Criado com o intuito de dar assistência a crianças e adolescentes que sujeitas a todo tipo de perigo, o projeto Espaço Feliz, do Lar Donato Flores, comemora neste domingo, 18, às 15h, o jubileu de cristal, por 15 anos de atividades.
Fundado em 1961 com o objetivo de abrigar meninas carentes e órfãs, o Lar Donato Flores funcionou até 2003, quando foi iniciado o projeto Espaço Feliz, que passou a fazer o trabalho de inclusão social.
Ubirajara Interdonato Feltrin, ex-presidente da entidade e membro da atual diretoria, conta que o projeto tem conseguido atingir todos os objetivos: a proteção e o cuidado de jovens e crianças da cidade.
“Dá para resumir em poucas palavras esses 15 anos: é a realização de um sonho. Nós só tínhamos uma ideia na cabeça, que várias pessoas passaram a acreditar. Quando assumi a presidência, em 2002, vi que dava para fazer muito mais”, conta Feltrin.
O projeto, iniciado em 2003 em um barracão, o qual, com a ajuda de voluntários, foi transformado em um salão de atividades, reuniu parcerias com diversas entidades. Entre as quais: Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Ambiental e Rodoviária, Grupo Esperança da Elektro, Atividade Ginástica Laboral, Balleteatro Fred Astaire, Conservatório de Tatuí, Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul e voluntários, que abraçaram o programa logo no início, oferecendo aulas do programa de inclusão social.
Feltrin conta que, em 2005, sentindo a necessidade de formar e direcionar as participantes para o mercado de trabalho, foi iniciado o “Programa Aprendiz”, validado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que, com diversas parcerias introduziu, as meninas no mercado de trabalho.
Até 2016, o projeto tinha somente participantes do sexo feminino e, em função da assinatura de um TAC (termo de ajuste e conduta) com o Poder Judiciário, passou a atender também os meninos nos dois programas da entidade, o Serviço de Convivência, para os jovens de 10 a 14 anos, e o Programa Aprendiz, para jovens de 14 a 18 anos.
Mesmo começando com dificuldades para o fornecimento dos materiais, equipamentos e uniformes, o Espaço Feliz foi obtendo apoio e parcerias com o poder público, empresas, pessoas físicas e, gradativamente, proporcionando aumento no número de pessoas atendidas. “Iniciamos com apenas 30 jovens”, lembra Feltrin.
Os assistidos frequentam as atividades no contraturno escolar e recebem, gratuitamente, uniforme completo. Além das diversas salas, o local possui um grande salão, utilizado para as atividades de coral, judô e teatro; uma sala de informática, com 40 computadores; e um consultório dentário, onde são realizados, por um dentista voluntário, pequenos procedimentos.
“O nosso coral, todo ano, apresenta-se em várias cidades, como Taubaté, Vinhedo, Salto, Votorantim e Sorocaba. No ano passado, fomos convidados a participar da reinauguração do Memorial da América Latina e cantamos com a Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo”, diz o diretor.
Atualmente, o programa atende 230 crianças, sendo 98 no programa de aprendizagem. Cerca de 2.000 crianças e adolescentes já passaram pelo Lar. Muitos já conseguiram terminar o ensino superior, em cursos como pedagogia, administração, engenharia, contabilidade, direito e educação física. Alguns já possuem experiência no exterior e outros, formaram a própria família.
A lista de espera para entrar no programa conta com mais de 500 jovens, que aguardam uma oportunidade para participarem das atividades e dos cursos oferecidos.
Os alunos que estão na fase do programa de convivência e fortalecimento de vínculos, a inclusão, realizam atividades de artes, artesanato, dança, coral, teatro, informática, raciocínio lógico e leitura. Na aprendizagem, as aulas são de informática, rotinas administrativas, leitura e interpretação, raciocínio lógico e matemática.
Feltrin explica que, depois dos 14 anos, esses jovens são cuidados em meio a um processo que o projeto classifica como “preparação para o mundo do trabalho”. “Nós temos meninos e meninas de 15, 16, 17 anos esperando uma oportunidade para trabalhar”, ressalta Feltrin.
