Nos últimos meses, equipes engajadas em ações voluntárias uniram-se em uma força-tarefa e estão trabalhando, diariamente, para dar nova “cara” à Etec “Sales Gomes”. Paredes mofadas, espaços pichados, móveis rabiscados e ambientes deteriorados do prédio com mais de 60 anos de construção estão dando lugar a uma escola revitalizada, por meio de projetos que incentivam e valorizam a cidadania.
De acordo com a diretora Beatriz Soares Amaro, desde o início do primeiro semestre letivo, com a colaboração de professores, alunos e voluntários, a unidade colocou em prática diversos programas que têm melhorado a estrutura física e organizacional da escola.
Ela conta que, devido à crise econômica do país, o governo do Estado de São Paulo tem liberado os recursos de maneira limitada, destinando as poucas verbas existentes aos itens considerados de extrema necessidade. Com isso, a manutenção da pintura e de algumas reformas foram postergadas.
Recentemente, o governo liberou investimentos em uma série de adequações na unidade, incluindo implantação de rampas de acesso a cadeirantes, concertos no telhado e manutenções. Além disso, o Centro Paula Souza disponibiliza um recurso chamado DMPP (Despesa Miúda de Pronto Pagamento).
Contudo, como o próprio nome já indica, a verba é destinada a “pequenas” despesas – como troca de lâmpadas, reposição de papel higiênico, produtos de limpeza – e a outros itens não duráveis, de extrema necessidade.
Com isso, a unidade passou a procurar formas de resolver a situação. Já no ano passado, a ideia era implantar o “Adote uma sala de aula”, com o objetivo de arrecadar fundos para a pintura das paredes e revitalização dos espaços internos. Mas, a realização só foi possível neste ano.
Dentro da APM (Associação de Pais e Mestres), os membros se mobilizaram para arrecadar fundos. Juntando as doações de pais, alunos, professores e funcionários, a escola conseguiu reunir os recursos e comprar as tintas e materiais necessários.
Em seguida, quatro voluntários da comunidade “Força para Viver” – presidida pelo pastor Gétero Campos – sensibilizaram-se com a causa e fizeram a pintura da área interna da escola, de forma gratuita.
“A nossa escola estava muito judiada por dentro e, aí, nós entramos em contato com o pastor Gétero, falamos desta vontade que nós tínhamos, de melhorar os ambientes, e ele topou nos ajudar”, contou a diretora.
Os voluntários trabalharam quase quatro meses dentro da unidade, no período de aula. Para continuar as obras, os alunos eram remanejados de sala, conforme a necessidade, até que todo o ambiente interno do prédio recebeu nova pintura, incluindo sala de coordenação e dos professores, banheiros e diretoria.
“Graças ao trabalho destes quatro senhores e da tinta comprada com a ajuda da APM, nós conseguimos revitalizar a nossa escola. Com as paredes pintadas, o prédio ganhou um novo ar”, relatou Beatriz.
Além do trabalho voluntário dos membros da comunidade Força para Viver, outras ações foram nascendo em busca de melhorias. No mesmo período em que a escola passava por revitalização com o trabalho de pintura, o Centro Paula Souza escolheu a unidade para a implantação piloto do método “5S”.
“Sabe quando junta a fome com a vontade de comer? Nós já estávamos querendo fazer algo neste sentido desde o ano passado, aí, quando conseguimos começar, veio o projeto 5S, para completar os nossos planos”, comentou Beatriz.
O professor do curso de administração Edimur Diniz Vaz – também de forma voluntária – assumiu a coordenadoria da implantação do programa e iniciou as primeiras atividades do método, em 22 de março.
Conforme Vaz explicou, a ferramenta foi criada no Japão há 60 anos e tem sido utilizada no Brasil há mais de 20, buscando promover disciplina, segurança e produtividade nos ambientes de trabalho, porém, tem se tornado ponto forte para a melhoria da utilização de espaço e organização de entidades e escolas, entre outros.
