População indígena em Tatuí  cresce 125,42%, indica IBGE

Autodeclarados somam 133; saiba quantos habitam a região

Artefatos expostos em 2015 no Museu "Paulo Setúbal" evidenciam presença de indígenas em Tatuí (Arquivo Prefeitura Tatuí/Evandro Ananias)
Da reportagem

Cento e trinta e três do 1,7 milhão de brasileiros que se autodeclaram indígenas no Censo 2022 vivem em Tatuí. Os descendentes dos primeiros habitantes do país representam 0,11% da população total da Capital da Música, de acordo com o Panorama IBGE.

Ao todo, o estudo identificou 1.877 indígenas vivendo na RMS (Região Metropolitana de Sorocaba). Desse número, a maioria reside em Sorocaba. São 635 pessoas autodeclaradas indígenas. Em seguida, aparece Tapiraí, com 147 indígenas entre os habitantes.

Tatuí ocupa a terceira posição entre os 27 municípios que compõem a RMS, registrando aumento na população que se intitula indígena. A autodeclaração é utilizada para categorizar pessoas que vivem em aldeias ou fora delas, inclusive em áreas quilombolas e em cidades.

De 2010 para 2022, o número de pessoas desse grupo subiu 125,42% na cidade. A população indígena saltou de 59, no primeiro período, para 133, no segundo.

Em termos percentuais, o aumento foi de 95,2% no comparativo dos 12 anos. No censo anterior, os indígenas representavam 0,05% da população, passando para 0,11 na atualização do novo estudo.

Divulgado em dezembro de 2023, o levantamento mostra que 4.832 cidades brasileiras têm indígenas entre os habitantes. Ao todo, o Brasil possui 5.565 municípios.

Na RMS, Tatuí fica à frente das sub-regiões 1 e 2, passando cidades como Itapetininga, que tem 127 indígenas, São Roque, com 95, e Votorantim, com 80 pessoas autodeclaradas índias.

Jumirim é a cidade com menor número de indígenas, somando um único habitante. Em seguida, aparecem, entre as cidades com menor representatividade: Alambari (3 indígenas), Alumínio (7), Sarapuí (9), Cesário Lange e Pilar do Sul (10 cada), Capela do Alto (11) e Tietê (12).

Em Porto Feliz, o censo apontou 14 indígenas residentes; Iperó, 19; Araçariguama, 21; Piedade, 23; Araçoiaba da Serra, 33; Cerquilho, Salto de Pirapora e São Miguel Arcanjo, 34 cada; Mairinque, 51; Boituva, 69; Ibiúna e Salto, 75 cada; e Itu, com 115 pessoas autodeclaradas indígenas, ocupando tanto a área rural como a urbana.

Para o pesquisador acadêmico Cristiano Mota, os dados do censo podem estar ligados a dois movimentos. O primeiro, mais recente, diz respeito à mobilidade indígena; o segundo, à etnogênese, ou “emergência étnica”, em razão de uma “tomada de consciência”.

“A mobilidade refere-se aos movimentos e migrações dos povos indígenas no Brasil em busca de recursos, como terra, água, alimentos e outros itens essenciais para sua sobrevivência e desenvolvimento cultural”, inicia ele.

“Pode ser motivada por diversos fatores, como conflitos com outras comunidades, busca por melhores oportunidades ou a proteção de territórios”, acrescenta.

Já a etnogênese é um fenômeno complexo e multifacetado, que pode ser influenciado por diversos fatores, como a busca por reconhecimento e direitos, a valorização da diversidade cultural e a reação contra a discriminação e o preconceito.

“A emergência étnica é um processo importante para a afirmação da identidade e da cultura dos povos indígenas no Brasil, e pode contribuir para a promoção da diversidade e da inclusão social”, explica.

Mota, que desenvolve pesquisas a respeito da história de Tatuí desde 2011, destaca que índios vivendo na região não são novidade. Segundo o jornalista, a presença deles remonta à formação da cidade.

Membro da Cátedra “Otávio Frias Filho” de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade, mantida pelo jornal Folha de S. Paulo em parceria com a USP (Universidade de São Paulo), o jornalista realiza investigações em duas áreas: comunicação e história.

Na primeira, compara estudos de jornalismo científico na América Latina; na segunda, escreve a respeito da contribuição da população preta no processo de construção do município de Tatuí.

Como exemplo, o pesquisador destaca a existência de registros históricos a respeito dos primeiros afrodescendentes na região. No livro “Viagem pelo Brasil”, por exemplo, Mota cita trecho do zoólogo alemão Johann Baptist von Spix, que menciona que os índios eram chamados, em geral, de caboclos.

O relato é parte da expedição que o médico fez junto com o também alemão Carl Friedrich von Martius, entre 1817 e 1820, por várias partes do país. Em um dos percursos, os estrangeiros visitaram a Real Fábrica de Ipanema.

O pesquisador menciona, ainda, que a palavra “caboclo” aparece no “Recenseamento do Brazil em 1872”, um estudo publicado em 12 volumes com mais de 8.500 quadros estatísticos.

Coordenado pela Diretoria Geral de Estatística (criada por meio da lei de 9 de setembro de 1870), esse levantamento é considerado o marco histórico inicial da estrutura do Sistema Nacional de Estatística, do qual o IBGE, desde os anos 30, tem sido o elemento central.

De acordo com o documento, 11 anos após a elevação de cidade, Tatuí contava com 12.071 habitantes. Os índios, que aparecem descritos como caboclos, somavam 808, equivalentes a 6,69% da população.

Na época, a contagem incluía a categorização por raça, sendo ela: brancos, pardos, pretos e caboclos. O total soma pessoas livres e escravizadas.

Embora tenha havido crescimento no intervalo de tempo entre os censos, os dados de 2023 revelam queda vertiginosa dos indígenas no município na comparação com 1872. A população desse grupo, na cidade, teve redução de 83,54% em números absolutos.


Em 150 anos, população preta local subiu de 2 mil para 5 mil


‘Panorama’ apresenta Tatuí por cor e raça