Pronto-socorro ganhará pulseiras e painel





Amanda Mageste

Com nova estrutura interna, ambulatório ganhou projeto de identidade visual e prédio deverá ser reinaugurado em agosto

 

Por meio de convênio com a Santa Casa, a Prefeitura mudou a gestão do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. O acordo, firmado há três meses e dez dias – completados neste domingo, 27 –, permite que o Executivo tenha médicos em número suficiente para dar conta da demanda.

Como resultado, o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, anunciou redução nas queixas e mais “fluidez” no atendimento. “Posso dizer, hoje, com tranquilidade, que o nosso maior problema, por incrível que pareça, já não existe mais. O pronto-socorro está estabilizado”, declarou.

Dando continuidade à mudança, o prefeito anunciou duas novidades que estão sendo implantadas no ambulatório. A primeira é a inclusão de pulseiras coloridas (a serem utilizadas para definição de classificação de risco do paciente).

A segunda vem acompanhada de mudança de identidade visual. O Executivo planeja instalar um painel eletrônico no pronto-socorro. O equipamento exibirá informações sobre o número e a ordem de atendimento, número de profissionais que estão de plantão e outros dados.

Essas ações serão apresentadas em solenidade de reinauguração do espaço – prevista para o mês que vem. A Prefeitura não definiu a data oficial.

O convênio que permitiu o novo modelo de gestão foi firmado no dia 17 de abril, após aprovação pela Câmara Municipal. Ele é resultado de longo período de discussões que envolveram o prefeito, o secretário municipal da Saúde, Máximo Machado Lourenço, e a equipe do Departamento Jurídico do Executivo. “Foi um baile para que pudéssemos achar uma solução”, declarou Manu.

A Prefeitura optou pela terceirização da contratação dos médicos – via Santa Casa – depois de inúmeras tentativas. Conforme o prefeito, a maior preocupação era corrigir falha no atendimento. O ambulatório precisava de mais médicos plantonistas para dar conta do volume diário – com pico de 500 pessoas.

“Nós tínhamos um grande problema, que era a falta de profissionais. Isso desde que assumi a gestão. Aliás, essa sempre foi minha prioridade na Saúde”, disse.

Como o ambulatório necessitava, primeiro, de uma reforma estrutural, Manu explicou que a secretaria priorizou as obras físicas. Em janeiro de 2013, as chuvas que atingiram o município provocaram estragos em prédios públicos. Entre eles, a sede da Assistência Social, na vila Dr. Laurindo, que teve parte das instalações invadidas pelas águas e a lateral de um muro danificada.

No pronto-socorro, as precipitações danificaram ainda mais a estrutura, aumentando as goteiras e as infiltrações no prédio. “O espaço físico estava deplorável. Quem ver agora, depois da revitalização, vai se surpreender”, falou.

Por determinação do prefeito, o prédio passou a ser reformado, dando início ao trabalho de reformulação do ambulatório. “Começamos há um ano e meio a trabalhar para a reforma física e a retaguarda, visando melhorar o acolhimento para o cidadão que chega até a porta”, apontou Manu.

As obras ficaram a cargo da própria Prefeitura, realizadas por funcionários da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura. A reestruturação incluiu a implantação de um refeitório para a equipe do PS e de novos bancos para os pacientes que aguardam atendimento.

“Todos têm um espaço mais higiênico e saudável, e, o mais importante, com qualidade. Não adianta colocar um prédio bonito e oferecer uma qualidade de serviço que não está de acordo com o que está sendo proposto”, declarou.

Visando mudar o sistema de atendimento – que ocasionava a maioria das queixas apresentadas junto à Ouvidoria do município –, Manu determinou a realização de pesquisas.

O objetivo era avaliar todos os aspectos que envolvessem a “satisfação do usuário” (tempo de espera, falta de profissionais e de medicamentos, entre outros).

“Tudo isso foi detectado através de um tempo. Eu fiquei tentando resolver o problema de ‘n’ formas”, justificou o prefeito. Ele citou que, desde 2013, a Prefeitura abriu três concursos para contratar mais médicos e destacou que, em quase todos, não houve interessados. “Praticamente, todos deram desertos, um ou outro médico se inscrevia”, relatou.

Mesmo com essa constatação, o Executivo não pôde tomar “outras providências”, como contratar médicos em caráter de urgência. Manu explicou que a lei relativa a improbidade administrativa impedia a terceirização do serviço.

“Então, tudo isso é um processo que demora. E as pessoas não entendem. Mesmo assim, nós nos desdobramos ao máximo para tentar dar um atendimento melhor. E melhorou, em vista do que era em 2012”, sustentou.

Na análise do prefeito, o pronto-socorro ainda gerava reclamações por conta do “aumento do número de pacientes”. De acordo com ele, o ambulatório registra, aproximadamente, 15 mil atendimentos por mês. “São quase 500 pessoas por dia. É só fazer a conta para ver como aumentou”.

