Tatuí ser mencionada no título, neste momento – com o devido perdão dos leitores -, serve apenas ao propósito, sim, de chamar a atenção. Mas, vale o subterfúgio frente à importância do fato: finalmente, (no país) depois de alguns anos de estímulo à desumanidade, observa-se um refluxo no sentido da bondade, da solidariedade, da “humanidade”!
Claro, isto refere-se às mobilizações locais – e nacionais – em favor das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Elas demonstram não só a sobrevivência de bons sentimentos e boas intenções, mas, também, que a população pode ser inspirada em direção contrária ao dissenso e ao ódio.
Somente na primeira semana de iniciativas, por exemplo (até a sexta-feira, 10), dois caminhões com doações já tinham seguido de Tatuí para a região Sul.
O Lions Clube, em parceria com o Fundo Social de Solidariedade de Tatuí (Fusstat), o comércio e a Câmara Municipal disponibilizaram-se, no decorrer dessa semana, a receber as doações.
O primeiro carregamento saiu da cidade com destino a Santa Cruz do Sul já na segunda-feira, 6; o segundo partiu no final da tarde de quinta-feira, 9. Nessa remessa, as doações levadas até o Lions Clube somaram-se com as da campanha “Câmara Solidária”, organizada pelo Legislativo.
De acordo com o balanço feito pelo Lions, até então, tinham sido arrecadados 65 molhos de tomate, 220 quilos de feijão, 200 quilos de arroz, 70 quilos de açúcar, 26 pacotes de pó de café, 30 litros de óleo, 45 quilos de macarrão, 5 quilos de sal, 440 rolos de papel higiênico, 198 litros de água sanitária, 120 litros de desinfetante, 88 unidades de sabão em pedra, 25 quilos de sabão em pó, 74 unidades de detergente, 65 litros de álcool em gel, 2.100 litros de água, 132 cremes dentais, 100 escovas de dente, 540 sabonetes, 12 xampus, 520 litros de leite, 12 latas de leite em pó e achocolatado, 32 cestas básicas, 34 pacotes de bolacha, 20 mil peças de roupas, 250 pares de calçados, 120 cobertores, 320 pacotes de absorventes, 200 pacotes de fraldas descartáveis, 300 quilos de ração animal e 280 brinquedos, além de travesseiros, colchões, utensílios e gerador.
O Fundo Social e a Defesa Civil do estado de São Paulo, por sua vez, passaram a arrecadar itens de limpeza e higiene pessoal, que podem ser entregues no Poupatempo.
Entre as listas de produtos prioritários, estão: água, água sanitária, balde, desinfetante, detergente, sabão em pó, escova para lavar, esponja para limpeza, esponja de aço, limpador multiuso, luva de látex, pano de chão, rodo, sabão em barra, sacos de lixo, saponáceo, vassoura, aparelho de barbear, creme dental, escova de dente, fio dental, sabonete, xampu e condicionador.
As doações podem ser feitas de segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 9h às 13h, na avenida Coronel Firmo Vieira de Camargo, 135.
Os Correios também estão recolhendo donativos. De acordo com a Defesa Civil estadual, são necessárias doações de alimentos não perecíveis da cesta básica, produtos de higiene pessoal, material de higiene seco e itens de vestuário.
Ainda, o órgão anunciou a doação de encomendas, cujas tentativas de entrega aos destinatários ultrapassaram o prazo de 90 dias para reclamação (conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor) e não foram procuradas pelos destinatários ou remetentes.
Neste caso, os desabrigados dos municípios gaúchos receberão itens de vestuário e utensílios domésticos.
Também, diversas lojas do comércio local se disponibilizaram a receber as doações. De acordo com a lista divulgada pela prefeitura, a população pode entregar os donativos nas lojas da rede Caetano (todas), RTL Rolamentos (na rua 11 de Agosto, 2.070), supermercado Conquista (Oscar Chagas, 254, vila Angélica), CCR Comércio de Cereais Rodrigues (rodovia Gladys Bernardes Minhoto, km 40,5) e na Tatuí Vidros e Esquadrias (João Antônio da Fonseca, 120, Dr. Laurindo).
Ainda estão recebendo as doações: Tapemag (11 de Agosto, 1.041, no centro), Auto Mecânica Campos e Campos (avenida Senador Laurindo Minhoto, 732, Dr. Laurindo), Agiliza Engenharia (Chiquinha Rodrigues, 1.320, Dr. Laurindo), RFV Materiais Elétricos e Hidráulicos (11 de Agosto, 3.400), Animed (Prof. Francisco Pereira de Almeida, 380 – em frente ao asilo), Zaith (11 de Agosto, 457), Consil Imobiliária (Chiquinha Rodrigues, 1.400), Laser Som/Serauto (11 de Agosto, 1.279), Vem do Sítio (Cruzeiro, 136) e Marmoraria 15 (15 de Novembro, 1.645).
A Caetano montou uma central de arrecadação no galpão da loja “um” da empresa. Lá, estão sendo arrecadados óleo, açúcar, pó de café, achocolatado, cobertores, cestas básicas e roupas de cama.
Já na Casa São José, à rua 11 de Agosto, 1.059, podem ser levados roupas, produtos de higiene e ração animal, entre outros itens. Todos os materiais arrecadados pelo comércio serão levados para o galpão.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou que o estado vive um cenário de pós-guerra e será necessário um “Plano Marshall” para a reconstrução do estado – em alusão ao plano de reconstrução da Europa pós-Segunda Guerra Mundial, financiado pelos Estados Unidos.
Ele ainda alertou que limitações de regras fiscais dificultam a utilização de recursos extraordinários no socorro à população. Em contrapartida, governo federal, Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal começaram a articular ações emergenciais.
O pacote inclui aceleradas renegociações das dívidas do estado com a União, autorizar, aumentar e liberar emendas parlamentares, além de retirar recursos de limites fiscais.
Óbvio que as mobilizações de ação humanitária partem de uma tragédia, cujas consequências avolumam-se em mais que perdas materiais, atingindo proporções inéditas em fatalidades irreparáveis, comovendo o país e o mundo.
Tantas vidas perdidas e outras incontáveis destroçadas, contudo, realmente não podem ser em vão. No mínimo, deveriam servir de alerta a outro gravíssimo problema enfrentado pela humanidade nos últimos anos: o “negacionismo”.
Neste caso, o negacionismo “também” ambiental, segundo o qual o planeta não se afeta, tampouco sofre com as mudanças climáticas. Está aí um estado inteiro do país praticamente debaixo d’água para, mais uma vez, comprovar o contrário.
Que este choque brutal de realidade venha a despertar o maior número possível de pessoas acometidas pelo torpor da alienação, do fanatismo e, por estes, da desconsideração à ciência, levando ao reconhecimento de que a inação – senão o obscurantismo extremista -podem custar caro demais, cobrando em vidas.
Que ao menos a humanidade individual um tanto recuperada agora sirva a um movimento de conscientização e verdadeiro amor ao próximo, de tal forma que, mesmo ainda não sendo a casa de um de nós a ficar sob as águas, que a população como um todo apoie – e cobre – ações pelo bem de todos!
Mais ainda: pelo bem do meio ambiente, a serem propostas e executadas por gestores sérios, responsáveis e bem instruídos.
Isto é o mínimo a se esperar de cidadãos “humanos”, cônscios de que, para todos sobrevivermos, dependemos do planeta em ar, água e terra – pelo menos do indivíduo que sabe que esta Terra, definitivamente, não é plana.