Prisão de quadrilha e resgate de 7 crianças rendem prêmio a policial





Cristiano Mota

Familiar de cabo eleito PM do mês e coronel do CPI-7 colocam botom de homenagem por atuações

 

Duas ocorrências registradas pela Polícia Militar em abril renderam ao cabo Edilson dos Santos prêmio de destaque do mês. O policial que atua na 2ª Companhia da PM recebeu homenagem em solenidade realizada pelo comandante do 22º Batalhão do Interior, com presença de autoridades militares e civis.

O evento aconteceu no anfiteatro da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”. Para o cabo, ele marcou uma fase de superação. Santos teve um problema físico que o afastou da corporação por mais de um ano. O retorno dele aconteceu no mês de janeiro deste ano.

Na cerimônia, o cabo Raul Fernandes de Medeiros também recebeu láurea de mérito pessoal de segundo grau. A honraria foi entregue pelo capitão Kleber Vieira Pinto, da 2a Companhia, em virtude de trabalho conjunto ao policial eleito destaque do mês do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior).

“Trata-se de um reconhecimento muito importante para a autoestima e que está dentro dos valores da instituição”, explicou o comandante da 2ª Companhia do município. Kleber explicou que a premiação tem como objetivo reconhecer o esforço desempenhado pelos policiais como forma de incentivo.

“Nós não deixamos de valorizá-los, guardadas as devidas proporções das ocorrências. Essa (o título de policial do mês do CPI-7) é uma das formas”, comentou.

Segundo o capitão, a PM promove o reconhecimento de seus integrantes por meio de várias ações. Entre elas, elogios anotados nas fichas individuais. Conforme ele, a corporação realiza esse tipo de iniciativa para que os policiais “continuem aplicando a doutrina corretamente e realizando trabalho profícuo”.

A eleição do PM do mês é feita por meio de uma seleção prévia das ocorrências de maior impacto na sociedade e no ambiente policial. Posteriormente, a escolha segue critérios dos comandantes (de batalhão ou comando regional).

O nome escolhido é referendado pelo comandante do CPI-7, função ocupada pelo coronel Valdir Tardeli. Ele compôs mesa de trabalhados ao lado do tenente coronel Marcelo Alves Marques; do vice-diretor da Fatec, Anderson Luiz Souza; do presidente do Conseg (Conselho Municipal de Segurança), Roque Bráulio Antunes; do major Benedito Tadeu Galende; e da presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial), Lucia Bonini Favorito.

Na solenidade, o coronel destacou as dificuldades enfrentadas pela corporação para o combate ao crime. Mencionou que, atualmente, existe uma inversão de valores e disse estar triste pela falta de reconhecimento da sociedade.

Também citou que em outros países, como nos Estados Unidos, os policiais têm maior reconhecimento de governantes e destacou o número de óbitos contra PMs. De acordo com ele, no país, há um assassinato de policial a cada 36 horas.

“O mais duro é que nós nos acostumamos com isso, além de que a sociedade não vem reconhecer”, disse, fazendo menção à participação dos convidados no evento.

O coronel agradeceu a presença da imprensa e do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, secretário municipal de Governo e Segurança Pública e Transportes, Onofre Machado da Silva Júnior, e dos delegados Francisco José Ferreira de Castilho (titular do município) e Paulo Cesar Tolentino.

À reportagem, Tardeli explicou que o comando utiliza vários critérios para escolher o policial do mês. “São sete batalhões que tenho no meu comando. Então, tenho que avaliar o grau de comprometimento e de risco da ocorrência”, falou.

Ele também leva em consideração o reconhecimento dos demais policiais com relação às ocorrências. “O objetivo é nós engrandecermos nosso policial. Queremos fazer com que ele se sinta valorizado. Então, nada melhor que elegermos o de mais destaque para trazer uma energia a eles”, comentou.

Tardeli disse que a categoria tem se ressentido pela falta de apoio da sociedade. Por essa razão, ele destacou o acompanhamento da solenidade pela imprensa.

“Fiquei feliz, mas a população precisa também prestigiar quem a está defendendo. Existem pessoas ruins em todo lugar, todas as áreas da sociedade. Nós temos também alguns poucos e que estão sendo punidos”, comentou.

