Prefeitura doa materiais para canil da GCM





Guarda Civil

Marley já foi assunto de reportagem ao encontrar drogas

 

A GCM (Guarda Civil Municipal) recebeu novos equipamentos da Prefeitura, para treinamento de animais do canil. Em abril e agosto, dois cachorros da raça pastor-alemão cinza também chegarão para substituir alguns que serão aposentados.

Os cães terão potencial genético diferenciado, com “linhagem”, para que possam auxiliar no patrulhamento e combate ao tráfico.

O guarda Juceil Batista Rodrigues informou que os oficiais receberam macacão “bite suíte”, linguiça para treinamento, coletes de cães, guias, “enforcadores” e brinquedos para treino.

O macacão é usado para proteger o corpo do adestrador. “É uma roupa para receber mordida e a gente não se ferir”, afirmou Rodrigues.

De acordo com a GCM, o utensílio consiste num macacão comum, só que bem mais resistente, que serve, também, para “ajustar” as mordidas dos cães.

O “bite suíte” permite cobertura total, pois os guardas oferecem várias partes do corpo para os cachorros morderem.

“Se vamos treiná-los a morder o braço, ficamos sempre com ele esticado, mostrando-o ao cão a ser adestrado. Se for a perna, a gente começa a mostrar a perna e esconder os braços e o resto do corpo; com as costas, é a mesma coisa”, explicou o supervisor do canil da GCM, Geraldo Coelho.

De acordo com ele, o direcionamento das mordidas prioriza o braço, “porque, como a gente trabalha mais nessa parte de policiamento, se a pessoa (que está sendo perseguida) está com uma arma na mão, o cão deve ir direto ao antebraço, para imobilizar o indivíduo”.

Também pode ser direcionado para outras partes do corpo, conforme a situação. A GCM informou que, se uma pessoa está em fuga, o cão será direcionado para derrubá-la, pegando-a pela perna.

Coelho disse que, às vezes, mesmo com o macacão, os guardas sentem a pressão da mordida, quando um cão “acerta forte”.

As linguiças (ou salsichas) são chamadas assim pela forma delas, por lembrarem esses alimentos. De acordo com a GCM, é o primeiro material que os cachorros filhotes mordem, para começarem a se adaptar e encaixarem as mordidas.

Segundo Coelho, a GCM trabalha, também, com outros materiais para ajustes as mordidas. Alguns são mais moles, mais largos, dependendo do tamanho da boca do cachorro.

Os coletes são colocados nos cães em patrulhamentos feitos pela GCM. As guias e “enforcadores” servem, basicamente, ao transporte dos animais.

Os brinquedos e bolinhas são utilizados para auxiliar nos treinos dos cães, porque, sem recompensa, eles não obedecem aos comandos.

Adestramento

De acordo com Coelho, cada guarda tem o cão dele, e cada um faz o treinamento no próprio animal. O canil conta com sete cães, mas somente quatro estão na ativa.

“Aquela coisa de cachorro se acostumar com você, e você se acostumar com o jeito do cachorro. Eu posso até adestrar para outro guarda e vice-versa, só que fica aquele vínculo com o cão. Então, é melhor cada um com o seu”, ressaltou Coelho.

De acordo com a GCM, o ato de treinar parece difícil, mas não é. Os adestradores utilizam o método da “brincadeira” e petisco.

“Os movimentos que a gente tira deles são espontâneos, a gente captura isso daí, a espontaneidade. Damos o petisco, ou o brinquedo, no momento exato em que ele fez o que queríamos. Então, aprendem muito rápido”, contou Coelho.

Os guardas explicaram que o macacão e os equipamentos recebidos pela Prefeitura também são utilizados como brindes aos cães.

Se um guarda está treinando proteção e quer que o cão pegue alguma parte do corpo, o objetivo é treinar para que ele morda exatamente o que o treinador quer.

Se o animal corresponder e der a mordida “direito”, com a boca fechada, o guarda solta o macacão imediatamente e deixa o cão pegá-lo como prêmio.

Com os outros equipamentos, acontece a mesma coisa: cada vez que o cão faz o movimento correto, o treinador solta e deixa-o brincar, porque, segundo Coelho, “isso é caça para os cães”.

“Ele tem que ganhar na hora em que pega, no local que a gente conseguiu direcionar. Ele pegou bem, a mordida pegou justa, a boca fechou firme, ele leva como prêmio”.

“Ele já vai achando que é uma caça, para pegar para ele. Na hora em que eles pegam os equipamentos, já levam para o box deles. Alguns deitam em cima e ficam guardando para ninguém pegar”.

Conforme os guardas, sempre, o cachorro tem que ganhar, nunca pode perder quando treina proteção. Se ele começar a se frustrar, o rendimento cai, ele vai perder a mordida e começar a se desinteressar pela “brincadeira”.

Os adestradores afirmaram que é necessário estimular muito o cão a fazer algumas brincadeiras com o intuito de dar brindes depois, pois só assim o cachorro vai querer ganhar sempre.