“O método, na verdade, serve para melhorar qualquer ambiente. Ele ensina os princípios básicos de limpeza, organização, descarte do que não é necessário e outras ferramentas que aqui são aplicadas, focando no bem-estar dos alunos e da comunidade escolar”, revelou o coordenador.
O termo se origina das palavras japonesas “seiri”, “seiton”, “seiso”, “seiketsu” e “shitsuke”, que significam, respectivamente, senso de utilização ou de descarte, senso de organização, senso de conservação ou de limpeza, senso da saúde e senso de autodisciplina.
Cada uma das cinco palavras representa uma etapa da implantação. Inicialmente, 12 ambientes receberam a aplicação do método, entre laboratórios, salas de aula, administração e banheiros.
Nesses espaços, os participantes (alunos e professores) realizaram uma espécie de mutirão, que envolveu desde a limpeza até o descarte de itens sem uso e otimização do local de trabalho através da organização.
Ainda conforme o coordenador, a escola tem cinco anos para aplicar a ferramenta em todos os ambientes. Deveria ter começado com um número menor de participantes, mas, a partir da implantação do programa no primeiro espaço, automaticamente, os alunos e professores foram pedindo para participar e começaram a aplicar o método em mais salas e laboratórios.
“Isso se alastrou pela escola, tem oficinas que ainda não estão fazendo parte do programa, mas já estão começando a se movimentar e aplicar as ferramentas. Quando chegar o ano que vem, vou colocar eles, mas só para constar no projeto, porque eles já estão participando”, reforçou Vaz.
Beatriz ressalta que, com a implantação do método e o trabalho voluntário, a unidade escolar acabou formando uma “corrente do bem”, que a cada dia ganha um novo elo.
Segundo ela, após ver a movimentação dos voluntários e dos alunos, alguns professores também se ofereceram para ajudar e, agora, a escola não precisa mais pagar para lavar as cortinas. Um grupo criou uma espécie de revezamento e cada lavagem é feita por um professor participante.
O professor de história e orientador educacional Fernando Jesus da Costa também reforçou que o exemplo de cidadania e voluntariado tem se difundido entre os alunos e professores.
“O pessoal sempre está trabalhando a favor da escola, e a gente percebe que o exemplo arrasta: quanto mais faz, mais surgem voluntários. Nos últimos trabalhos de conclusão de curso, por exemplo, os alunos estão focando cada vez mais em fazer melhorias na escola”, comentou Costa.
Um dos exemplos deste tipo de ação aconteceu no último final de semana de julho, dias 28 e 29, quando um grupo de alunos de mecânica decidiu se juntar para reformar as salas usadas pelo curso.
Em parceria com a escola, eles criaram o projeto “Revitaliza”, que envolveu desde a pintura até a parte elétrica, incluindo reforma de cadeiras, portas e lousas em três salas (multimídia, sala de aula e oficina mecânica).
O orientador também avaliou que um dos pontos importantes da implantação do programa “5S” é a conscientização dos alunos. “Depois que começamos a trabalhar com eles, os próprios alunos fiscalizam. Se eles chegam, encontram algo sujo ou rabiscado, eles cobram e querem encontrar os responsáveis”, ressaltou Costa.
Conforme a diretora Beatriz, todos estes processos fizeram com que a parte interna do prédio fosse revitalizada. O próximo passo é implantar o “5S” nas oficinas dos cursos e a revitalização dos ambientes externos.
Também com recursos da APM, algumas latas de tinta foram adquiridas e dois dos voluntários – que já estavam realizando a pintura das salas – foram contratados para pintar as oficinas, que ficam na área externa. Porém, para a revitalização completa do prédio, o projeto ainda inclui a pintura externa de toda a escola.
Para esta obra, a direção estima um gasto de mais de R$ 50 mil e espera conquistar empresas parceiras para patrocinar a pintura, seja com doação de valores em espécie ou em latas de tinta.
“Estamos passando o chapéu nas empresas para ver se conseguimos recursos. O prédio é muito amplo e está muito judiado, então, o gasto é alto. Não temos condições de cobrir as despesas com o dinheiro da APM. Então, pedimos para aqueles que puderem nos ajudar para que nos procurem”, concluiu a diretora.