Em janeiro deste ano, Tatuí registrou 1.232 admissões e 1.218 demissões, contabilizando saldo de 14 novos empregos gerados com carteira assinada. Estes são dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cadeg), que buscam apresentar panorama do mercado de trabalho de todos as cidades do país.
O resultado de 2014, apesar de ser positivo, está bem abaixo do valor registrado em 2013, quando foram criados 209 novos empregos formais em Tatuí. Para o secretário municipal da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Ronaldo José da Mota, uma das explicações para a diferença entre os índices é a retração no mercado.
“Todos nós sabemos que a economia e o processo de desenvolvimento industrial no país como um todo vêm atuando numa recessão. Essa informação não é jogada às claras, mas a gente entende que existe, sim, uma retração no mercado”.
De acordo com dados do Caged, das 1.232 admissões realizadas em janeiro de 2014, 304 foram da indústria de transformação, 166 da construção civil, 339 do comércio, 390 de serviços, 26 na agropecuária, e os demais estão divididos entre administração pública, mineração e serviço industrial de utilidade pública.
Só o comércio demitiu 366, gerando saldo negativo de menos 27, na indústrial houve 312 desligamentos, um saldo de menos 8; a agropecuária demitiu 61, resultando em um saldo de menos 35; e a construção demitiu 91, ficando com saldo positivo de 75.
O secretário explica que não há um crescimento na oferta de vagas, mas, sim, uma reposição de mão de obra, pois o mercado não está se expandindo.
Segundo ele, no comércio, é comum ter essa queda no início do ano, já que há movimentação intensa entre os meses de novembro e dezembro, quando as constratação sofrem um “boom”.
Embora não veja possibilidade de expansão do mercado de trabalho, Mota acredita que, neste momento, o país está em uma bolha de investimentos por conta da Copa do Mundo. A possibilidade de redução é inevitável à medida que se investe menos ao longo do tempo.
“Setores que estão ligados diretamente às demandas nacionais, como construção civil, indústria e têxtil, tendem a sofrer mais com as ações do governo e dos mercados exteriores. Logo, para avaliair o desempenho do município, é preciso ver como está o desempenho do país. O que acontece em Tatuí é um reflexo do que está acontecendo no Brasil”, argumentou o secretário.
Para se ter ideia, o carro-chefe do município é a Indústria, em termos de representatividade e geração de emprego. Portanto, se existe redução na demanda do mercado, as empresas produzem menos e passam a demitir os funcionários.
Por outro lado, são essas empresas que também elevam os índices de empregabilidade ao contratar mais funcionários quando a demanda é maior.
Mota explica que essa é a realidade de diversos municípios, já que todos, em maior ou menor grau, são influenciados pela forma como o mercado caminha.
“Existe uma tendência de mais demissões, sim, por conta da política do governo federal em reduzir investimentos, o que faz com que as empresas acabem retraindo”.
Na opinião do secretário municipal, os resultados em termos de emprego poderão ser analisados melhor após o período das eleições presidenciais deste ano.
“Essas demandas de agora, pré-eleição, vão acabar. Acredito que vamos sentir os efeitos mais em 2015. É importante lembrar que isso é uma questão natural e que o município está acostumado com essa sazonalidade”, frisa. O secretário também ressalta que o próximo ano será mais difícil, pois haverá uma redução orçamentária do governo federal.
“Podemos esperar que, em 2015, a partir da redução do orçamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o saldo de empregos seja negativo no município. Essa ação do governo tem um forte impacto em Tatuí, e nós vamos começar a sentir isso no ano que vem”.
O diretor regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Antônio Carlos de Morais, também acredita que as reduções do número de empregos gerados no município são sazonais.
Ele concorda que há mesmo uma retração no mercado como um todo. “Apesar de ainda estarmos iniciando o ano, já dá para sentir que houve sim uma retração”.
Por outro lado, na opinião dele, pode haver aumento no número de contratações feitas pelo setor da construção civil, pois novas empresas estão vindo se instalar no município, o que gera procura por mão de obra.
“É difícil dizer a quantidade de novos empregos que serão gerados, isso só é possível mensurar quando as empresas chegarem”, pondera Morais. Já o comércio e o setor de serviços devem permanecer estáveis em relação ao surgimento de novos empregos, segundo o diretor regional.
Falta qualificação
Embora não haja uma oferta intensa de novos postos de trabalho, nem uma expectativa para isso, o maior problema que o mercado enfrenta é a falta de mão de obra qualificada, tanto em Tatuí como no Brasil de modo geral.
A presidente da Associação Comercial e Empresarial (ACE), Lúcia Bonini Favorito, explica que essa não é uma realidade apenas do comércio. “Muitas vezes, há vagas disponíveis, mas não há pessoas qualificadas para assumirem esses cargos. Isso acontece tanto no comércio lojista, como em padarias e açougues”.
O secretário Mota reforça que a indústria de Tatuí também encontra dificuldade em manter os funcionários. “O que sempre falamos é que os profissionais têm que buscar qualificação, e o município oferece esta oportunidade”.
Para o diretor regional do MTE, além do problema da falta de qualificação dos funcionários, há o fenômeno da falta de perspectiva, ou seja, “a empresa não dá contrapartida para o empregado, o que gera desinteresse e falta de motivação”.
“As empresas, tanto do setor industrial quanto do comércio, precisam investir em um plano de carreira para seus funcionários. Dessa forma, a pessoa sabe que vai poder crescer dentro da empresa, e isso faz com que ele trabalhe melhor e tenha vontade de permanecer na organização. Em Tatuí, vemos que algumas empresas fazem isso, mas ainda não poucas”, reforça Morais.