Sem alternativa para contratar médicos, a Prefeitura começou a cogitar a chamada “transferência de gestão”. Trata-se de contratação de médicos por meio de terceirização.

A urgência do Executivo encontra explicação no número de profissionais que a Prefeitura dispunha – e ainda dispõe – para trabalhar nos plantões.

São seis profissionais contratados para atuar no serviço de urgência e emergência. O pronto-socorro necessitava de 32 – 26 a mais – para cobrir a escala de plantão de 12 horas (dois plantões diários).

Com o convênio, a Prefeitura conseguiu completar o quadro de atendimentos. Os médicos contratados via Santa Casa cobrem 207 dos 247 plantões mensais do ambulatório, reduzindo o tempo de espera dos pacientes.

Por recomendação do Departamento Jurídico, o prefeito passou a buscar uma fundação ou autarquia que pudesse gerir a contratação, por meio de repasse de recursos.

“Dessa forma, eu estaria mais respaldado, até porque já havia feito vários concursos e não conseguia encontrar ninguém”, argumentou.

Em contato com a provedora da Santa Casa, Nanete Walti de Lima, Manu iniciou reuniões para discussão da possível transferência de gestão via hospital.

O prefeito também conversou com o tesoureiro da Santa Casa, João Prior, para estabelecer o acordo de repasse dos recursos para contratar os plantonistas.

A partir das reuniões, definiu-se que a Prefeitura repassaria mensalmente verba para a Santa Casa e que o hospital faria a contratação da equipe médica.

A provedoria do hospital é, também, responsável pela emissão de nota, definição de escalas dos contratados e substituição em caso de falta ou férias. “O hospital faz tudo: gere a contratação, demite e paga os médicos”, detalhou Manu.

Antes de começar a vigorar, o contrato foi submetido à aprovação da Câmara. Em abril, os vereadores votaram o projeto que autorizava o Executivo a firmar o convênio. Desde então, o novo modelo passou a vigorar.

“Atualmente, nosso pronto-socorro tem uma retaguarda de médicos extremamente profissionais, comprometidos com o trabalho e, juntamente com os nossos, oferece um serviço de qualidade para a população”, disse o prefeito.

Mais mudanças

Acompanhando a chegada de novos profissionais, o Executivo trocou a equipe que comandava o pronto-socorro. O prefeito nomeou, como enfermeira responsável, Ana Cristina Silva, e agregou Sandra Santos na administração.

Ana Cristina substitui Roberta Lodi Molonha Machado, que continua como coordenadora dos serviços de urgência do município. A ex-enfermeira responsável pelo PS, atualmente, está no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Pessoa de confiança do prefeito, Sandra foi designada para conduzir os trabalhos no pronto-socorro de forma a melhorar o fluxo do atendimento quando o convênio com a Santa Casa começou a vigorar. “E isso tem dado muito certo, com foco sempre no acolhimento da população”, declarou Manu.

Conforme ele, a reestruturação corrigiu uma série de problemas existentes no “Erasmo Peixoto”. Entre eles, a falta de profissionais entre as 18h e 20h (horário de pico).

Manu disse que, nesse tempo, o PS ficava “desguarnecido”. O horário coincidia com a saída de alguns médicos ao final de plantão e de outros que tiravam horário de descanso ou saíam para se alimentar.

“Tudo isso era difícil de a gente gerenciar”, argumentou o prefeito. Conforme ele, o Executivo não conseguia corrigir o problema, uma vez que a maioria dos médicos era concursada.

Apesar das advertências, o prefeito explicou que a administração não tinha condições de exigir que os profissionais cumprissem horário sem que houvesse risco de haver desligamento.

No modelo atual, a Prefeitura ganhou em autonomia. Manu afirmou que a obrigação da substituição de um médico – no caso de uma desistência, falta, folga ou férias – fica com a Santa Casa. O hospital tem autonomia para contratar os profissionais e, com isso, garantir o cumprimento da escala de plantão.

Desde abril, quatro médicos já foram substituídos. Os desligamentos ocorreram por vários fatores, mas podem ser solicitados pela direção do pronto-atendimento após entendimentos com o secretário municipal da Saúde.

As trocas são feitas em caso de os profissionais não cumprirem horário de atendimento, quando os médicos não atendem às fichas, ou quando não estão atingindo as expectativas. As solicitações são feitas após avaliação da equipe do ambulatório, que repassa os horários e dias de atendimento ao hospital.

Manu afirmou que, com o aumento do controle do horário de atendimento, alguns médicos desistiram porque tiveram “descontos altos” nos vencimentos.

Também segundo ele, os médicos que atuam nesse regime recebem mais do que se fossem contratados pela Prefeitura. Ainda ressaltou que os descontos na folha de pagamento são menores, porque não há custos administrativos, e que os médicos atendem melhor por não terem estabilidade.

Papel da Santa Casa

Manu citou que o hospital teve papel decisivo na implantação do novo modelo de gestão do pronto-socorro. Segundo ele, a direção da Santa Casa entendeu a necessidade do município e colaborou para a realização de convênio.