Segundo Rodrigues, os treinos são feitos baseados nos instintos de cada raça. Se o cachorro é de caça, o treinamento será baseado nisso.

Rodrigues explicou que o treinamento de cães é iniciado quando o animal tem perto de seis meses de idade. Pode começar antes, mas é com essa idade que eles apresentam “maturidade” um pouco maior, para entender os comandos.

O tempo de preparação de cães de proteção, que trabalham a obediência, faro de entorpecentes, explosivos e proteção, é de um ano, em média, com manutenção diária até a aposentadoria.

Os cães de proteção são os que saem em patrulhamento, em campos de futebol, bailes e festas.

“Na verdade, todo o tempo em que os cães ficam no canil eles ficam treinando, nunca param de treinar”, acrescentou Coelho.

De acordo com Rodrigues, o tempo médio que um cachorro fica na “ativa”, ajudando a GCM, é de sete anos, mas isto pode variar muito.

O adestramento, de faro, é feito com uma caixa de madeira, em que os guardas colocam drogas dentro (crack, cocaína ou maconha).

O cão não consegue visualizar o que está dentro da caixa fechada, a qual possui um buraco pequeno, onde cabe somente o focinho.

A droga é colocada dentro do objeto sem o cachorro ver. Depois, quando já estiver olhando, mas sendo segurado por outro GCM, o treinador mostra o brinquedo favorito dele e fica “instigando-o” a ir até a caixa.

O cão é solto e, quando estiver chegando perto da caixa, o treinador joga o brinquedo pelo buraco e o animal fica cheirando, tentando pegar, mas não consegue. Depois que o cão faz um sinal, como raspar com a pata o local farejado, o treinador pega o brinquedo e dá para ele.

Essa situação, segundo Coelho, é repetida inúmeras vezes, com várias caixas e em vários lugares diferentes, antes de o cachorro sair em patrulhamento.

De acordo com Coelho, mesmo quando a GCM sai para apreender drogas, é importante, depois que o cão fareja e acha o entorpecente, que o treinador dê o brinquedo, para não desestimular.

Mesmo se ocorrer de não existir drogas no local em que foram procurar, os guardas levam uma pequena porção junto com eles para esconder e deixar o cão achar, para ganhar a recompensa.

“Se eu sair em uma ocorrência, duas ocorrências e o cachorro voltar sem nada, ele vai pensar que está ficando chato e vai se desinteressar. Então, ele tem que subir na viatura achando que vai voltar brincando”.

“É até engraçado, porque, às vezes, a gente está na rua e ele (cachorro) conseguiu achar droga, estamos prendendo alguém e tem um guarda brincando com o cão. Mas, é importante parabenizar e brincar, para estimular”, ressaltou Coelho.

O tempo de treinamento é um pouco mais rápido que o de proteção, variando entre seis e sete meses. Entretanto, é necessário treinar o cão diariamente, até a “aposentadoria” dele.

Segundo Rodrigues, o tempo de treinamento depende da procedência dos cães. Por isso, é importante que os animais tenham “linhagem”.

Coelho contou que, antigamente, o canil ganhava muitos cachorros, e os GCMs não sabiam de onde vinham, não tinha histórico dos avós e pais, o que dificultava o treinamento.

“Agora com essa compra da Prefeitura, nós já temos a linhagem de cão de trabalho. Então, eles podem ganhar campeonatos, já são cachorros de procedência de trabalho”.

“A tendência é aguentar mais, eles estão voltados para isso. A gente ganha muito, por exemplo, quando estes cachorros que vão chegar estiverem com sete anos. Creio eu, eles estarão muito espertos e fortes ainda”, afirmou Coelho.

Os cães do canil também participam de diversas competições fora da cidade. Aqui em Tatuí, os guardas fazem apresentações de abordagens, arcos de fogo, resgate a vítimas e faro, entre outras, principalmente em escolas e no asilo.

Marley

O cão Marley, que já foi assunto de algumas reportagens pelo desempenho ao encontrar drogas, está prestes a se aposentar. De acordo com Rodrigues, Marley foi o cachorro que mais deu resultado no canil.

Conforme Rodrigues, ele está treinando um labrador, chamado Thor, para ficar no lugar de Marley, o qual em aproximadamente três meses se aposenta.

O guarda afirmou que várias pessoas já foram atrás da GCM para adotar o animal, mas é ele quem vai ficar com o cão.

“Ele é um cão de faro. Esse ‘cara’ prendeu mais traficantes aqui na cidade do que a GCM inteira. Chegou uma época em que o cachorro precisou trocar de lado no canil para ficar mais longe do muro, pois tínhamos medo de jogarem alguma coisa, algum veneno para ele”.

“Marley fez um ótimo trabalho para a cidade, sempre conseguiu localizar drogas nos lugares mais improváveis, ele é muito odiado por traficantes”, finalizou Coelho.