Ribeirão do Manduca de Tatuí segue o desassoreamento pela ação ‘Rios Vivos’

Etapas contam com plantio de “vetiver” e substituição de “invasoras” por nativas

Margens do ribeirão recebem plantio de árvores nativas (foto: Divulgação)
Da reportagem

Principal curso d’água a cruzar praticamente toda a zona urbana, o ribeirão do Manduca de Tatuí segue em processo de desassoreamento por meio do programa “Rios Vivos”.

A ação, do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), autarquia vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, do governo de São Paulo, foi inserida no plano estadual de meio ambiente para o ciclo 2023/2024.

Nele, o projeto visa à revitalização de margens e desassoreamento de cursos d’água, com a retirada de sedimentos diversos, carregados pelas chuvas. Tatuí foi contemplada pela ação após ser atingida pelas fortes chuvas de janeiro do ano passado. A partir daí, a revitalização deve ser executada em três etapas.

De acordo com a então secretária do Meio Ambiente, Fabiana Grecchi, a primeira fase foi finalizada no dia 20 de abril deste ano. Nela, foi executada a limpeza do curso d’água e a correção da calha do ribeirão.

A ação beneficia uma extensão de 5,3 quilômetros, os quais compreendem 19 trechos, iniciando na praça Mário Cóscia, no Jardim Wanderley, e seguindo até a rua Chiquinha Rodrigues, na ponte do Jardim Lírio.

Concluída a primeira etapa, a prefeitura deu início à segunda. Nela, segundo Fabiana, está sendo realizado o plantio de “vetiver” em toda a extensão do ribeirão. Ela conta que a plantação da espécie de capim é necessária para a contenção dos taludes e da grama na porção superior das margens.

Conforme o cronograma de execução, o desassoreamento ainda contará com uma terceira etapa, na qual será realizado o plantio de árvores nativas para recomposição da mata ciliar.

Fabiana citou a ausência de pontos de alagamentos durante os períodos de chuva na cidade como um dos benefícios já constatados a partir da primeira etapa da ação. “Indiretamente, todo planeta é beneficiado pela melhor qualidade ambiental e cuidado com os recursos hídricos”, salientou.

Ela ainda relacionou às obras de melhorias do ribeirão a baixa incidência de casos de dengue no município. Para ela, a contenção de pontos de represamento de água ao longo do ribeirão diminuiu as condições para reprodução do mosquito transmissor.

Sobre a supressão das árvores às margens do Manduca, Fabiana explicou a necessidade da ação em razão dos danos causados ao meio ambiente.

Ela contou que as árvores, denominadas “leucenas”, são plantas leguminosas, resistentes e com grande capacidade de adaptação aos mais diferentes ambientes. Desta forma, segundo ela, tornam-se altamente invasoras, impedindo o desenvolvimento de árvores nativas.

“As plantas nativas na mata ciliar desempenham importante papel na contenção de encostas, margens e absorção de água para o lençol freático, o que não ocorre com as leucenas”, explicou.

A árvore de espécie invasora e exótica mexicana é maciçamente proliferada no território brasileiro, sendo que está entre as cem espécies invasoras mais agressivas do planeta.

De acordo com a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, a espécie tem “imenso potencial” de produção e germinação de sementes, inclusive em locais rústicos e impróprios, em comparação ao estabelecimento de espécies nativas regionais.

Por serem monodominantes, as leucenas causam grande prejuízo à biodiversidade regional, pois, em suma, não fornecem alimento à fauna nativa e formam grandes maciços, os quais impossibilitam a ocupação física de espécies vegetais nativas, essenciais à manutenção evolutiva da biodiversidade regional.

Além disso, a espécie lança uma “enorme” quantidade de matéria orgânica seca no solo, convertendo-se em combustível bastante eficiente para a propagação de queimadas.

Fabiana informou que a ação estratégica substituirá as leucenas por espécies arbóreas nativas. Desta forma, “a cidade terá equilíbrio ambiental, se tornando mais sustentável e corrigindo assoreamentos e descartes irregulares”.

Ela esclareceu, ainda, que Tatuí nunca havia sido contemplada com serviços de preservação de curso d’água. Com esse aporte do governo, Fabiana acredita que o município terá uma “mudança de patamar”.

Ainda de acordo com ela, o programa é integralmente custeado pelo DAEE, tendo como contrapartida da prefeitura as obras para a limpeza de vegetação.

“O município, a partir de agora, assume a manutenção do Manduca, tendo, pela primeira vez na história, uma equipe específica para esse fim”, explicou.

O Manduca possui um total de 10.475 metros de extensão, da nascente até a foz. Ele desemboca no rio Tatuí e tem como maior afluente o córrego Ponte Preta.

De acordo com a pasta, o processo de urbanização gerou diversas implicações ambientais, impactando, principalmente, na qualidade das águas e na quantidade.

Entre as causas que contribuíram para a degradação, estão a supressão da mata ciliar e o recebimento de dejetos domésticos, causando processos de erosão.

Fabiana antecipou que, ao longo do ribeirão, serão construídas diversas bacias, formando, no conjunto, um parque linear, além da drenagem (captação do escoamento das águas de chuva) da região entre a praça Ayrton Senna e avenida Senador Laurindo Minhoto, próximo ao Clube Renascer.


Novo secretário

Nesta semana, a secretária Fabiana Grecchi deixou o cargo de gestora da pasta de Agricultura, Meio Ambiente e Bem-Estar Animal, da prefeitura, para se dedicar exclusivamente à Secretaria de Serviços Públicos e Zeladoria. Ela já atuava nas duas funções desde a saída do então secretário da pasta de zeladoria, Patrício Antunes Ferreira.
No lugar de Fabiana, assume Danilo Floriano. Ele é natural de Tatuí e tem formação na área de gestão ambiental. Também é pós-graduado em gestão pública e graduando em engenharia ambiental.
Atua como servidor público há mais de 15 anos na função de técnico ambiental do Departamento de Meio Ambiente de Tatuí. Participou da criação do sistema de Licenciamento Ambiental Municipalizado, em funcionamento desde 2009, por meio de convênio firmado entre a prefeitura de Tatuí e a Companhia Ambiental do estado de São Paulo (Cetesb), área para a qual atua até o momento.