O protagonismo das mulheres no Cristianismo

Lidice Meyer *

Na proximidade do Dia Internacional da Mulher (08/03) é essencial a reflexão sobre os diversos protagonismos femininos, inclusive o seu valor no Cristianismo. Desde as primeiras religiões, a mulher tem desempenhado papéis essenciais no estabelecimento e manutenção da fé.

Seja nas funções sacerdotais ou de profetisas, ou mesmo meramente instruindo seus filhos nos primeiros passos da fé e da moral, a mulher esteve sempre presente e atuante.

E, embora ainda hoje as mulheres representem a maioria entre os fiéis nas diferentes comunidades religiosas, incluindo as igrejas cristãs, estas comunidades divergem nos papéis sociais a elas atribuídos.

A leitura do texto bíblico à luz das pesquisas arqueológicas tem demonstrado um período inicial de coparticipação de homens e mulheres na liderança dos clãs no Antigo Testamento. Patriarcas e matriarcas atuavam conjuntamente com responsabilidades e capacidades específicas.

No Novo Testamento, não há como negar a presença e atuação feminina no suporte ao ministério de Cristo e dos Apóstolos. Apesar disso, a resistência à aceitação de mulheres em papéis de liderança ainda é muito forte em alguns setores do cristianismo.

O documento final da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizado pela Igreja Católica, reconheceu em 2024 que “as mulheres continuam a encontrar obstáculos para obter um reconhecimento mais pleno dos seus carismas, da sua vocação e do seu lugar nos vários sectores da vida da Igreja”.

Entre as Igrejas Protestantes e Evangélicas, há aquelas que têm nos últimos anos revogado a autorização de mulheres para ensinar ou pregar em público, outras restringem-nas à atuação sob a supervisão de um oficial reconhecido.

As questões envolvidas são muito mais culturais do que bíblicas. Mas, se vivemos em um momento de crise, vivemos também um período de oportunidades. A crise impõe repensar tradições e buscar novas alternativas.

Na busca por outras perspectivas, precisamos reler a Bíblia isentos de uma visão androcêntrica (marginalização da cultura feminina) para observarmos o quanto as mulheres não são invisibilizadas em seu texto, mas, pelo contrário, desempenham papéis basilares na formação do Israel Antigo e da Igreja Cristã.

O desafio de ser mulher no cristianismo de hoje passa por um compromisso de todos para que, deixando de lado tradições de leituras sedimentadas por uma teologia androcêntrica, percebamos que o Reino de Deus é inclusivo e coparticipativo.

* Doutora em antropologia, professora na Universidade Lusófona (Portuga) e autora de “Cristianismo no Feminino”.

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