Raymundo Farias de Oliveira
Ungiste-me a fronte
Com o óleo santo
Do teu beijo maternal
Na noite em que chorei
Pela primeira vez,
Aninhado no teu busto jovem,
Explodindo de emoção!
O tempo passou
E passou tão depressa…
Percorremos tantos caminhos,
Vencemos tantas lonjuras,
E agora, pasmo e triste,
Olho teus olhos cansados,
As rugas singrando teu rosto
Tua memória fraquejando,
Escondendo algum desgosto,
As dores povoando teu corpo,
O rosário tremendo em tuas mãos.
Cada dia é um suplício
E cada noite uma incógnita
Teus cabelos negros, viçosos,
Ficaram tão cinzentos…
Teus lábios guardam um silêncio amargo
Interrompido pelos gemidos suaves.
Oh minha mãe,
meu doce e santo refúgio,
mergulho em mil indagações
Sobre o mistério da vida,
Querendo saciar curiosidades inúteis.
Debato-me, afoito,
Nas ondas inquietas da minha introspecção
E, assim, regresso feliz
À longínqua noite de lua cheia
Em que, no esplendor da tua juventude,
Ungiste-me a fronte
Com o óleo santo
Do teu beijo maternal,
Enquanto eu chorava pela primeira vez.