‘Onde Moram os Tatus’ tem ‘duplo’ lançamento por 2 editais de cultura

Romance de Ivan Camargo apresenta 2ª edição e versão para cinema

Capas das publicações: no roteiro, foto de Francisco Pinto; no romance, desenho de Fábio Antunes dos Santos
Da reportagem

De autoria do jornalista e escritor Ivan Camargo, o romance “Onde Moram os Tatus” tem lançamento em duas versões neste sábado, 25, a partir das 14h, no Complexo Cultural da Memória, que engloba o Museu da Imagem e do Som (MIS Tatuí) “Jornalista Renato Ferreira de Camargo” e o Memorial do Rugby 1928 “Dr. Gualter Nunes”, à avenida Domingos Bassi, 1, bairro Jardim Junqueira.

Uma das versões corresponde à segunda edição do livro e a outra, à adaptação da obra para roteiro cinematográfico. Ambas as publicações acontecem por meio de programas de incentivo à cultura.

O romance, cuja primeira edição estava esgotada, tem a republicação graças ao Edital Publicação de Livros (2024), do Museu Histórico “Paulo Setúbal”, realizado pela prefeitura, por meio da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer.

Já a versão para audiovisual – também assinada pelo escritor tatuiano – é resultado de projeto apresentado pela pessoa jurídica de Juliana Michele Jardim, junto à Lei Paulo Gustavo, do governo federal, executada no município pela prefeitura, através da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, em edital de 2023.

Para o lançamento do texto audiovisual em livro, está programada uma leitura dramática de parte do roteiro, por atores. Posteriormente, ainda deve acontecer uma roda de conversa com integrantes da terceira idade do Projeto Avivar, com o tema “causos caipiras”.

As duas atividades serão transmitidas pelo canal do Youtube do Museu “Paulo Setúbal” (www.youtube.com/@museusdetatui). A leitura por atores no MIS Tatuí tem entrada gratuita ao público.

Para ela, o projeto firmou parceria com o Núcleo de Pesquisa [Em]Cena, que coordenará a leitura a partir de concepção criada por Rose Colina. Participarão da apresentação, além dela, os atores Claudio Teles, Letícia Rodrigues e Guilherme Fontão.

“Ser caipira”

A republicação do romance “Onde Moram os Tatus”, sustenta Camargo, segue com o propósito de demonstrar que não é vergonhoso ser caipira, “sentimento só justificado pela ignorância acerca do passado paulista, cuja essência e riqueza partiram justamente dos caipiras do interior, que mesclam em sua essência a absorção das culturas indígenas, africanas e europeias”.

Em seu conteúdo, o livro é integralmente pautado no interesse de valorizar o chamado “homem do campo” paulista, que se molda às influências externas e, assim, difere-se dos demais do país, garantindo-lhe personalidade própria, uma vez ser fruto direto, também, de dois movimentos fundamentais na formação do Brasil: as bandeiras e o tropeirismo.

Para abordar esse passado em nada vergonhoso, o livro apresenta histórias baseadas na rotina, no cotidiano caipira, e isto com o cuidado, ainda, quanto à forma de narrativa, sustentada nos “causos”, característicos por sua linguagem bem-humorada e jocosa.

“O objetivo, por este aspecto, é preencher um pouco da lacuna existente na literatura do interior de São Paulo, que já teve figuras como Cornélio Pires e o tatuiano Paulo Setúbal, no passado, mas que há tempos não registra mais seus causos”, comenta o autor.

O texto busca lembrar a estrutura desses “causos”, utilizando-se da ficção e de alguns fatos folclóricos da região, adaptados de maneira a encaixarem-se no contexto do romance.

Ainda buscando escapar do usual, o texto não tem a pretensão de ser mais um apanhado histórico, fundamentado em fatos, descritos em linguagem didática. “Não se trata, portanto, de um livro de história, senão de ficção, de ‘estórias’, e, acima de tudo, de humor”, segue Camargo.

Sinopse

Lançado em 2008, “Onde Moram os Tatus” é um romance que, basicamente, resgata com humor as raízes do estado de São Paulo.

Uma lendária estrada indígena, a pioneira fábrica de ferro do Brasil e a ousadia épica dos tropeiros formam o cenário do romance, ambientado na metade do século 19.

A história acontece ao longo da chamada “Rota do Muar”, que ligava o Rio Grande do Sul ao interior de São Paulo, aproveitando-se, em seu traçado, de diversas ramificações da lendária estrada indígena conhecida como “Peabiru”.

Em particular, a história transcorre na região de Sorocaba, onde havia o maior mercado de muares dos séculos 18 e 19. Outro ponto a permear o romance é a fundação, apogeu e declínio da fábrica de ferro de Ipanema, a primeira do país.

