Da reportagem
A Fatec de Tatuí (Faculdade de Tecnologia) “Prof. Wilson Roberto de Camargo” conquistou o primeiro lugar no programa “BeTheBoss”, do PTS (Parque Tecnológico de Sorocaba), com projeto desenvolvido pelo aluno Vinicius Trevisano Cabral de Oliveira.
O projeto vencedor é o “Cloud Strength – Da Nuvem para suas Mãos”, criado e desenvolvido pelo estudante, com a mentoria dos professores Maria do Carmo Vara Lopes Orsi e José Carlos Ferreira, visando uma inovação tecnológica voltada às estações meteorológicas.
O estudante é tecnólogo em manutenção industrial e está cursando automação industrial na instituição de ensino. Ele também foi estagiário na área de calibração de pluviômetros na Fatec Tatuí de 2018 a 2022.
O projeto oferece uma solução de modernização para as estações meteorológicas semiautomáticas, por meio de inovação tecnológica, como a transmissão e o compartilhamento automático dos dados gerados pelos equipamentos de medição de chuva.
“De certa forma, seria um ‘retrofit’, uma técnica de revitalização adaptando as estações às necessidades atuais. Ou seja, fazer alterações para garantir o melhoramento das instalações, a atualização e a modernização dos equipamentos, mas, ao mesmo tempo, sem descaracterizar os elementos originais’, explica Maria do Carmo.
Segundo ela, a ideia surgiu de uma necessidade identificada no município, a partir do projeto de iniciação científica criado em 2014, quando a Fatec de Tatuí inaugurou uma estação meteorológica automática, “visando uma medição tecnologicamente mais eficiente para avaliar as chuvas na região”.
Com a instalação, a instituição de ensino criou um projeto de iniciação científica e, além de estudar os dados medidos pela estação da faculdade, começou a fazer a manutenção de quatro estações meteorológicas usadas pela Defesa Civil do município – porém, essas do modelo semiautomático.
A diferença, conforme explica Maria do Carmo, é que as automáticas contam com equipamentos eletrônicos programáveis para a observação dos dados; já a semiautomática, ainda funciona com pilhas e necessita de pessoal para observar e registrar manualmente os dados.
“Com isso, começamos a avaliar a possibilidade de melhoria do equipamento semiautomático e surgiu o projeto. A ideia foi criar um sistema de melhoria tecnológica visando, basicamente, a transmissão automática dos dados, independente de se ter energia elétrica ou de um ponto fixo de rede, por exemplo”, contou.
Daí nasceu o projeto de trabalhar com a transmissão direta dos dados dos equipamentos em sistema de nuvem (rede global de servidores), oferecendo acesso aos registros por meio de aparelhos físicos como celulares, para fazer as leituras das medições semiautomáticas.
Maria do Carmo destaca que, no projeto, a melhoria do equipamento ainda envolve a eficiência energética, trocando as pilhas por uma bateria com placa solar, deixando as estações semiautomáticas com a autonomia tanto na questão energética quanto na transmissão de dados.
“O grande diferencial deste projeto é que todos os grandes órgãos que trabalham com meteorologia, climatologia e estudos de clima vão poder reativar suas estações. USP, Unesp, Unicamp, entre outras instituições, têm estações modernas como a nossa, mas muitas delas têm várias dessas estações obsoletas porque elas requerem um trabalho que onera o órgão”, argumentou.
Conforme a mentora, a intenção do projeto é “resgatar” as estações inoperantes, colocando-as de volta à operação e, consequentemente, trazer para o estado de São Paulo maior amplitude nas medições climática.
“Às vezes, uma pequena manutenção e melhoria tecnológica em algumas dessas estações em desuso podem torná-las aptas a funcionar novamente, assim aumentando os pontos de medições em operação. São pontos existentes e a disposição da gente, que ninguém pensou em colocá-las na prática novamente”, declarou a professora.
Depois de criado, o “Cloud Strength” foi apresentado ao programa “BeTheBoss” e selecionado para a final. A premiação ocorreu no dia 26 de janeiro, com 30 trabalhos inscritos, de 11 instituições de ensino superior da região, contando com mais de 180 estudantes participantes.
O programa é desenvolvido junto à agência Inova Sorocaba e o Sebrae Sorocaba, por meio do “Sebrae for Startups”, para “incentivar a cultura da inovação e o desenvolvimento de competências empreendedoras como trabalho em equipe, resolução de problemas, visão sistêmica, comunicação, protagonismo e criatividade, estimulando os estudantes a desenvolverem novas e revolucionárias ideias, por meio da metodologia de startups”.
Para o programa, os estudantes foram desafiados a apresentar projetos inovadores e considerados disruptivos – ou seja, que rompem com os padrões atuais – em diversos campos de aplicação.
Os projetos foram voltados a três dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas”: “Fome zero e agricultura sustentável”, “Energia limpa e acessível” e “Redução das desigualdades”.
“Neste programa, nós apontamos dois problemas. Especificamos que o Brasil como um todo tem poucos pontos de observação e concentrados apenas em grandes cidades, e ainda apontamos órgãos com equipamentos já comprados, porém, em desuso por falta de tecnologia”, acentua Maria do Carmo.
A mentora ainda salientou duas vantagens do projeto. Segundo ela, não existe no mercado uma empresa que revitaliza, tecnologicamente, esses equipamentos, além de que os custos propostos para a revitalização são cinco vezes menores do que os investimentos em um equipamento novo.
“Nossa proposta dentro do programa é entrar em parceria com grandes órgãos. Ou seja, nós já teríamos o equipamento à nossa disposição, então, do programa, o que nós precisaríamos era desenvolver o plano de negócios para transformar o projeto em um produto”, acrescentou a mentora.
Com a colocação em primeiro lugar, além do prêmio principal, o aluno e o projeto terão acesso gratuito a mentorias, capacitações e demais orientações para o desenvolvimento de ideia (startups) dentro dos programas de aceleração do Parque Tecnológico, Sebrae-SP e parceiros.