Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
“Apartai-vos de mim, malditos, porque tive sede e não me destes de beber” (Jesus Cristo).
A seca presente no Nordeste há séculos, assim como a seca monetária que campeia no país, não são fatos naturais ou irremediáveis. Resultam antes de uma grave patologia psicossocial, que já condenou à miséria e matou milhões de famílias brasileiras.
As duas secas – da água e do dinheiro – têm etiologias comuns. Resultam da patologia psíquica de pessoas postadas em cargos do poder público ou privado que por motivos doentios, procrastinam eternamente a solução (ou ainda agravam o problema).
Estamos nos referindo à inveja inconsciente que muitas pessoas de poder têm da alegria e bem-estar do povo. Inveja não é querer o que o outro tem. É agir para privar os outros de todo bem.
Onde está a água do Nordeste? Muitas vezes está encerrada em represas de grandes proprietários de terra, que abriram poços artesianos e a acumularam para uso próprio. Quem quiser ter água (ou terra), precisa se sujeitar a eles.
Do mesmo modo, onde está o dinheiro que todos deviam ter em quantidade suficiente? Está acumulado na maior parte em bancos públicos e privados. E quem precisa dele, é forçado a se sujeitar aos juros exorbitantes das leis bancárias.
Assim se disseminam os bolsões de miséria pelo país. Assim se sucedem os flagelados pela seca no Nordeste. E quem contempla tal situação de penúria a que o povo que trabalha é submetido, e não sente nada, é porque já está morto.
Há rios volumosos subterrâneos no Nordeste. Por que essa água não é bombeada para a superfície? Bastaria um prefeito, um governador adquirir uma só máquina de perfurar poços artesianos e, durante seu mandato, fazer perfurações ininterruptas.
Seu município ou região teria água abundante para o povo beber, plantar, criar gado, galinhas, cultivar hortaliças, milho, algodão, feijão… Seria tanta a transformação, que tal prefeito ou governador ficaria famoso, por ter transformado terra árida em jardim.
O mesmo se diga do primeiro homem público que facilitar a circulação do dinheiro, diminuindo os juros bancários e negociando a dívida externa brasileira que exaure os recursos governamentais, coletados do povo que trabalha.
Mas acho que o problema é pior: é psicológico e espiritual. Quem pode resolver esses problemas e não os resolve, quem deixa crianças morrerem de sede diante de seus olhos, é uma pessoa muito doente psiquicamente.
Pode-se dizer até que é, na prática, uma pessoa contra Cristo e, principalmente contra si mesma. Porque no além podem ter uma surpresa… Que Deus tenha piedade de suas almas!
Até breve.
* Jornalista e escritor tatuiano