O texto é essencialmente ficcional, mas, ainda assim, utiliza-se de fatos folclóricos, como a “lenda” do Xiru-Gato (o bugre assaltante e assassino de tropeiros), “resgatado” como o matador de tropeiros tatuianos na Rota do Muar.

Apesar da base verídica, o texto não é histórico, muito menos didático. Com cada um de seus intertítulos encerrando na forma de um “causo”, com desfecho jocoso, o livro é basicamente de humor. Seu compromisso, tal como nas narrativas caipiras, é com a ficção, com a invenção, com a “lorota”.

Assim, o leitor conhece uma antiga e tradicional comunidade do interior, com seus tropeiros, índios, coronéis, capangas, escravos, imigrantes, benzedeiros, prostitutas e até um muar falante…

Enfim, “Onde Moram os Tatus”!

Premiações

O romance “Onde Moram os Tatus” recebeu dois prêmios de literatura nacionais, um estadual e um municipal. No Rio de Janeiro, foi um dos premiados pelo concurso “Josué Montello”, promovido pela União Brasileira de Escritores (UBE-RJ), entidade fundada em 1958, entre outros, pelo escritor Jorge Amado.

Pela mesma entidade, só que junto ao núcleo paulista da UBE, recebeu menção honrosa no 2o Prêmio de Literatura UBE/Scortecci. Ainda teve a primeira edição viabilizada pela então Secretaria de Estado da Cultura, de São Paulo, por meio do Proac (Programa de Ação Cultural), que selecionou o livro entre seus premiados da edição 2007/2008.

Finalmente, em 2024, acabou contemplado pelo Edital Publicação de Livros, promovido pelo Museu Histórico “Paulo Setúbal”, do município de Tatuí, para a segunda edição.

Repercussão

“Onde Moram os Tatus” fez parte da programação, em 2008, do 35o Salão Internacional de Humor de Piracicaba, evento considerado o maior do mundo em seu gênero.

Na TV, “Onde Moram os Tatus” foi exibido e recomendado pelo apresentador Fausto Silva, em seu então programa “Domingão do Faustão”, dia 5 de outubro de 2008.

O romance também chegou a ser reconhecido com entusiasmo pelo escritor, jornalista e historiador Fernando Jorge, autor de mais de 30 obras, entre as quais, as biografias “O Aleijadinho”, com a qual foi vencedor do Prêmio Jabuti (1961), e a de vital interesse dos tatuianos: “Vida, Obra e Época de Paulo Setúbal” (2003).

Em carta ao tatuiano, o premiado escritor escreveu sobre o livro:

“Na minha opinião, os três maiores prosadores que São Paulo teve, no século passado, foram estes: Monteiro Lobato, Afonso Schmidt e Valdomiro Silveira. Afirmo, se Ivan Camargo fosse contemporâneo desses três escritores, e tivesse publicado naquela época o livro ‘Onde Moram os Tatus´, eu o incluiria na lista dos quatro maiores prosadores de São Paulo.”

“Gostei tanto da obra que a li de um só fôlego, completamente magnetizado.”

Prefácio

O romance “Onde Moram os Tatus”, finalmente, tem a honra e o privilégio de apresentar prefácio da saudosa professora tatuiana Leila Salum Menezes da Silva – muito provavelmente a maior especialista justamente nas obras do “imortal” tatuiano, tendo sido, inclusive, autora da “Biografia de Paulo Setúbal – Sua Vida, Seus Motivos, Sua Técnica”.

ROTEIRO PARA CINEMA

Com formação em adaptação de obras literárias para cinema e TV, efetivada na pós-graduação, entre outras capacitações em dramaturgia, Ivan Camargo trabalhou cerca de um ano na conversão do romance para o audiovisual.

“Na prática, é mais exigente do que partir do zero, porque implica em reestruturar toda uma história, respeitando sua essência, porém, em outra linguagem, que passa a ser da narrativa convencional para sequências de ações”, conta o autor.

“Basicamente, em um romance, a história se passa ‘na cabeça’ do narrador, que pode dar opiniões, expressar sentimentos, descrever a história e os personagens como lhe convém. Já em um roteiro, tudo isso precisa ser ‘mostrado com imagens, ações”, descreve.

O resultado é que, indica o autor, há necessidade de se criar novas situações, inexistentes no texto original, para se contar a mesma história, “o que acaba sendo um exercício muito mais desafiador”, observa.

“Em um livro, por exemplo, você escreve que determinado personagem ‘está nervoso’; em um roteiro, é preciso ‘mostrar’ essa raiva, levando-o a ‘fazer algo’ que evidencie o sentimento”, detalha Camargo.

O trabalho de adaptação ainda teve consultoria de Francisco Pinto, produtor e roteirista à frente da Kino Arts Brazil, em Boituva, que tem concretizado vários projetos culturais com o tatuiano.

