjal Paulista) e tem cabeceiras localizadas em Ibiúna, Cotia, Vargem Grande Paulista e São Roque.
No distrito de Americana, as inundações também são causadas pela alta do rio Tatuí, por conta do encontro com o Sorocaba. O bairro tem alagamentos em dois pontos, um próximo à usina hidrelétrica (pelas chuvas nas cabeceiras) e outro na região do encontro das águas (devido ao “refluxo”). As águas dos rios ocupam áreas de várzea, nas quais estão algumas casas.
Mesmo acima do normal, Oliveira explicou que o rio não tem elevação considerável na parte jusante (abaixo da represa) justamente pela função das comportas. Todas elas possuem sensores ligados a um computador.
“O próprio sistema controla o nível, mantendo a vazão normal, conforme o montante (acima da represa). Nossos funcionários acompanham e fazem a limpeza da grade”, informou o gerente.
A manutenção manual é necessária para que galhos de árvores, plantas ou outros dejetos não danifiquem as turbinas geradoras. Ela também permite a medição do nível do rio, que subiu menos neste mês do ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em 2016, Oliveira disse que a represa teve volume maior de chuva por conta de acúmulo desde outubro de 2015. “Neste ano, até agora, a única precipitação grande ocorreu na noite de segunda-feira, 9, com quase cem milímetros. As demais foram ‘normais’”, disse o gerente.
A empresa informou a medição para a DC (Defesa Civil) do município, com a qual troca informações “constantemente”. Conforme o gerente, o objetivo é permitir que o órgão adote providências necessárias em tempo, no caso de haver inundação.
Quando o rio sobe muito, a usina precisa abrir as comportas para não comprometer a estrutura, o que pode ocasionar enchentes. Como a abertura é programada, a companhia consegue avisar o órgão municipal a tempo de permitir que ele oriente ou faça remoção de moradores.
“Quando isso ocorre, para nós, a única alteração é que a empresa para a geração de energia elétrica”, descreveu o gerente da Santa Adélia.
A vazão normal da hidrelétrica é de 12 metros cúbicos por segundo, mas ela pode suportar até 900 metros cúbicos por segundo em sua capacidade máxima. Até “essa marca”, Oliveira explicou que é possível fazer o controle por meio de comportas. Por lei, a usina precisa manter vazão constante.
Para a geração de energia, a parte montante do rio (acima da represa) fica represada a uma altura de cinco metros. Essa marca garante a produção por meio de “queda”.
As máquinas ficam em um desnível ideal para manter o potencial de produção. “As turbinas funcionam como um gerador semelhante ao de um carro, só que em tamanho gigante”, descreveu o gerente.
O “volume” de energia gerada na hidrelétrica de Americana é capaz de alimentar 20 mil residências não sendo em horário de pico. Para manter a produção, Oliveira explicou que a companhia precisa realizar limpeza e monitoramento.
“Este é um rio no qual não dá para confiar, nem nadar, porque tem muito galho de árvore. Quem se arrisca pode morrer afogado”, alertou o responsável.
Os detritos também podem impedir que os equipamentos (sensores) funcionem normalmente, dificultando a avaliação do nível do rio e o risco de enchente.
As medições são comparadas com dados da coordenadoria regional da Defesa Civil, repassados pelo major Miguel Ângelo de Campos, tatuiano atuando no município de Sorocaba. “De acordo com o que ele nos informa de lá, nós adotamos providências aqui, para evitar transtornos”.
Mesmo que o volume de água não possa ser suportado pelas comportas, o gerente explicou que a represa, por si mesma, atenua as cheias no distrito de Americana.
Segundo Oliveira, a “estrutura física” da hidrelétrica representa uma barreira que reduz a velocidade da água e a área de ocupação do rio em transbordo.
“A represa atenua em, aproximadamente, um terço a área atingida pelas enchentes quando há elevação do Sorocaba. Muitos pastos que eram afetados, atualmente, não são mais. Isso tanto em Tatuí como em Boituva”, comentou.
No município vizinho, entretanto, há um “fenômeno inverso”. Por conta da barreira, bairros como o da Cachoeirinha inundam primeiro. Isso porque ficam na parte montante da usina, onde o rio é elevado para a geração de energia.
“Este bairro é mais complexo porque foi construído numa APP (área de preservação permanente). Tanto que a Prefeitura de Boituva foi condenada a retirar os moradores e proprietários de lá, com prazo determinado na Justiça”, disse.
Em Tatuí, pelo menos por enquanto, a alta do rio Sorocaba no “lado da jusante” não preocupa moradores próximos à represa. José Francisco Cardoso, que tem propriedade na rua Maria Conceição Martins há seis anos, disse não estar apreensivo. “Choveu menos neste ano que no ano passado”, contou.
Em 2016, a propriedade dele foi uma das várias afetadas com a abertura das comportas no mês de janeiro. “Chegou a pegar na casa inteira, até o meio da altura e o topo do muro. Para passar por aqui, tinha que ter bote”, relembrou.
Também no ano passado, o comerciante voltou a sofrer com os efeitos da cheia do rio Sorocaba. Em abril, ele teve prejuízos materiais e financeiros. Na ocasião, os inquilinos tiveram de sair da propriedade devido à enchente.
Neste ano, com base nas precipitações, Cardoso acredita não existir a possibilidade de inundações. Caso isso venha a ocorrer, o proprietário citou que os moradores têm tempo hábil para deixar os imóveis. “Aqui, só enche quando as comportas de Votorantim são abertas. Daí, ‘arregaça’ tudo”, completou.