“A Santa Casa não ganha com isso e também não perde”, enfatizou o prefeito. Segundo ele, o hospital apenas retribuiu a ajuda que vem recebendo do município e que também tem interesse na melhora do atendimento porque o ambulatório é considerado “a porta de entrada da Santa Casa”.

Como resultado das reestruturações, o Executivo registrou melhora no quesito satisfação da população. É o que apontou o diretor do Departamento Municipal de Comunicação e Gestão Estratégica, Alexandre Scalise. Conforme ele, a Prefeitura realizou uma “ampla pesquisa” sobre o PS.

O estudo aconteceu em dois momentos e envolveu a satisfação e a gestão do ambulatório, tendo sido realizado por meio da Ouvidoria, com a colaboração de Jeferson Taniguchi. Scalise informou que o Executivo ouviu pacientes antes da chegada dos 26 novos médicos e depois, para verificar o “saldo”.

A pesquisa ainda não teve os dados tabulados por completo, mas deve ter o resultado divulgado na solenidade de reinauguração do pronto-socorro.

De antemão, o prefeito informou que a aprovação do atendimento subiu de 70% para 90%. “Caiu, drasticamente, o número de reclamações”, enfatizou.

Segundo ele, a Prefeitura ainda registra reclamações geradas a partir do ambulatório. No entanto, elas dizem respeito a exames, medicamentos a demora no encaminhamento para especialidades – este último, considerado um “problema geral”.

“O que nos assustava, nos aterrorizava, graças a Deus, não nos dá mais medo. Posso dizer, com tranquilidade, que o pronto socorro está estabilizado”, declarou.

Manu disse que o convênio possibilitou o avanço de projetos que visam afinar o processo de atendimento – caso das pulseiras coloridas e dos painéis eletrônicos.

Conforme ele, a implantação desses itens deve acontecer entre o final deste mês e o início de agosto. “Estão faltando os pequenos detalhes, que são os ajustes finais para isso”.

O pronto-socorro também ganhará placas indicativas nas cores das áreas de atendimento correspondentes às pulseiras (vermelha, amarela, verde e azul).

O sistema de atendimento por cor já funciona no PS, uma vez que o SUS (Sistema Único de Saúde) determina que ele seja utilizado para definir o nível de urgência de cada caso e, por consequência, a prioridade na fila de espera.

As pulseiras coloridas serão distribuídas aos pacientes após triagem. A cor vermelha é usada para definir casos mais graves ou de risco elevado; a amarela representa urgência; a verde classifica os demais atendimentos (dores corporais, pressão arterial alterada, inflamação na garganta, pequenos ferimentos, reações alérgicas, entre outros); e a azul representa casos de pacientes que podem ser atendidos nas UBSs (unidades básicas de saúde).

O secretário municipal da Saúde afirmou que não haverá remodelação do sistema de atendimento, mas um aperfeiçoamento. Com as pulseiras, os funcionários poderão identificar não só o grau de risco, mas facilitar o trabalho das equipes. Também representará orientação para os próprios pacientes.

“Esse tipo de classificação serve para orientar mais a população. Ele também vai melhorar o serviço da equipe de enfermagem, que poderá visualizar quem é o paciente e quem é o acompanhante do paciente”, disse Máximo.

Segundo ele, a partir da reinauguração, o pronto-socorro deverá limitar o acesso de acompanhantes. Máximo afirmou que poderão permanecer com os pacientes apenas as pessoas previstas em lei (pais de crianças menores de idade, parentes ou filhos de idosos, entre outros). “A gente nota que o número de pessoas prejudica o desenvolvimento do serviço”, justificou.

Juntamente com as pulseiras, os pacientes receberão um panfleto explicativo. A Prefeitura também vai instalar monitores com dados em tempo real sobre os atendimentos que estão sendo prestados no ambulatório. Conforme Máximo, o software ainda está em desenvolvimento.

Também a partir da reinauguração, a Prefeitura manterá uma urna para recebimento de sugestões e reclamações. O dispositivo deverá ser implantado em todas as UBSs, conforme projetou o prefeito. Manu disse que acompanhará pessoalmente a participação dos usuários. “Eu vou ter a chave e quero saber onde estão e quais ainda são as reclamações da Saúde”, sustentou.

Novo diagnóstico

Por conta das reformulações, o prefeito afirmou que o número de atendimentos caiu. Entretanto, disse que o Executivo ainda não tem dados comparativos.

A Prefeitura quer incluir, no comparativo, os números de atendimentos registrados pelo PA (pronto atendimento) do bairro Tanquinho.

Como a pesquisa de satisfação, as estatísticas de atendimento devem ser divulgadas na reinauguração. O evento deve acontecer no mês que vem, após a conclusão das instalações das placas indicativas e a chegada das pulseiras coloridas. “Tecnicamente, só estamos aguardando isso”, concluiu Manu.