Neste 7 de setembro, Dia da Pátria, ocorreram novas manifestações por todo o país, quase todas marcadas por críticas ao governo do agora efetivo presidente Michel Temer. Por diversos fatores, compreensível.
Entre as muitas razões a sustentar a insatisfação, certamente, está a crise financeira, cada vez mais reconhecida – pela atual situação, ex-oposição, e pela atual oposição, ex-situação – como a maior da história do Brasil.
A indisposição para com o governo, portanto, começa pelo fato de que, por enquanto, nada mudou. Sucede que, em tão pouco tempo, nada poderia mudar mesmo. Se o político a assumir o governo fosse Mahatma Gandhi, também ele estaria muito mal avaliado no momento.
Daí a observação de que as paradas se formam tanto de descontes – porém, desinformados – cidadãos comuns quanto de engajados políticos com algum laço de proximidade com o ex-governo, ou, pelo menos, com os organismos apoiados pela administração anterior, como os chamados “movimentos sociais” e os sindicatos.
Como costumeiro, são os espertinhos – sorrateiramente motivados por interesses particulares – influenciando o povão, como se defendessem interesses públicos.
Em simultâneo, também funciona o muito competente marketing do ex-governo, que tem conseguido “vender” a ideia de golpe, assim sensibilizando e, por conseguinte, ganhando a simpatia de outra parcela significativa da sociedade – especialmente a da classe artística.
Esse marketing é muito bom, sim, e o resultado está aí, nas ruas, para ser visto. Esse poder de comunicação só não foi suficiente para convencer, por exemplo, que o mensalão e o petrolão são apenas intrigas da oposição, ou um grande complô armado pela “elite branca” e pela sempre malévola mídia para derrubar esse governo tão honesto quanto bonzinho…
Nem por isso, contudo, a imagem de “coitadinho”, de injustiçado, de “Robin Hood” tupiniquim deixou de colar no PT aos olhos de muita gente – claro, em especial daqueles que, de uma forma ou de outra, beneficiaram-se com o assistencialismo oportunista do ex-governo, com destaque para os agraciados com o Bolsa Família.
Por sua vez, também é muito mais fácil ser tolerante com o ex-governo – e, assim, engrossar o atual coro dos descontentes – quando se tem estabilidade no emprego, permanecendo-se distante, portanto, do medo do desemprego ou da falência.
Para completar, ainda há os jovens, tanto influenciados pela tendência real da política de esquerda, expressa de maneira inequívoca dentro das faculdades como um todo, quanto imbuídos do natural – correto e sempre bem-vindo – desejo de um “mundo melhor”, mais “justo” – algo identificado, equivocadamente, como virtude exclusiva, justamente, da tal esquerda.
O resultado é um monte de gente se manifestando contra o atual governo. E, então, pode-se questionar: onde estão os apoiadores dessa administração e quais as consequências das manifestações do tipo “Fora Temer”?
Especulando-se, claro, pode-se pensar que os favoráveis e os que aguardam para poderem melhor avaliar a situação entendem que já deram suas contribuições, anteriormente saindo às ruas e protestando contra o caos econômico e a corrupção envolvendo o governo anterior.
Agora, como todos que têm mais o que fazer, não estão desfilando nas ruas, mas correndo atrás para pagarem suas contas do mês – quando ainda têm emprego ou resistem com seus negócios. Os demais estão perdidos, momentaneamente sem perspectiva, seja gritando nas ruas ou deprimidos em casa…
Outro aspecto é que não ajuda em nada, em meio ao turbilhão de problemas, a Polícia Militar sair espancando pessoas sem justificativa. Essa cultura de truculência, incentivada ao longo da ditadura e que resiste até hoje, só vai servir aos interesses da atual oposição.
Em outras palavras, o cidadão que deixa de se manifestar para começar a depredar ou agredir os outros, simplesmente, deveria ser detido e denunciado na Justiça. Ponto! Não é concebível que o sistema de segurança sirva à insegurança, que o órgão responsável por manter a paz acabe instigando a guerra!
Ainda, as possíveis consequências da instabilidade política permitem outro ponto de reflexão, focado nas intenções de seus maiores agentes da oposição, sustentados pela galera incauta.
Para qualquer indivíduo não completamente ignorante, é claro que as incertezas políticas influenciam completamente a economia, a partir da qual a crise deve ser combatida. Assim, quanto mais instabilidade política, mais tempo para se recuperar o país.
E, então, ficam evidentes as intenções dos que sabem o que fazem nas manifestações: eles pouco se importam com o Brasil, ainda – e sempre – motivados por um projeto de poder – jamais de governo – tão falido quanto oportunista.
Eles sabem – e é incrível que os incautos não enxerguem isso – que a crise vem de anos, tendo apenas estourado em seguida à eleição de 2014. Hoje, o que acontece é alguém entrando em uma casa praticamente demolida, assumindo um bem inestimável, mas ruindo.
Para reconstruí-lo, obviamente, há de se sentir muito transtorno, muita insatisfação, como sentem todos os abrigados em uma casa com as paredes trincando, o telhado feito peneira e a fundação engolindo o piso.
Muito trabalho deverá ser realizado – como todos sabem ser normal em qualquer reforma, em qualquer “obra”. E reconstruir o Brasil, certamente, será uma das maiores obras de sua história.
Se o presidente Temer será arquiteto, engenheiro, pedreiro e servente, enfim, se será mestre de obras suficiente para executar essa imensa reedificação, vai se saber ao longo dos próximos anos.
Por ora, cabe à população lembrar que, como na construção civil, “para melhorar, antes, é preciso piorar”, e, ao presidente, ter a grandeza de ir a público e registrar, clara e cabalmente, que não será candidato à reeleição.
Muito mais importante, porém, dispor-se às tais “medidas impopulares”, tão necessárias ao reerguimento do país. Por isso, pode-se concluir que o péssimo pode ser muito bom. Isto porque, sendo impopulares, as medidas lhe renderão um péssimo índice de popularidade, mas, com o tempo, serão ótimas ao Brasil.
Finalmente, se bem edificada, também o tempo saberá permitir o reconhecimento à obra desse atual governo, ainda que de forma póstuma.