Recanto do Bom Velhinho Vale da Lua enfrenta drama para sobreviver

Apesar de aumento de verba, instituição teme “fechar no vermelho”

Claudia Fagundes mostra armários onde acolhidos guardam pertences (foto: Carlos Serrão)

Da reportagem

O Recanto do Bom Velhinho – Vale da Lua é uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) – nova denominação para o antigo e hoje inadequado termo “asilo” -, que vive um drama atualmente: “como sobreviver”?

Mesmo com aumento do repasse da prefeitura para R$ 100 mil por ano, o número de doações tem caído constantemente desde a pandemia e os administradores da entidade temem começar a fechar “no vermelho”.

“O que pesa mais é a folha de pagamento”, diz o administrador José Joaquim Mendes Castanho (o presidente é Sergio Donizeti Alves).

O recanto é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, que em 2023 completa 33 anos de existência em Tatuí – foi fundada em 4 de outubro de 1990. Atualmente, atende 44 pessoas (21 homens e 23 mulheres), que residem na instituição. A mais velha tem 92 anos.

O atendimento acontece durante as 24 horas do dia, de forma ininterrupta. São cinco refeições diárias: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e chá da noite.

São 27 funcionários a serviço dos acolhidos: administrador, assistente social, secretária, cuidadores, serviços gerais, manutenção, motorista, cozinheira, enfermeira, auxiliares de enfermagem, nutricionista e fisioterapeuta.

“Nosso objetivo é acolher os idosos com os cuidados diários, para manutenção da qualidade de vida, dando total atenção dentro de todos os aspectos, de forma individualizada, com carinho e responsabilidade”, assegura Claudia Rosana Nascimento Fagundes, assistente social do recanto.

Entre as atividades realizadas cotidianamente pelos idosos, estão as festas para os aniversariantes do mês e as temáticas, como a junina, da primavera e natalina, entre outras.

Estão incluídos também: atividades de lazer e entretenimento; passeios com churrasco no Clube de Campo, almoço no Centro Hípico Tatuí, visita ao Zoológico “Quinzinho de Barros”, em Sorocaba; e a já tradicional festa em prol do recanto, que acontece sempre no mês de novembro, no Clube de Campo (neste ano será a quinta edição).

O recanto possui um bazar permanente, que funciona todos os sábados, das 8h às 11h30, na rua Professora Zilah de Aquino, 900, no bairro Valinho, próximo à Praça do Carroção. Alá, trabalham voluntários da Igreja Renovação em Cristo.

As visitas aos assistidos são abertas de terça a quinta, das 14h às 15h, em função dos cuidados com a pandemia da Covid-19. Só é permitida a entrada de pessoas com máscara e mediante apresentação de carteirinha de vacinação completa, pois os idosos estão no grupo de risco da doença.

Custos

Todos esses serviços geram um custo, que está cada vez mais difícil de cobrir. Segundo Castanho, cada idoso custa por mês, para a instituição, R$ 2.500, sendo que um acamado tem necessidades que fazem o valor subir para R$ 3.200.

Claudia explica que a entidade se mantém com o percentual de 70% do salário dos aposentados, pensionistas e dos que recebem o BCP-Loas (Benefício de Proteção Continuada).

Os 30% restantes, em acordo com o Ministério Público, são utilizados para gastos específicos, “para o gosto pessoal” de cada um. “Tudo acompanhado pela Promotoria e com prestação de contas”, sustenta a assistente social.

“Temos um repasse de R$ 36 mil ao ano do governo federal e R$ 100 mil ao ano da prefeitura, que antes era de R$ 44 mil, mas aumentou neste ano. Também temos a verba do Fundo Municipal do Idoso, que aprova projetos para captarmos verba com empresas”, informa Claudia.

“Antes, acolhíamos 60 pessoas aqui; hoje, não temos mais condições, principalmente por conta da folha de pagamento. Só de farmácia, gastamos em média R$ 7.000 por mês. Quanto maior a dependência, de mais funcionários precisamos para não perder a qualidade no atendimento”, explica.

Projetos estão parados, como a pintura do prédio e a cobertura da área externa, pois em dias de chuva os idosos acabam ficando presos nos quartos. “Ganhamos as telhas, mas não temos verba para fazer a estrutura metálica”, afirma Castanho.

O voluntariado é outro problema enfrentado pela instituição. “A pessoa precisa se comprometer conosco, assinando um contrato de voluntário. Estar aqui nos dias e horários combinados. Sem compromisso, sem um trabalho estruturado, é impossível”, diz o administrador. “Por isso, voluntários hoje só temos no bazar”, complementa Claudia.

“Precisamos de voluntários para os idosos, pessoas que possam assumir o compromisso de vir ler para eles, ouvir as histórias, conversar”, diz Castanho.

“As famílias abandonam. No Natal, abrimos para os parentes virem buscá-los. Dos 44, apenas quatro foram, e ainda assim por poucas horas no dia 25”, relata a assistente social. “E todos sumiram desde então”, completa.

Ela explica que o acolhimento é o último recurso, porque é “deprimente”. Tira o idoso de seu ambiente familiar, e, muitas vezes, ocorre o rompimento de laços. “Não adianta achar que jogar numa casa de acolhimento a pessoa na terceira idade é a primeira solução”, declara.

O lar aceita doações em dinheiro, destinação de Nota Fiscal Paulista, móveis, roupas e demais itens, como fralda geriátrica e alimentos. Basta entrar em contato pelo telefone da entidade, que também é WhatsApp, o (15) 3251-2669. O CNPJ para a nota fiscal e Pix é o 60.115.938/0001-89. A instituição retira doações.

O Recanto do Bom Velhinho – Vale da Lua está localizado na rua Professor Ary de Almeida Sinisgalli, 235.