
Raul Vallerine
Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las! (Voltaire)
As palavras podem ferir ou curar, animar ou desestimular, trazer vida ou matar. As palavras são poderosas e deixam marcas. Porém, sem elas é impossível se relacionar. Por isso, quanto mais habilidoso for seu uso, mais sucesso você terá nas relações familiares.
Um bom teste inicial é pensar no tipo de palavras que você tem usado em casa. As que você proferiu na última semana para sua família serviram para edificar ou destruir?
O que não é dito também é importante. Às vezes, calamos quando deveríamos falar e falamos quando deveríamos calar.
Há palavras que sempre são bem-vindas como “por favor”, “obrigado” e “me desculpe”. Mas mesmo essas podem ter a aridez da formalidade.
Mais grave, contudo, são as palavras que funcionam como flechas, atingindo de maneira rápida e mortal aqueles que convivem conosco. Quando os pais falam aos filhos, precisam ter muito cuidado.
Não apenas porque podem esmagar a autoestima deles, mas também porque estão ensinando um padrão de comunicação do qual eles mesmos serão alvo no futuro. Tudo o que desacredita a pessoa tem um poder devastador.
Expressões como “você não tem jeito”, “você não faz nada certo”, “você é burro”, “nada dá certo para você” e “por que não age como seu irmão?” são claramente danosas e nunca deveriam ser usadas.
Por outro lado, frases como “seja o melhor”, “foi bom, mas você poderia…”, “não fez nada mais que sua obrigação”, entre outras, podem também dar a sensação de um ideal que nunca é atingido e de uma incapacidade em “agradar”.
Sempre que a crítica acontece gera uma sensação de inadequação. Quando ela é constante, a pessoa simplesmente acredita que há algo errado com ela.
Temos pressa para criticar e demoramos para elogiar. É preciso fazer um balanço das palavras usadas ao longo do dia: quantas vezes você apontou os erros alheios e quantas vezes deixou de reconhecer algo feito pelo outro.
Entre os cônjuges isso também pode ocorrer. As mulheres em especial gostam de elogios, de ser notadas, de ouvir palavras românticas e receber encorajamento nas atividades diárias.
Por sua vez, os homens desejam sentir que há gratidão por seu esforço no trabalho e que sua opinião é importante nas decisões da família.
Há filhos que falam coisas terríveis aos pais e aos irmãos. Mas toda palavra desrespeitosa precisa ser contida, não deve ter lugar no lar. Até porque, se fora de casa já existe tanta coisa para nos destruir, por que fazer isso com nossa família?
Infelizmente, muitos apenas refletem aquilo que experimentaram na jornada da vida. Não foram amados, cuidados nem acolhidos, só foram julgados e condenados.
O fato é que as palavras que ouvimos têm relação direta com nossos sentimentos, sejam positivos ou negativos. Existe uma conexão direta entre a autoestima e as relações afetivas familiares.
Nosso diálogo interno também é linguagem. Ele tem um peso enorme na construção da autoestima. Repetir frases como “não sou bom o suficiente” pode diminuir a autoconfiança ao longo do tempo. Já expressões como “estou me fortalecendo” e “estou em processo de aprendizado” criam narrativas mais saudáveis e encorajadoras.
As palavras de afirmação, quando repetidas com intenção, podem fazer toda a diferença. Exemplos simples, como “eu sou capaz”, “eu mereço coisas boas” ou “eu estou me desenvolvendo” têm efeitos diretos na redução de estresse, fortalecimento emocional e na qualidade das relações interpessoais.
O que você escolhe? Qual repertório vai adotar ou abandonar? Não pense que você não tem parte nessa engrenagem.
Eximir-se da responsabilidade de plantar a boa palavra vai gerar uma colheita de mágoas. Que tal escolher as melhores sementes? Só depende de você!