Dilea Silva
Duas palhaças do grupo “Damião e Cia”, de Campinas (SP) apresentam novo espetáculo circense em Tatuí. A montagem “Atenção, Respeitável Público”, estará em cartaz, neste sábado, 18, às 16h, na Praça da Matriz. A entrada é franca.
“Uma antiga charanga circense começa da seguinte forma: ‘E o palhaço o que é? É ladrão de mulher’. Ah, mas os tempos são outros, não é mesmo? Aliás, dentro e fora do picadeiro. Não por acaso, a premiada companhia resolveu mudar a pergunta e a resposta. O resultado fica da seguinte forma: ‘E a palhaça, o que é? É o que ela quiser!’. E quem quiser apreciar duas palhaças em ação de encanto e graça, basta assistir ao espetáculo circense”, destaca a cia.
Contemplada pelo ProAC (Programa de Ação Cultural do estado de São Paulo), a partir do edital 8/2022 – Circo/Circulação de Espetáculos, a temporada celebra os 10 anos de estrada do espetáculo “Atenção, Respeitável Público”, que contabilizam mais de 300 apresentações para um público de aproximadamente 30 mil pessoas.
Além de Tatuí, o espetáculo passará, ao longo de março, por Itu, Santos, Peruíbe, São José dos Campos, Guaratinguetá, Santa Bárbara d’Oeste, Piracicaba, Presidente Prudente, Dracena, Ribeirão Preto e Sertãozinho.
A apresentação em Tatuí ainda conta com a participação da “Nossa Trupe Teatral”. Na ocasião, os palhaços Malakai (João Armando Fabbro), Bonanza (Rodrigo Cassiano da Costa) e Sinforoso (Thiago Castro Leite) apresentarão um esquete do espetáculo “A Incomum Arte de Não Prestar para Nada”.
De acordo com a companhia, em resumo, o espetáculo promove o encontro entre duas palhaças e um mestre da palhaçaria brasileira. Na cena, Fernanda Jannuzzelli (Begônia) e Lara Prado (Brigite), sob a direção de Pereira França Neto, o Palhaço Tubinho.
“Aliás, esse é o primeiro destaque do espetáculo em cartaz: colocar a mulher no centro do picadeiro, possibilitando-a apresentar à plateia as potencialidades da graça feminina. O recado é dado!”, diz a companhia.
Para França Neto um espetáculo protagonizado por mulheres palhaças contribui com a diversidade cultural e promove a renovação da tradição circense.
“Quando duas palhaças recriam esquetes tradicionais, que estão há décadas sendo reproduzidos, elas nos mostram como a tradição circense é porosa e aberta a mudanças e adaptações que acompanham as transformações da nossa sociedade”, destaca o diretor.
A companhia destaca que o espetáculo nasceu com o propósito de revitalizar esquetes cômicas baseadas na tradição circense de picadeiro a partir da transposição do contexto dos números para os dias atuais.
“Como ponto de partida, as atrizes da ‘Damião e Cia’ se utilizam da essência da dupla cômica Branco e Augusto, bastante clássica nos circos brasileiros, para inspirar as relações criadas entre as duas palhaças que, em meio a muitas confusões e trapalhadas, cumprem o propósito de fazer rir e encantar”, informa a companhia.
“Nós buscamos essa revitalização principalmente por sermos palhaças mulheres representando esquetes que, em um passado recente, foram majoritariamente dominados por palhaços homens. Esse fato cria um discurso cênico que afirma a potência contida no humor da palhaçaria feminina, além de demonstrar a força e a atualidade dessa tradição cômica do nosso país”, conta Lara Prado.
Segundo a companhia circense, a montagem é concebida a partir de duas esquetes e um interlúdio. Quem for ao espetáculo assistirá ao “O Elevador”, extraído da obra do escritor e historiador de circo francês, Tristan Rémy, bem como o popular “Show de Pulgas” e o quadro “A Levitação”.
“A minha contribuição ao espetáculo foi no sentido de ampliar o repertório de piadas e gags da dupla e, também, pontuar os momentos dos esquetes que precisavam estar mais bem estruturados para a total compreensão do público. O meu olhar como diretor é sempre para o público. E o da ‘Damião e Cia’, também. Por isso, conseguimos realizar um trabalho certeiro e eficiente”, reconhece o diretor.
A companhia destaca que, não à toa, o espetáculo se configura em uma representação “extremamente versátil”, sendo possível de ser encenada em diversos tipos de espaços e tendo como público-alvo espectadores de todas as idades e classes sociais.
“Amamos estar em cena fazendo esse tipo de linguagem. Mas, acima de tudo, amamos estar em contato com a plateia. Apenas esse encontro já dá sentido ao nosso ofício”, reconhece Fernanda Jannuzzelli.
“O objetivo do espetáculo é fazer rir, destacando a importância da alegria na vida das pessoas e da necessidade dos encontros nos espaços públicos, sempre, é claro, buscando não ferir ninguém com o humor ou com a graça. É um alívio cômico diante de tantas adversidades que passamos em nosso dia a dia”, avaliam as atrizes
A Damião e Cia é um grupo de pesquisa e criação em teatro e circo fundado em 2012 por artistas bacharéis em artes cênicas pela Unicamp. A companhia fundamenta sua linguagem no estudo das mais variadas formas de teatro popular, buscando a valorização da tradição, assim como sua reinvenção em prol do diálogo com a contemporaneidade.
Ao longo da trajetória, o grupo produziu os espetáculos: “As Presepadas de Damião” (Mario Santana, 2012); “Atenção, Respeitável Público” (2012); “Estrela da Madrugada” (Mario Santana, 2013); “Burundanga – A Revolução do Baixo Ventre” (Fernando Neves, 2018); “Andante” (Cia Markeliñe/Espanha e Damião e Cia, 2019); “As Desventuras do Capitão Rabeca” (Tiche Vianna, 2019) e “Gran Cirque Brado” (Thiago Sales, 2022), em parceria com o Circo Caramba; e “Trupica Coração” (Kátia Daher, 2022).
“Os espetáculos do grupo são criados para diferentes espaços de representação e buscam a comunicação com um público heterogêneo, de modo a proporcionar a expansão do universo simbólico e criar rupturas no cotidiano, possibilitando encontros e trocas”, conclui a companhia.