O comandante do CPI-7 reforçou a importância do reconhecimento, uma vez que os policiais precisam disso para “continuar arriscando suas vidas”. “A cada um dia e meio um policial morre no Brasil e isso é muito ruim”, destacou.

Há nove anos e seis meses na corporação, Santos encarou a homenagem como prova de uma superação. O cabo precisou ficar afastado por um ano e sete meses da polícia por conta de rompimento do ligamento de um dos joelhos. Ele teve o problema quando participou de ocorrência na Fundação Manoel Guedes.

Na ativa desde janeiro, o cabo comentou que participou de uma série de ocorrências. “Eu tinha que dar a volta por cima, eu precisava disso”, ressaltou.

Junto com a equipe de Tatuí ele contabiliza a prisão de mais de 150 pessoas. “É um número recorde para a região”, destacou o cabo. Dentre essas ocorrências, uma delas chamou a atenção do policial que resolveu apurar os casos de explosões a caixas eletrônicos registrados nas cidades do entorno.

“Elas ultrapassaram o limite do município, mas nós estranhamos o fato de não ocorrerem em Tatuí e começamos a levantar informações sobre isso”, contou.

Com apoio da Polícia Civil, o cabo participou da prisão de sete pessoas acusadas de integrar quadrilha especializada. A detenção ocorreu no dia 21 de abril, no bairro Água Branca, em Boituva, onde cinco pessoas foram detidas. Outras duas receberam voz de prisão em Guareí e também fariam parte do esquema.

Na ocasião, os policiais apreenderam grande quantidade de armamento. Entre eles, três fuzis. “Se eles tivessem nas mãos de mais marginais, provavelmente, muitos dos policiais não estariam mais aqui”, afirmou o cabo. Santos informou que o grupo é suspeito de ter praticado mais de 30 roubos.

“Essa ocorrência foi a melhor da minha carreira. Em contrapartida, na semana seguinte, participei de uma situação totalmente familiar”, comentou, referindo-se a detenção de duas mães acusadas de abandonar sete crianças.

Santos encontrou meninos e meninas com idades entre dez meses e dez anos de idade sujas e com fome. Elas estavam em uma residência no bairro Enxovia. Conforme o policial, além de desnutridas, algumas crianças estavam com sarna.

Junto com um colega, o cabo aguardou por três horas a chegada das responsáveis. As mulheres foram detidas, mas liberadas após pagar fiança. Já as crianças foram alimentadas pelo policial e entregues ao Conselho Tutelar.

“Eu tenho uma filha, minha menininha. Não poderia ver as crianças do jeito que estavam e não fazer nada. Então, tudo de bom está acontecendo neste ano”, disse.

Santos entra em período de férias nesta sexta-feira, 29. Antes disso, ele fará um agradecimento à equipe “C”, a qual ele pertence, por conta do papel cumprido por ela.

“Nós estamos conseguindo tirar da sociedade pessoas nocivas, fazer o policiamento preventivo que é atividade-fim da PM. E vamos continuar fazendo tudo desta maneira para que possamos garantir segurança”, falou.

A homenagem recebida em Tatuí soma-se às entregues pela corporação ao cabo. Em Itu, ela recebeu láurea por conta de ocorrência envolvendo escuta telefônica. Na ocasião, Santos auxiliou o Gaeco (Grupo Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), composto por membros do Ministério Público.

Na região de Tatuí, ele recebeu mais uma condecoração, como policial do batalhão. A de policial do mês do CPI-7 é a segunda da região e a mais representativa da carreira.

“As premiações são incentivo para o policial continuar na profissão, porque financeiramente, o PM é diferente de um trabalhador da iniciativa privada”, comentou.

Santos disse que os policiais não recebem aumento salarial, conforme os anos de profissão e a especialização. “As nossas premiações são honrosas, de mérito pessoal e uma forma de o comando nos incentivar a continuar”, declarou.

Para o cabo, o reconhecimento mais importante vem de dentro da corporação (do público interno). Entretanto, quando o público externo valoriza, Santos disse que a sensação é “muito gratificante” para o policial militar.