Os aprendizes têm uma grade de atividades definida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. As aulas de português, raciocínio lógico, logística, segurança do trabalho e rotinas administrativas os deixam prontos para o mercado de trabalho.
“Somos da área social e não da educação. Pela lei, entidades que trabalham na área social podem, também, preparar para o mundo do trabalho. Para poder encaminhar (os alunos) para as empresas, é preciso ter cursos registrados no ministério. Aqui, nós temos os cursos de rotinas administrativas, alimentador de linha de produção e bancário”, explica o diretor.
Toda a equipe técnica, formada por 19 pessoas, entre psicólogo, assistente social e administração e professores, é integrada por profissionais formados em suas áreas, registrados de acordo com as leis e atendendo às regras da assistência social.
“Os aprendizes são registrados pelas empresas, têm carteira profissional, recebem o 13o salário, pagam o INSS, recolhem o Fundo de Garantia. Todos os encargos e obrigações pagos por qualquer trabalhador”, detalha o diretor. Desde 2005, 282 jovens já foram inseridos no mercado de trabalho por meio das parcerias firmadas pelo programa de aprendizagem.
“No início, a gente teve muita resistência das empresas para abrir oportunidades. Foram muitos anos de visitas a empresas e reuniões, muito tempo de negociação até que a lei de aprendizagem ficasse conhecida”, lembrou Feltrin.
Grande parte do trabalho desenvolvido é financiada com diversas atividades realizadas durante o ano, como o bazar permanente, festa junina e o jantar com show de prêmios, realizado próximo ao fim de ano. Fazem parte, também, recurso de parcerias com a Prefeitura, Secretaria de Assistência Social do Estado e o Fundo Municipal da Criança.
Após 15 anos de atividades, o projeto espera aumentar ainda mais a quantidade de jovens assistidos. O evento que será realizado neste domingo vai contar com a presença de autoridades e é aberto ao público. A cerimônia contará com apresentações culturais e as salas estarão abertas para visitação.
Sobre o Lar Donato Flores
Donato Rafael Flores nasceu em Borda da Mata (MG), em 29 de julho de 1899, filho de Vicente Rafael Flores e Marieta de Jesus Flores. Passou a maior parte da infância em Mogi Mirim (SP), tendo perdido os pais ainda criança.
Começou a trabalhar cedo, como telegrafista da antiga Estrada de Ferro Sorocabana. Mais tarde, deixou a ferrovia e habilitou-se ao cargo de escrevente do cartório, do 2o Ofício de Capivari, transferindo-se, depois, para São Paulo.
Em abril de 1925, casou-se com Faraildes Camargo Penteado, de tradicional família capivariana, com quem teve duas filhas: Donildes e Dulce. Em 1929, veio para Tatuí, onde trabalhou por 30 anos no Cartório de Registro de Imóveis, Protestos e Anexos.
O trabalho na área de protestos de títulos levou-o a conhecer de perto os dramas vividos por pessoas que se viram ameaçadas de perder tudo o que possuíam. Ele sempre procurou ajudá-las, negociando prazo com os credores e, muitas vezes, pagando a dívida com dinheiro do próprio bolso. Consta na biografia dele que, com satisfação, dizia: “Durante os anos que trabalhei neste cartório, nunca houve um título protestado em Tatuí”.
Esteve presente em todos os empreendimentos em prol dos menos favorecidos da cidade, “dando o máximo de si para melhorar a condição de vida dos mais humildes”. Porém, foi à infância desprotegida que ele dedicou a maior atenção.
Trabalhando junto ao juizado de menores, testemunhou inúmeras crianças órfãs ou abandonadas, que ele encaminhava para adoção ou para alguma instituição que as amparasse. Era sonho dele construir em Tatuí um lar para esses menores desprotegidos.
Já havia dado os primeiros passos a fim de realizar esse projeto quando veio a falecer, em 9 de novembro de 1960. Foi então que integrantes da Loja Maçônica Caridade III, do Clube dos Treze e do Centro Espírita “Cairbar Schutel”, amigos dele, levaram adiante o projeto. Assim, ergueu-se o Lar que leva o nome de Donato Flores e que, durante todos esses anos, vem cumprindo a missão de dar abrigo, proteção e amor às crianças necessitadas de Tatuí.