Cerca de cem alunos do segundo ciclo do ensino fundamental da rede municipal participaram da Escola Preparatória para Futuros Cientistas. A palestra foi ministrada por alunos de química e pedagogia e por um físico, no auditório “Jornalista Maurício Loureiro Gama”, do Nebam (Núcleo de Educação Básica Municipal) “Ayrton Senna da Silva”.
O programa Futuro Cientista está presente em sete cidades e é uma iniciativa de professores e alunos da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). Em Tatuí, é realizado em parceria com a Prefeitura.
O programa atende a estudantes de baixa renda de todas as escolas do ensino fundamental municipais. A preparação ajuda crianças e adolescentes a estudarem para vestibulares de universidades públicas.
Uma das crianças atendidas é Vicktoria Suzan Nathallya Almeida de Melo, do quinto ano do ensino fundamental da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Professora Ligia Vieira de Camargo Del Fiol”.
Com o sonho de cursar direito e se tornar “rígida” juíza, a aluna participa de projeto que transforma garrafas PET em calhas ecológicas. A ideia é aplicar a solução na própria escola e melhorar o escoamento de água durante os dias de chuva.
“Nós vemos várias garrafas espalhadas pelo chão e que vão para o aterro, contaminando o solo. Pensamos em ajudar a nossa escola e ao meio ambiente ao mesmo tempo. Cada garrafa gera dois pedaços de calha”, contou.
Uma das dificuldades enfrentadas por Vicktoria é colar as garrafas. Uma das possibilidades estudadas pela adolescente é soldar os pedaços de PET. “Estamos pensando na temperatura correta, e vamos ter que baixar o calor para não derreter demais as garrafas”, explicou.
Segundo o físico Fábio de Lima Leite, professor no campus Sorocaba da Ufscar e idealizador do programa, as dificuldades nos projetos dos alunos são corriqueiras e ajudam os participantes a desenvolverem a criatividade e novas habilidades.
“Nossa ideia é treinar o aluno, dar uma chance a ele, uma perspectiva nova de vida que ele não teria. Queremos transformar a forma de pensar, de ver o mundo, e enxergar as coisas, pensar na solução de problemas e instigá-los a pensar”, declarou.
O projeto teve início em 2009 e adota três critérios para a admissão de alunos. O principal é a realidade socioeconômica do estudante. A escolha é realizada também com base na assiduidade e no desempenho escolar, sendo feita pelos professores das escolas.
“O programa é educacional, mas com ênfase social. Queremos dar a eles a oportunidade de estudarem e desenvolverem-se para o vestibular, para que entrem em universidades públicas, que são gratuitas”, explicou.
Para o físico e professor, os alunos entre o quinto ano do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio estão na faixa etária ideal para receberem o treinamento.
Os estudantes participam de atividades no contraturno escolar e fazem exercícios individuais e coletivos. A cada dois meses, eles têm que ler no mínimo um livro. “Se eles não gostarem de ler, eles não vão bem na redação do vestibular”.
Concomitantemente às atividades em sala, os alunos, como Vicktoria, desenvolvem projetos que serão apresentados no Encontro Nacional de Futuros Cientistas, em Sorocaba.
“Eles fazem tudo o que se pode imaginar: chuveiro elétrico a base de material recicláveis, uma hidrelétrica para fazer uma cidade inteira funcionar. Eles montam maquetes, protótipos e projetos de pesquisa, de dois a quatro alunos”, detalhou.
Aluna do terceiro ano do curso de química na Ufscar, Karen Ouveerney dos Santos entrou no projeto como voluntária em 2015. Ela disse ter ficado impressionada com a atenção que teve das crianças durante a palestra sobre o filósofo, químico e físico irlandês Robert Boyle.
“Dá para ver no olhar que eles têm interesse, mesmo que não saibam o que querem fazer quando crescer, eu vejo a esperança. Eles esperam que nós os ajudemos a alcançar os objetivos”, opinou.
Um dos responsáveis por trazer o programa a Tatuí, o vereador João Éder Alves Miguel (PV) comentou que os resultados do Futuro Cientista aparecerão em longo prazo.
“Talvez, vejamos o resultado e eu não esteja mais no exercício do mandato. Será dado em longo prazo. É um trabalho contínuo para que essas crianças tenham uma oportunidade de se desenvolverem intelectualmente”, concluiu.