O saudoso professor e artista plástico tatuiano Josué Fernandes Pires adorava etimologia, sempre observando – não raro com pontuações filosóficas – a origem das palavras frente aos fatos, realçando–as a partir de ângulos até então despercebidos.
O professor concluiu seu “ciclo” aqui na Terra – conforme ele mesmo comentou, desenhando um círculo no ar com a ponta dos dedos indicadores, afastando-os e, em seguida, unindo-os – em dezembro de 2008.
Ao se ouvir a palavra “parlapatão”, geralmente, a primeira ideia que se tem é a de um palhaço fazendo graça, feito o Bozo. Porém, em termos etimológicos, o professor lembraria que parlapatão vem do latim “parlare”, matriz do italiano “parlar”, que significa “falar”. Portanto, não tendo nada de cômico, por definição.
Talvez a razão do equívoco seja o fato de que (por graça das tais redes sociais) jamais se falou tanto. O problema, neste ponto, é que, como todos sabem, quantidade não implica em positiva qualidade.
Aí, o lamento de quem busca, realmente, viver em uma cidade, em um Estado, em um país e em um mundo melhores: faltam professores Josués e Bozos de profissão, falando e fazendo coisas bacanas, positivas, engrandecedoras, “edificadoras” (outra palavra de ordem e de apego do professor tatuiano).
Pelo que se observa, na mesma proporção em que desaparecem os edificadores, abundam os parlapatões. Pior: muitas – e muitas! – vezes, as “parlapatices” são ditas de maneira obscura, às escondidas, o que faz do falso Bozo apenas um poltrão, nada mais (visita ao “Aurélio”, como sempre fazia o professor, com prazer).
Pelo mesmo aspecto, também é interessante lembrar que – resgatando o velho ditado – “chutar cachorro morto” é fácil, tal falar sem pensar quando se imagina inatingível.
E, então, mais um ensinamento do longevo mestre, reiterado no momento da partida: a vida é cíclica! Ora se está em cima; ora se está no couro do cachorro sovado…
Não há certezas, salvo a de que, em algum momento, a realidade de todos pode mudar, para bem ou para mal – ou melhor, de bem para mal, de mal para bem, e assim até o fim do ciclo.
Não obstante, o parlapatão, por seu raciocínio “pré-galileico”, imagina ser o mundo ainda plano, e, não por outra razão, “parla” e “parla”… Já isto é risível, dada a observação de que, por exemplo, há muita gente que “parla” adoidado – especialmente sobre os supostos adversários – como se não houvesse amanhã…
Só que o amanhã de ontem é hoje, e, então, pode haver muito arrependimento pelo que “parlado” – como assim é passível ocorrer também no próximo amanhã.
Aliás, um lembrete: gente, não é porque não se “fala na cara” do fulano, quando se manifesta pela internet, que isso não pode gerar problema.
Pode, sim, e a juíza eleitoral da comarca, Mariana Teixeira Salviano da Rocha, alertou que, neste ano, ocorreram as eleições mais complicadas em termos de ofensas e inverdades pela rede, o que, certamente, renderá danos não virtuais na Justiça, mas reais.
Não por coincidência, os que costumam menos “parlar” são os que mais produzem, os que mais “edificam” – até porque não têm tempo a perder com boataria e baboseiras. E, isso, independentemente do lado político a que pertencem.
Assim, para finalizar, outro exemplo: muito se “parla” a respeito do potencial turístico de Tatuí, mas pouco se vê em termos de resultados. Prova disso é que, em uma reunião do Conselho Municipal de Turismo, no início do ano, foi informado que a cidade não possuía algum material de divulgação próprio, enfocando seus pontos de interesse.
Diante disso, o diretor da área e colunista de O Progresso, Jorge Rizek, propôs a produção de um guia – com recursos da iniciativa privada, sem qualquer investimento público.
A ideia foi encampada por O Progresso, que produziu o material, também integrado pela gerente de comunicação do Conservatório, Deise Juliana de Oliveira Voigt.
E, apesar da iniciativa, que rendeu um guia turístico e gastronômico inédito na cidade, dá para acreditar que ainda houve quem encontrasse motivo para “parlar” desqualificações?
Bem, outra coisa costumava observar o querido professor Josué: “Na vida, há figurantes e protagonistas!”. Certamente, os parlapatões somente figuram, enquanto os edificadores caminham somando contribuições.
A maior diferença entre esses dois tipos é que, quando o ciclo de cada um se conclui, os protagonistas deixam um legado de edificação, enquanto os demais, somente parlapatices esquecidas.