
Tatuí 200: Outros fatos, outras histórias
Cristiano Mota
O verde das lavouras de cana dominou as terras, transformando simultaneamente o comércio tatuiano e diversificando as atividades locais. O povoado em pleno desenvolvimento passou a contar a partir de 1828 com um novo tipo de estabelecimento: as tabernas (mencionadas como tavernas).
Cinco famílias sustentavam-se desse negócio, onde eram vendidas, além da tradicional “aguardente da terra” (a cachaça), a “aguardente de reino” (bebida portuguesa importada, destilada a partir da uva 39 e que, então, representava uma novidade no Brasil).
Nesse mesmo período, a estrutura ocupacional e demográfica da freguesia se expandiu. O número de fogos saltou de 287 para 324, refletindo um crescimento populacional de 12,87% na comparação de 1827 a 1828, quando a população de 1.608 pessoas vai para 1.815. Paralelamente, surgem novas especialidades profissionais. Os “arrecinos”, os “selleiros”, os “carapinas”, os tecelões, os oleiros e os carpinteiros estão incorporados na econômica local. Essa diversificação – que ia do trabalho em couro e madeira à cerâmica e têxteis – demonstra como o povoado começava a superar sua vocação estritamente agrícola, organizando-se em moldes urbanos mais complexos, onde tabernas, oficinas e residências multiplicavam-se em ritmo acelerado.
O perfil socioeconômico dos moradores mantinha-se semelhante ao dos primeiros anos de formação da freguesia. Em 1829, quando o coadjutor Manuel Teixeira de Almeida se muda para Tatuí para auxiliar o pároco, a população era de 1.885 habitantes. Dentre eles, apenas uma família, composta por duas pessoas pardas, vivia de esmolas. Nesse mesmo ano, das 339 propriedades registradas, 76,69% (ou 260 fogos) eram destinadas à atividade agrícola.
Embora a lista nominativa apresentasse 337 fogos, dois adicionais foram incluídos na contagem por conterem informações detalhadas dos moradores, apesar de estarem sem numeração.
Em 1830, a freguesia de Tatuí experimenta mais um salto expressivo em seu crescimento demográfico. Os registros indicam a chegada de 27 novas famílias, provenientes majoritariamente de Sorocaba, Porto Feliz e da própria vila de Itapetininga. Dentre essas, chama atenção a presença de 14 pessoas, divididas em dez núcleos familiares, e classificadas como “mendigas”, incluindo uma viúva de 57 anos – fato que evidencia o surgimento de um grupo de moradores em situação de vulnerabilidade, condição até então pouco visível nos registros anteriores.
Esse movimento migratório fez o número de fogos atingir 373, que abrigavam um total de 2.047 habitantes. Desse contingente, 692 eram chefes de família, 941 filhos, 87 agregados e 327 escravos. Observa-se, ainda, a existência de núcleos sob o comando de mulheres e de pessoas pardas, o que confere à composição social um traço importante de diversidade e autonomia.
O crescimento populacional verificado entre 1820 e 1830, com um acréscimo de 183,12% no número de habitantes, não se restringe ao aspecto demográfico estrito, manifestou-se também nas estruturas institucionais locais.
Em 1830, os registros paroquiais indicaram a realização de 126 batizados, 20 casamentos e 40 óbitos, números que atestam a intensificação das práticas administrativas associadas ao ciclo vital da população. Esses dados evidenciam o papel de Tatuí, à época, como polo de atração de pessoas e espaço de consolidação agrária.
A produção agrícola, aliás, base da economia local, apresenta nesse mesmo ano os seguintes rendimentos declarados: milho, 10$310 mil réis (em alqueires); feijão, $430 réis, e arroz, $512 réis, totalizando 11$252 mil réis. O montante arrecadado revela o predomínio do milho como principal cultura, produto que sustentava a dieta da população e garantia a alimentação dos animais.
Nesse cenário, a estrutura social da freguesia – marcada pela pequena lavoura familiar, pelos grandes engenhos escravistas e pela presença de agregados, mesclando brancos, pretos e pardos – consolida-se sem sobressaltos. Já a ocupação do território se dá às custas de uma longa tensão.







