Assim como a economia, nossas finanças também se movem em ondas – poucas pessoas conseguem ter estabilidade financeira por muito tempo. Por isso, é preciso ser previdente e saber que, como dizem os americanos, “shit happens!” – problemas acontecem. Manter uma poupança, previdência ou qualquer tipo de reserva financeira é de suma importância, porém é uma questão comportamental, cultural. A falta de uma base, de começar a prática de poupar desde criança, interfere na responsabilidade dos adultos quanto aos seus gastos. Costumamos recomendar uma reserva de pelo menos seis meses de salário (ou renda) para fazer face a eventualidades adversas, como a perda do emprego.
O sacrifício de consumo no presente para usufruto de algo maior no futuro é uma medida inteligente, que demonstra maturidade e confiança na própria vida, na longevidade. A atitude de quem gasta tudo o que ganha é comparável às formas mais cruas de vício. Para essas pessoas, o prazer imediato é mais importante. A atitude acabou se tornando alvo de amplos estudos em economia que refletem a decisão das pessoas em viver somente o presente ou viver o presente olhando para o futuro.
O consumismo, a sofisticação no vestir, no comer, no viajar etc., tem corroído as finanças das pessoas desnecessariamente. A pessoa realmente elegante, bem educada, tem um guarda-roupa com poucas peças, bem escolhidas, clássicas, de bom gosto e repete roupas sem o menor problema. Pessoas inseguras, novos ricos e vaidosos têm guarda-roupas abarrotados e nunca sabem o que vestir. Ou, olham para o armário cheio e dizem: “Não tem nada para eu vestir! Preciso comprar roupas!”
Por que, por exemplo, comprar um vinho de R$ 100 quando você pode beber vinhos muito bons a R$ 30? Os de R$ 100 são melhores? Sim, são melhores (ligeiramente), mas testes às cegas (“blind tests”) já enganaram muitos entendidos. Não faz muito sentido o sujeito beber vinhos de primeira linha toda semana e morar em casa alugada.
É preciso conhecer a sua realidade financeira e procurar viver a vida em um padrão compatível com o seu bolso. As pessoas precisam ser mais modestas e pensar que poderiam estar vivendo com uma renda menor – aliás, para falar a verdade, já devem ter tido uma renda menor e viveram bem com ela. Da mesma forma, por exemplo, é preciso ter criatividade e desenvolver um lazer mais barato, dedicação para pesquisar preços mais baixos, inteligência para fazer substituições econômicas e integridade para assumir perante família e amigos um orçamento mais condigno.
Mas, uma coisa é extremamente importante distinguir: as despesas dos investimentos. As despesas proporcionam retornos de curtíssimo prazo, enquanto os investimentos sempre carregam consigo a perspectiva de retornos de longo prazo. Pessoas conscientes direcionam seus gastos muito mais para investimentos do que para despesas, muito mais para momentos importantes com a família do que para gastos sem muito sentido de utilidade durável.
Enfim, o gasto pessoal é uma questão de estilo, educação e consciência – coisas que você tem ou simplesmente não tem. E outra coisa: ninguém é mais feliz por consumir coisas melhores, mais sofisticadas ou mais caras. A felicidade também está nas pequenas coisas que nos dão prazer, aquelas desfrutadas sem que seja necessário pagar mais caro.
Se você gasta tudo o que ganha, ou até mais do que isso, então está na hora de repensar seus valores.
* CEO da Advanced