Entre os quais, o produtor foi o responsável pela montagem do espetáculo “Até que a Morte nos Enlace”, através de duas premiações do Programa de Ação Cultural do estado de São Paulo (Proac), cuja segunda, de circulação, teve encerramento em Tatuí no Teatro Pedro Couto, da Apae, dia 27 de setembro.

A distribuição do livro-roteiro, conforme proposto no projeto aprovado, será também gratuita, direcionada às pessoas jurídicas do audiovisual registradas no Cadastro Municipal de Cultura.

Porém, os interessados devem enviar mensagem solicitando a publicação para a proponente Juliana Michele Jardim, pelo e-mail jujardim34@gmail.com.

Fora de Tatuí, a publicação já tem sido encaminhada a profissionais do audiovisual, entre os quais, o produtor José Ricci e o cineasta Reinaldo Volpato.

Ambos, inclusive, haviam recebido o roteiro ainda em tratamento e acabaram se manifestando sobre o trabalho. Ricci é diretor, produtor e roteirista, tendo participado, entre tantos outros, da produção de programas de Chico Anysio e Xuxa, na Rede Globo, com trabalhos também nas TVs Record, Cultura, CNT e Rede TV.

Comentou ele: “’Onde Moram os Tatus’ é um roteiro maduro, criativo e ousado, com estilo próprio e muita identidade regional. Une humor, crítica e tradição oral em um produto audiovisual com grande potencial artístico e popular. A construção narrativa é coesa, os personagens são vivos e os diálogos têm sabor autêntico”.

Já Volpato é diretor, produtor, roteirista e montador de filmes e programas de TV. É fundador da Taus Produções Audiovisuais e da ONG Atividades Culturais Paratodos.

Entre diversos trabalhos, dirigiu “Viola, Minha Viola” (TV Cultura), o longa “Abrasasas”, o documentário “A Moda é Viola” e, mais recentemente, a ficção “Estranhas Cotoveladas”, em lançamento (2025).

“Tive a honra de ler o livro e o primeiro tratamento do roteiro proposto e posso assegurar a pertinência do projeto. Será outro filme sobre a exuberante cultura do interior paulista que tem sido contemplada pela obstinação da nova geração de cineastas que se compromete atualmente nessa instigante seara criativa de proporcionar ao público a disposição de reconquistar as telas com imagens e sons que andaram ausentes nesses últimos tempos”, escreveu o cineasta.

“E vir de Tatuí revela a favorável democratização e a diversidade que estamos todos perseguindo. A publicação do roteiro em forma de livro significa um magistral primeiro passo para a conquista de uma produção cinematográfica profissional”, conclui Volpato.

O autor

Ivan Camargo é jornalista, pós-graduado em comunicação social. Entre 1992 e 1994, editou o “Stopim”, um tabloide de humor inspirado no lendário carioca O Pasquim. Em 1995, assumiu a direção do jornal O Progresso de Tatuí.

Em 2008, publicou seu primeiro livro, o romance “Onde Moram os Tatus”, a partir de premiação do Proac (Programa de Ação Cultural), do governo de SP, além da peça teatral “O Cativeiro”, pela conquista do II Prêmio de Literatura UBE/Scortecci. Em 2009, também pelo Proac, lançou o segundo romance, “Assombrações Caipiras”.

Pela UBE do RJ, em 2011, obteve a 1ª colocação no Concurso Internacional de Literatura, com a peça “Até que a Morte nos Enlace”. Em 2013, pelo mesmo certame, alcançou a 3ª colocação, com a peça “Santa Casa da Luz Vermelha”.

Em 2017, publicou o primeiro livro de contos, “Golpe Baixo”, e, em 2022, o segundo, “Botão do Pânico”, por premiação da Lei Aldir Blanc.

Entre roteiros e textos dramatúrgicos encenados e inéditos, ainda escreveu diversos curtas-metragens, um longa para cinema como estudo de conclusão da pós-graduação (adaptação do romance “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto) e adaptações para teatro, entre as quais, “Priscila, A Rainha da Caatinga” e “Vovó Delícia”, de Ziraldo.

Já em 2024, teve a peça “Até que a Morte nos Enlace” encenada na capital paulista pela produtora de Francisco Pinto, a Kino Arts Brazil, sob a direção de Jaques Lagôa – também por premiação do Proac.

A mesma peça, novamente contemplada pelo programa estadual de cultura, em 2025, seguiu nos palcos com a segunda temporada, então em circulação no estado de SP.

Neste mesmo ano, por premiação municipal da Lei Paulo Gustavo, concretiza a adaptação para roteiro audiovisual do romance “Onde Moram os Tatus”, publicado no formato de livro.