Respeito í  Educação!





Dois assuntos – ambos polêmicos – têm preocupado educadores e os pais realmente interessados na educação dos filhos: as propostas do chamado movimento “Escola sem Política” e a medida provisória que impõe reformas no ensino médio.

Oportunamente, dois profissionais de respeito tratam sobre esses assuntos por meio de artigos, um deles o psicanalista Contardo Calligares, na “Folha de S. Paulo”, e o professor tatuiano Cacá, nesta edição de O Progresso (clique para ler).

Com razão e autoridade para tanto, Cacá aponta o “patrulhamento” ao qual vêm sendo submetidos os professores, tolhidos da liberdade de educarem os alunos, sob a acusação de os estarem “doutrinando” com ideologias políticas de esquerda.

Particularmente, ele ressalta, os professores de história, sociologia, filosofia e artes seriam os mais visados. Não por coincidência, certamente, disciplinas candidatas à expulsão do currículo escolar, conforme a proposta de mudança.

Por sua vez, Calligares argumenta que, quando estudava no equivalente ensino médio, na Itália, aprendia diversas línguas, como latim e grego, por exemplo.

Aí, vieram as tais reformas, a pretexto de se “incluir” os alunos menos “elitizados” no rol dos “letrados”. Contudo – como sempre –, a solução não seria melhor ensino – ou mais ensino -, mas tão somente a exclusão das disciplinas supostamente mais “elitistas”…

Falando-se em termos politicamente corretos, isso deveria “democratizar” o ensino. Mas, não… Na prática, acaba impondo o tal “nivelar por baixo”. Basicamente, a proposta brasileira de reforma em pouco – ou nada – diferencia-se.

Nas palavras do escritor e psicanalista: “Os progressistas se vangloriavam de ‘incluir’ assim os alunos das classes menos favorecidas. De fato, era o contrário: eles conseguiram ‘excluir’ esses alunos da possibilidade de acesso a uma fatia considerável de saber.

Cá entre nós, ‘escola obrigatória’ não significa apenas que os jovens são obrigados a frequentar as aulas até uma certa idade, significa também que o Estado tem a obrigação de lhes ensinar o que está no programa. O Estado, quando fracassa, se safa da obrigação decretando que não era preciso conhecer as matérias que ele não soube ensinar.

Os ‘reacionários’ gritavam com razão: vocês estão nivelando por baixo. Era em vão o clichê, sendo que todos os jovens seriam muito mais interessados por uma pelada do que pela leitura de Tácito.”

Propostas dessa natureza bem lembram aquelas da área de segurança pública, que proíbem eventos – ou os inibem, pelo menos -, impõem o fechamento de estabelecimentos mais cedo ou trancam espaços públicos à noite.

Entre outros exemples, ações como essas só demonstram a incompetência do Estado: não pode garantir a segurança, colocando o bandido na cadeia, então, tira a liberdade do cidadão “de bem”; não consegue ensinar, tira do currículo as disciplinas que deveriam ser aprendidas… Problema resolvido!

Quanto à censura nas escolas, há alguns aspectos além do óbvio. Um deles o de que o incômodo – correto, compreensível – que o professor sente quando se depara com a acusação de que “faz a cabeça dos alunos”, os “doutrina”, é o mesmo que o jornalista sente quando ouve que a “tal mídia” é a culpada por quase tudo, justamente por, também, fazer a cabeça, manipular, doutrinar as pessoas…

Não é assim… Ou, pelo menos, não é bem assim, e em ambos os casos. Há pessoas, “gente”, atuando em todas as áreas, com boas e más intenções, tal como com maior ou menor poder para alcançá-las…

Certo é que o ser humano se difere um do outro, com ideias e intenções diversas, pelo que não se pode generalizar suas atitudes por profissão, por ramo de atividade, tampouco julgá-las dessa forma infantil – como tem ocorrido – que as divide em “do bem” e “do mal”…

Isso, também, é de se indignar quando em se tratando de educação no geral, não apenas na escola… Quem tem filho e um mínimo de esclarecimento sente-se muito incomodado quando, não raro, excuta-o questionando se tal fulano, se tal personagem é do bem ou do mal…

Óbvio, não se aprende essa visão maniqueísta somente na escola, mas há nelas, sim, encenações e atividades em que se rotulam os lados supostamente opostos do bem e do mal, como se o ser humano fosse, “assim”, tão superficial e fácil de decifrar – como se todos nascessem puros e bons, sendo que a sociedade malvada é que os estraga, como diria o iluminista Rousseau…

É preciso ser francamente contra esse projeto de censura aos professores. Mesmo! Porém, por esta tendência à parcialidade, pode-se minimamente entender a preocupação de muitos pais, que temem que o tal “bem” seja imposto aos filhos como uma virtude inerente aos pensamentos e crenças da esquerda e que, consequentemente, o “mal” seja impingido aos de direita…

Essa é uma falsa premissa. Contudo, ainda mais importante é que tanto a imprensa – a mídia – quanto os professores façam seus trabalhos corretamente, buscando a isenção como algo sagrado (aqui, sim, um dogma profissional). Devem dar informação de todos os aspectos, a partir de todos os ângulos, e instrumentos para que cada um – criança e, depois, adulto – julgue por si mesmo e escolha seus caminhos – inclusive, políticos.

Também é justo observar que, se o poder dos professores (o mesmo para a mídia) fosse supremo, a realidade seria bem outra – ou não! Até porque, a mídia e a Educação não são compostas por pessoas que pensam de maneira uniforme, e, portanto, esse tal poder sempre será limitado e relativo, ainda que com maior ou menor grau de influência. Ainda bem! Pior que tudo seria o poder absoluto, seja nas mãos de quem for – de esquerda ou direita (aliás, conceitos cada vez mais relativos na realidade política…).

Como nos ensina a “História”, a concentração de poder, invariavelmente, leva à corrupção, à degradação, ao autoritarismo e consequente perda das conquistas sociais, tendo a liberdade como a maior de todas.

Para sustentar essas conquistas, ainda que com dificuldades constantes e não plenamente, o professor, como sempre, é fundamental. A transmissão do amplo conhecimento é vital contra a ignorância e, portanto, deve ter sua liberdade e autonomia respeitadas no âmbito do sagrado – porém, sem qualquer ladainha na busca de se formar rebanhos ideológicos.