Professores de 4 escolas mantêm greve





Cristiano Mota

Ana Maria, Raquel e Juliana fazem parte de movimento que luta para melhoria das condições da categoria

Há 36 dias, professores de quatro escolas estaduais de Tatuí entraram em greve em apoio à Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Na cidade, o movimento soma 40 educadores – todos efetivos – que estão se reunindo em assembleias em São Paulo.

Entre os professores locais que aderiram à paralisação, estão: Ana Maria das Dores (história), Raquel Aparecida Vivi Convento (português e inglês) e Juliana de Fátima Zanchetta (geografia).

As educadoras trabalham na Escola Estadual “José Celso de Mello” e conversaram com a reportagem de O Progresso na tarde de segunda-feira, 27, quando o movimento completou 34 dias.

A categoria é representada pela Apeoesp, entidade que está reivindicando uma série de medidas. Entre elas, fim do fechamento de classes e reabertura de salas; desmembramento de salas superlotadas; aumento dos vales de transporte e refeição; transformação de bônus em reajuste anual; nova contratação de professores temporários com garantia de direitos e sem “duzentena”.

Os professores solicitam, também, implantação da jornada do piso e o aumento de 75,33% no salário. Para as educadoras, o percentual solicitado pela Apeoesp não se refere a reajuste, como teria sido divulgado pela imprensa nacional. Conforme elas, a entidade está “brigando” para que haja equiparação salarial com as demais categorias com formação de nível superior.

Ainda de acordo com as professoras, a ação da categoria está centralizada apenas na associação. Por conta disso, os professores ligados ao CPP (Centro do Professorado Paulista), que tem unidade em Tatuí, não aderiram ao movimento.

Raquel informou que, até o ano passado, a Apeoesp, o CPP e entidades como a Apase (Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de São Paulo) e Udemo (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo) faziam parte de uma comissão paritária.

De acordo com ela, as entidades trabalhavam no plano de carreira, mas acabaram tomando decisões distintas. “A Apeoesp achou que os professores seriam prejudicados. Aí, as entidades se desvincularam”, explicou.

Em Tatuí, todos os professores são atendidos pela associação, embora uns sejam filiados e outros, não. A greve é composta apenas por educadores não ligados às demais instituições e tem como ponto principal a equiparação salarial.

Raquel sustenta que o governo não cumpre a lei do piso dos professores. Segundo ela, o Estado usa a “redação da lei a seu favor”, uma vez que estabeleceria quantidade de aulas diferente do seguido por outros Estados para o piso.

A professora afirmou que a legislação prevê que o professor deve ganhar “o equivalente a outros funcionários que tenham seu nível de escolaridade”.

Nesse caso, os educadores da rede estadual teriam de receber R$ 4.120 por mês. Na prática, conforme a professora, eles recebem, em média, R$ 1.900 a menos.

Nesse sentido, os 75,33% seriam necessários para haver equiparação de salários, seguindo o previsto na lei. “Na verdade, não pedimos um aumento, mas, como nosso salário está muito defasado, isso fica exorbitante”, falou.

Segundo Juliana, os educadores recebem, aproximadamente, R$ 12 por aula, com duração de 50 minutos. Por essa razão, o salário varia conforme a carga horária, com piso mínimo de R$ 1.300, já com os descontos.

Além do salário defasado, as professoras reclamam de lecionar mais aulas em São Paulo que em alguns Estados brasileiros. Conforme elas, essa situação ocorre por conta de que os educadores têm de cumprir um terço da carga horária em atividades “sem aluno” (preparação de aulas, atendimento aos pais, entre outros).

As educadoras dizem que o problema de São Paulo é o tempo de aula. Como as classes duram 50 minutos, mas resultam em pagamento de uma hora de aula, sobram dez minutos para serem compensados.

Por esse motivo, os professores da rede estadual têm de dar seis aulas a mais que os de outros Estados. “Está fora da lei, já que não dá um terço da carga horária fora da sala de aula”, afirmou a professora de geografia.

