De fato, com embasamento, sempre há críticas a alguns aspectos do censo promovido pelo (IBGE) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com maior ênfase no critério de apuração de raça, determinado pela “autodeclaração”.
Óbvio, esse critério implica em o recenseador perguntar ao entrevistado a que raça ele entende pertencer e anotar a resposta, pura e simplesmente, sem qualquer questionamento – ainda que o indivíduo se declare caucasiano mesmo sendo, visivelmente, um avatar azul tingido de bolinhas amarelas.
Esta regra do processo censitário pode não ser perfeita, por certo abrindo margem a distorções quanto à real proporção de brancos, pretos, pardos, orientais e indígenas. Por outro lado, alguém teria ideia de método menos questionável?
Se não os próprios entrevistados a declararem suas raças, caberia a testes de DNA individuais em toda a população? Além de onerar em demasia os cofres públicos, poderiam nem resultar em algo tão concreto, dada a população brasileira ser maciçamente mestiça…
Ou, ainda, menos ruim seria delegar aos próprios funcionários do IBGE a autoridade de “determinar” a raça das pessoas, segundo avaliações pessoais sem qualquer critério consolidado? Dá para concluir que “não”.
A despeito dessa realidade, os números levados a público pelo jornal O Progresso de Tatuí na semana passada geraram certo incômodo em parte da população, que não se reconheceu neles.
Segundo a pesquisa mais recente do órgão, sete a cada dez munícipes consideram-se brancos, de acordo com o Panorama IBGE, ferramenta que apresenta o perfil de cidades brasileiras através de infográficos e mapas.
O estudo, divulgado em parciais, aponta, desta vez, o quadro da população por cor e raça. Os dados são do censo realizado entre os anos de 2021 e 2022.
O indicativo soma cinco categorias: branca, preta, amarela, parda e indígena, representando uma parte do estudo.
O Censo Demográfico 2022 tem como objetivo fornecer informações detalhadas sobre a população brasileira, incluindo a distribuição por idade, sexo, grau de escolaridade, tipo de moradia, trabalho e rendimento e meio ambiente, entre outras características.
Os primeiros resultados foram divulgados em meados do ano passado, revelando o aumento da população com 65 anos de idade ou mais.
Em Tatuí, o levantamento domiciliar aponta que, dos 123.942 habitantes, 87.508 se autodeclararam brancos, respondendo por 70,6% da população. As pessoas de cor ou raça parda representam 24,69%, correspondendo a 30.597 pessoas.
A população declaradamente preta soma 5.122 pessoas, 4,13% do total de residentes, enquanto a cor ou raça amarela representa 0,47%, com 582 autodeclarações. Os que se declaram indígenas totalizam 133 pessoas, ou 0,11% da população local.
Como aqui acentuado, a raça é definida por “autoatribuição” e, de acordo com o IBGE, o sistema é considerado “adequado para fins de pesquisas, em particular pela caracterização das desigualdades raciais existentes no Brasil”.
No município, houve redução no número de orientais em comparação com o levantamento anterior. A população nessa categoria passou de 703, em 2010, para 582, em 2022, o que significa 17,21% a menos no período compreendido pelos estudos.
Quando os percentuais correspondentes da população de cada censo são comparados, a retração persiste. De acordo com os dados preliminares, os orientais passaram de 0,66%, em 2010, para 0,47%.
A população de cor ou raça preta totaliza 5.122 habitantes na cidade, segundo o IBGE. A categoria é utilizada para identificar descendentes de diversos grupos étnicos, como africanos e indígenas, com base na autodeclaração, sendo essa uma das classificações étnico-raciais utilizadas no Brasil.
Sua adoção está ligada ao processo de reconhecimento e visibilidade das diferentes origens e identidades presentes na sociedade brasileira, refletindo “a complexidade e a riqueza da herança cultural do país”.
Entre os pardos, houve salto na população em comparação aos censos de 2010 e 2022. O número de pessoas nessa categoria passou de 17.414 para 30.597, em crescimento de 75,7%. Para se ter ideia, as pessoas pardas representavam 16,23% da população local e, atualmente, passaram a 24,69%.
Historicamente, o termo pardo começou a ser utilizado no Brasil durante o período colonial para classificar os nascidos da mistura entre brancos e negros, ou entre brancos e indígenas.
Percentualmente, de 2010 para 2022, alguns grupos acabaram se destacando pelos números – aparentemente interpretados na cidade, alguns, de forma negativa e, outros, positiva.
Os indígenas, por exemplo, aumentaram 125,42%, saltando de 59, no primeiro período, para 133, no segundo. Em termos percentuais quanto ao total da população, o aumento foi de 95,2%, tendo esse grupo se expandido de 0,05% dos tatuianos para 0,11%.
Por sua vez, a população preta de Tatuí, “segundo o estudo do IBGE”, cresceu pouco em números absolutos e regrediu percentualmente em relação aos 123.942 residentes.
Na cidade, a população autodeclarada preta representa 4,13% do total. Ao todo, seriam 5.122 pessoas. A pesquisa aponta para aumento de 81,57% em relação a 2010, quando 2.821 pessoas assim se autodeclararam. Estes números, particularmente, vieram a ser questionados.
Não obstante, se somadas, as parcelas de pessoas autodeclaradas pretas e pardas equivalem a 28,82% dos habitantes. No total, 35.719 pessoas compõem esse grupo no Censo 2022. Em 2010, eram 20.235, um aumento de 76,52%.
Em que pese (novamente) o fato inquestionável de que o estudo é do IBGE e não do jornal O Progresso de Tatuí, além de ser pautado pela autodeclaração, pode-se depreender ao menos duas questões do episódio, sendo a primeira o maior reconhecimento da identidade parda – algo real e muito positivo, dada a explícita miscigenação do Brasil como um todo.
E, segundo – por aspecto não positivo –, algo que poderia ser bem posto como uma pergunta: antes de se exigir mudanças nos critérios do IBGE (sem apresentar alternativa menos ruim, inclusive), não seria melhor os movimentos de afirmação étnicas trabalharem mais ainda para o justo e necessário reconhecimento e consequente valorização constante da história e da cultura negra no país?
Está posto o questionamento sensato, correto, a partir das “autodeclarações”, de que muitos poderiam se identificar com essa raça, mas não o fizeram. E por qual motivo senão pela falta de conhecimento? De que, sim, ser afrodescendente é motivo de orgulho, tal como, por exemplo, ser um caipira “pé vermeio”.
Só não se identifica com isso quem não enxerga essa beleza, quem carece saber mais sobre sua própria história, sobre sua real identidade. Ou seja, falta informação!
E, com certeza, não será em bobagens de redes sociais onde se encontrarão respostas e muito menos informações responsáveis e enriquecedoras a respeito. Enfim, mais livro e menos bate-papo fútil e desinformado no “Zap” ajudaria muito, tatuianos de todas as cores e raças!