A sobrevivência de um empreendimento hoje no Brasil é um exercício de coragem, obstinação e esperança. Coragem para enfrentar os dissabores, muitos advindos das restrições impostas pelo Estado ao campo dos negócios privados, obstinação para não desistir diante das imposições e dificuldades e, sobretudo, esperança nos imensos potenciais de nosso território.
Abro essa observação nos meus 53 anos de vida, 33 dos quais dedicados à vida empresarial, iniciada aos 19 anos, quando comecei a ajudar meu corajoso pai como frentista em seu posto de gasolina na cidade de Canguaretama (RN). Daqueles tempos aos dias de hoje, ultrapassamos barreiras, abrimos fronteiras, expandimos o nosso empreendimento.
Confesso, porém, que os últimos tempos têm sido os mais difíceis para os negócios. Pior que os improvisados tempos do Plano Collor e dos experimentos com a moeda sob o governo Sarney.
A maior recessão econômica da história nacional, a par do desânimo que abateu o espírito de empreendedores, mostra sua face perversa nos cerca de 13 milhões de desempregados e no desestímulo aos investimentos.
Somente os obstinados, com sua inesgotável paciência, puderam resistir à maior crise econômica que já presenciei em minha trajetória empresarial. Para resistir às intempéries, ancoramo-nos na crença de que o Brasil foi, é e será sempre maior de que qualquer crise. Foi assim que conseguimos conduzir o nosso negócio ao porto seguro, sob a solidariedade de amigos e a unidade familiar.
Felizmente, as nuvens pesadas no horizonte de nossa economia começam a se dissipar, sinalizando que o nosso amanhã será mais promissor aos empreendimentos. Não teremos, como se sabe, um crescimento extraordinário, mas o índice de 1,5% do PIB em 2019 poderá ser a luz no fim do túnel. Importa, doravante, contarmos com uma política econômica que possa alavancar os negócios e resgatar a confiança dos investidores.
Nesse sentido, já podemos expressar regozijo ao constatar que a equipe montada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, prima pela qualidade técnica. Trata-se de um grupo de renomados profissionais, quase todos com alta graduação em escolas de economia, principalmente a da matriz do liberalismo, a Universidade de Chicago, onde o professor Milton Friedman instalou um dos maiores templos mundiais de estudos de economia.
É saudável para o nosso país ouvir dos integrantes da equipe econômica que o Estado se livrará de braços que atrapalham o funcionamento de seu corpo, como extensões que não fazem parte do “core business” das empresas estatais. Deixar o Estado do tamanho mais condizente com as tarefas que a nossa Constituição assegura – educação, saúde, habitação, saneamento básico, segurança pública – liberando outras áreas aos campos da iniciativa privada – esse deve ser o norte a ser seguido.
Queremos ver um país livre das amarras burocráticas, que tanto impedem o fluxo e o ritmo das operações; uma carga tributária calibrada pelos critérios de justiça e igualdade entre os entes federativos, e sem ameaças de geração de novos tributos; segurança jurídica que garanta às corporações internacionais tranquilidade para investir; segurança pública, capaz de propiciar aos cidadãos livre locomoção, sem receio de serem assaltados; um sistema educacional que não deixe nenhuma criança fora da escola; enfim, programas sociais voltados para atenuar as necessidades das margens carentes.
A quadra que atravessa o país é um convite ao otimismo. O eleitorado brasileiro cumpriu o direito cívico de escolher os seus representantes e o seu mandatário-mor. Nossa democracia está mostrando a solidez das instituições, não havendo motivo para receio de retrocesso. Urge confiar na nova moldura político/governativa que se esboça.
Sou um otimista.
* Presidente executivo do conselho de administração da ALE Combustíveis