Juliana disse, ainda, que os professores estão acuados e que “há muita desinformação por parte da população que acompanha a greve”. Conforme ela, há críticas ao movimento da classe.

Ana Maria também reclamou da situação das escolas estaduais. Conforme ela, houve corte de verbas no início do ano letivo, prejudicando atividades como limpeza e manutenção. Com isso, as unidades estariam enfrentando dificuldades.

“Como é que a escola vai funcionar sem limpeza, papel higiênico, sulfite, tonner e giz? Sem contar as lousas e carteiras quebradas”, argumentou a professora.

A Apeoesp deflagrou a greve após assembleia no dia 13 de março. Desde então, reúne-se com professores do Estado, todas as sextas-feiras, no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) para discutir a continuidade.

Os professores de Tatuí participaram das assembleias desde o dia 13. Nesta semana, voltarão a reunirem-se um dia antes, na manhã de amanhã, quinta-feira, 30, por conta do feriado de 1º de maio, Dia do Trabalhador.

A paralisação na cidade aconteceu na semana seguinte ao início do movimento. Até a tarde de segunda-feira, 27, ela contabilizava adesão de 40 profissionais. Conforme antecipou a professora de geografia, no decorrer desta semana, “muito mais professores estão sinalizando que vão paralisar”.

Os educadores que estão fora das salas de aula desde o dia 24 de maio são das escolas estaduais “Lienette Avalone Ribeiro”, “Semíramis Turelli Azevedo”, “Chico Pereira” e “José Celso de Mello”.

“Tem escola que tem um ou dois professores porque há uma pressão para não haver adesão”, disse Ana Maria. Segundo ela, na cidade, o movimento teve início na “José Celso de Mello”, unidade que fica no CDHU (Conjunto Habitacional “Orlando Lisboa de Almeida”).

Em conversas com os colegas, os educadores da instituição obtiveram a adesão dos que lecionam nas outras instituições, indo a São Paulo regularmente.

A participação deles é custeada pelo sindicato, que envia uma “van” ou micro-ônibus para que os professores possam participar das assembleias. O transporte tem saída nesta quinta-feira, da frente do supermercado São Roque, às 10h.

Os professores interessados em acompanhar a reunião devem confirmar presença por meio de telefone. O número é o 98117-8222 (Raquel). “É recomendado que as pessoas liguem para verificar se ainda há vagas”, disse Ana Maria.

A professora de português e inglês disse que ainda não há previsão de quando a greve possa terminar. Conforme Raquel, a categoria não vai retomar às salas de aula enquanto não receber uma proposta concreta.

“Não temos nada. Disseram que vão fazer um plano de reajuste salarial escalonado em quatro anos, que vai ser lançado em julho, mas não falaram os valores”, alegou.

Ainda conforme a professora, o sindicato também quer brigar para melhorar a situação dos educadores temporários. Raquel afirmou que eles não têm direito a seguro-saúde e que trabalham, em geral, por um período de dois anos.

Também de acordo com ela, eles não podem ser recontratados antes de 200 dias do término do contrato anterior. Esse prazo é chamado pela categoria de “duzentena”.

Além do tempo, Raquel afirmou que os professores temporários não gozam de licença médica, só têm direito a duas faltas durante o contrato (que é de dois anos) e a dois dias em caso de falecimento de parente.

“Geralmente, um dia para o velório e outro para o enterro. Depois disso, têm que trabalhar”, falou.

Também segundo a professora, a Apeoesp verificou outras situações que implicariam em prejuízos à categoria.

Entre elas, a não possibilidade da licença-maternidade. “Isso é real. Há papeis que foram entregues para os veículos de comunicação, comprovando que essa situação ocorre”, argumentou.

Outras questões também serão debatidas pela associação na assembleia. A categoria deve voltar a discutir a possibilidade de continuar a greve se não for atendida.