
Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
A Suécia é o país do silêncio. Tão quieto que se poderia dizer que um cemitério é mais ruidoso. Nas ruas, nos trens, nos ônibus, nos carros de praça, ninguém fala com ninguém. No país do “Psiu!” falar é considerado deselegância, uma falta de decoro e educação. No transporte público, todos os passageiros ficam sentados absolutamente mudos. Daria até para escutar o voo de um mosquito, caso houvesse moscas sobreviventes ao frio galático daquele mundo polar. Um sueco disse-me que em seu país eles cortam as cordas vocais dos galos para não cantarem de madrugada; outros vão mais além e fazem o mesmo com os cães e gatos. Latidos e miados são perturbadores do sossego de necrópole que estão obrigados a seguir.
Para terem uma ideia, uma amiga minha, sueca de Estocolmo, contou-me que tomou um ônibus, distraiu-se e passou do ponto onde ia descer. Ficou com tanta vergonha de falar isso ao motorista, que foi até o ponto final, onde desceu duas horas depois, quando tomou outro coletivo para voltar.
Então, surgiu nos países vizinhos a seguinte história: três suecos sentaram-se à mesa para beber e conversar. Depois de uma hora de silêncio absoluto, em que se podia ouvir a respiração dos três, um deles disse: “Parece que vai chover”, e calou-se. Todos ficaram quietos por mais uma hora. Então um segundo falou: “Eu não acho que vai chover, não”. Voltou o silêncio após essa fala, e durou mais uma hora e meia. Por fim, o terceiro sueco disse: “Se vocês vão brigar, eu vou embora pra casa.”
Imaginem nós, brasileiros, num trem desses…
Até breve.
* Jornalista e escritor tatuiano





