Sem firula boba de comparar Tatuí a grandes metrópoles da Europa, algo é fato: rios urbanos não poluídos acabam se tornando parte significativa de lazer e dos atrativos turísticos dessas cidades.
Aqui não existe um Sena ou um Tamisa (que já foi conhecido como o “Grande Fedor”), mas há o ribeirão do Manduca, que pode, sim (por que não?) vir a ser motivo de satisfação e orgulho para a Cidade Ternura – senão mais um ponto turístico no futuro.
Para isso, como em diversas outras áreas de interesse público, é imprescindível a tal “vontade política” (que não deve ser confundida com o desejo, o capricho de um político em particular).
Na prática, essa vontade consiste, antes de tudo, em uma conscientização coletiva de que algo é importante e necessário, assim “sensibilizando” os políticos em cargo de poder, os quais têm mais condições de tomar atitude.
Especificamente quanto à despoluição do Manduca, é possível notar uma conscientização crescente, embora lenta, de que vale muito a pena atuar pela limpeza, e isto por aspectos a extrapolar a mera estética ou por um odor mais floral.
Bem antes, eram apenas os “ambientalistas” a se preocupar com o riozinho, uma gente então mal compreendida pela maioria, que enxergava os rios como algo nada além de um caminho de esgoto, sem qualquer importância.
Com o tempo, não só a consciência sobre a importância da preservação ambiental aumentou – dada tanta evidência de ela ser vital até para a preservação da própria vida humana -, mas as possibilidades de ganho generalizado tornaram-se explícitas, sobretudo nas áreas de lazer e turismo.
Por estas razões, é muito bom noticiar sobre o início de um processo que pode resultar, no futuro, em uma transformação completa do ribeirão do Manduca em Tatuí – com o tempo, apenas, esse precisa ser assimilado como “deve”.
Principal curso d’água a cruzar praticamente toda a zona urbana, o ribeirão do Manduca de Tatuí teve anunciado, na semana passada, o desassoreamento de alguns de seus trechos por meio do programa “Rios Vivos”.
A ação do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), autarquia vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, do governo de São Paulo, está inserida no plano estadual de meio ambiente para o ciclo 2023 e 2024.
Nele, o projeto visa à revitalização de margens e desassoreamento de cursos d’água com a retirada de sedimentos diversos, carregados pelas chuvas. Com a ação, o risco de enchentes nos centros urbanos deve ser minimizado.
Em Tatuí, o programa beneficiará uma extensão de 5,3 quilômetros do ribeirão, os quais compreendem 19 trechos, iniciando na praça Mário Cóscia, no Jardim Wanderley, e seguindo até a rua Chiquinha Rodrigues, na ponte do Jardim Lírio.
De acordo com o programa, a iniciativa tem como resultado esperado a revitalização de bacias hidrográficas, a diminuição de inundações, a melhoria de índices de saúde pública e o aumento do volume de oferta de água, “entre outros benefícios nos quais tem como componente principal o vetor hídrico”.
De acordo com a secretária municipal da Agricultura e Meio Ambiente, Fabiana Grecchi, uma pré-obra foi iniciada pela prefeitura com a retirada de vegetação invasora para “liberar espaço”. As obras efetivas, entretanto, têm início a partir de agora.
Fabiana explicou que Tatuí foi uma das cidades escolhidas para integrar o programa por conta “do grande impacto ambiental causado pelas fortes chuvas do início do ano”.
Ela esclareceu, ainda, que a cidade nunca havia sido contemplada com serviços de preservação de curso d’água. Com esse aporte do governo, Fabiana acredita que o município terá uma “mudança de patamar”.
“A cidade terá equilíbrio ambiental, se tornando mais sustentável, corrigindo assoreamentos e descartes irregulares”, explicou.
Ainda de acordo com ela, o programa é integralmente custeado pelo DAEE, tendo como contrapartida da prefeitura as obras para a limpeza de vegetação.
O Manduca possui um total de 10.475 metros de extensão, da nascente até a foz. Ele desemboca no rio Tatuí e tem como maior afluente o córrego Ponte Preta.
De acordo com a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, o processo de urbanização gerou diversas implicações ambientais, impactando, principalmente, na qualidade das águas e na quantidade.
Entre as causas que contribuíram para a degradação, estão a supressão da mata ciliar e o recebimento de dejetos domésticos, causando processos de erosão.
Fabiana antecipou que, ao longo do ribeirão, serão construídas diversas bacias, formando, no conjunto, um parque linear, além da drenagem (captação do escoamento das águas de chuva) da região entre a praça Ayrton Senna e a avenida Senador Laurindo Minhoto, próximo ao Clube Renascer.
O resultado de todo esse evolutivo movimento de conscientização ambiental – do qual Tatuí modestamente faz parte – é já ser indiscutível, a despeito da vontade política – ou mesmo da falta de -, que quem não cuidar de seus rios e demais riquezas naturais vai perder o “barquinho da história”.
Com isso, deixaria escorrer feito água pelos dedos inúmeras oportunidades, entre as quais, o ganho econômico – algo que, desde sempre, ninguém quer perder, mesmo quem gosta de botar fogo no parquinho do debate público, nas florestas e, por derradeiro, no futuro de todos.
A despeito dessa gleba da natureza humana onde não se costuma florescer algo além da monocultura monetária, que o ribeirão do Manduca, logo mais, venha a ser exemplo de consciência ambiental.