O rei do bandeirantismo

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz de Camargo Neto *

Caros amigos,

Eu sempre aprendi na escola, no fundamental e médio, que os bandeirantes paulistas eram homens ambiciosos, caçadores de índios e cruéis. Isso nunca foi nem comentado nem desmentido na faculdade de jornalismo que fiz em São Paulo e meios acadêmicos que frequentei.

Certamente houve gente assim naquele meio. Porém agora, estudando mais profundamente os fatos históricos, para escrever “História Secreta do Nordeste”, que acabamos de publicar, vejo fatos incríveis, relativos a muitos desses homens destemidos de meu Estado.

A mais recente pérola que tenho nas mãos é o livro recém-publicado pelo jornalista, escritor e homem público Aldo Rebelo, grande amigo nosso, intitulado “Amazônia -A Maldição de Tordesilhas – 500 Anos de Cobiça Internacional”.

Recebi a obra autografada por ele, no lançamento deste maravilhoso livro, no Conjunto Nacional, em São Paulo. E vou falar do intrigante capítulo “Raposo Tavares e a Bandeira dos Limites – A Maior Bandeira do Maior Bandeirante”

Revela este livro que o famoso bandeirante tinha uma missão principal, que lhe fora conferida pelo rei de Portugal: expandir o território brasileiro para além das Tordesilhas, até a Amazônia e o Peru.

“Foi um plano do Estado português, que recuperara a sua independência perante a Espanha (1640) e desejava conhecer e incorporar terras situadas a oeste das Tordesilhas”, buscando ao mesmo tempo para Portugal o ouro e a prata que encontrasse.

Raposo desincumbiu-se da missão com uma lealdade e heroísmo a toda prova, digno dos desbravadores lusitanos dos mares nunca dantes navegados. Comandando um grupo de 120 mamelucos e portugueses e mil índios amigos, partiu de São Paulo em 1648, rumo à Amazônia e ao Peru, e retornou três anos depois, com poucos sobreviventes, após uma marcha de l2 mil quilômetros embrenhado na selva bruta.

Descreve Euclides da Cunha, que ele cortou toda a América do Sul, de São Paulo até o Pacífico, passando “por cima de rios, de chapadões, de pantanais, de corixas estagnadas, de desertos, de cordilheiras, de páramos nevados e de litorais aspérrimos (…) um lance apavorante de epopeia. Mas sente-se bem naquela ousadia individual a concentração maravilhosa de todas as ousadias de uma época”.

Mostra Aldo Rebelo que, se o Brasil tem hoje o tamanho que tem, muito deve a este homem destemido que ajudou a desmantelar a linha limitante das Tordesilhas.

De Tatuí para São Paulo, antes da construção da Castello Branco, viajávamos pela longa rodovia Raposo Tavares, digna homenagem póstuma ao heroico desbravador paulista.

Até breve.

* Jornalista e escritor tatuiano.

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