Tatuí ser conhecida nacionalmente como a Capital da Música não se resume a mera vaidade, algo a se gabar de maneira banal entre conhecidos de outras localidades. Trata-se de um imenso privilégio, cujo valor é incalculável por vários ângulos.
Em síntese, contudo, nunca foi tão urgente não se deixar de reconhecer o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” como o maior responsável por essa virtude a imprimir respeito e admiração por Tatuí – Brasil e mundo afora – já há mais de seis décadas.
As observações, como toda a Cidade Ternura tem acompanhado nestas semanas recentes, parte de mudanças propostas na escola de música e teatro, desencadeadas a partir de chamamento público para uma nova organização social vir a assumir a gestão do CDMCC.
Neste particular, é importante lembrar que, no passado, outras tantas alterações de direção já ocorreram, embora sem causar tanto receio, agora compartilhado não apenas por funcionários e alunos, mas pela própria comunidade como um todo – inclusive, na instância política.
Antes, a despeito dos costumeiros comentários pessimistas – senão maldosos (que sempre existiram, mesmo antes das redes insociais) -, as tais “demissões em massa” e “cortes brutais” de alunos, simplesmente, não ocorreram.
Muito dessas alegações passaram a nascer do fato de que “tatuianos legítimos” deixaram a direção da escola, particularmente com a saída do maestro Antonio Carlos Neves Campos e a mudança de gestão para as chamadas organizações sociais.
Entretanto, a OS que sucedera a Neves não pôs em prática o temerário “desmonte”, tampouco a que veio a seguir, respectivamente: Associação de Amigos do Conservatório de Tatuí (AACT) e Abaçaí Cultura e Arte.
Apesar de ambas não serem encabeçadas por tatuianos, pode-se afirmar – por mais críticas que possam ter existido (e sempre existem) – que os princípios pedagógicos e a tradição cultural e histórica da escola acabaram incorporados pelos gestores – os quais “tornaram-se tatuianos”.
Novamente, para não deixar dúvida: boas intenções e excelência para administrar o CDMCC, com certeza, não se encontram apenas entre “pés vermeios”. Nada disso!
Não obstante, conhecer a realidade local e incorporar-se a ela, na qual o Conservatório tem relevância vital, precisa ser premissa inquestionável.
Neste aspecto, portanto, não se defende aqui uma entidade em detrimento às demais, muito menos uma figura em particular, senão a condição imprescindível de o Conservatório de Tatuí ter à frente uma gestão que, independentemente da origem de seus integrantes, venha a “ser” verdadeiramente da cidade.
Embora já se sabendo do desfecho quanto a uma nova gestão, a ser assumida pela Sustenidos Organização Social de Cultura, não seria oportuno apostar no futurologismo, muito menos se este for do estilo cataclísmico – bem afeito ao momento político do país, aliás.
No entanto, um ponto é claro: urge união – aqui, sim, maciça – a favor da manutenção dos valores, tradições e primazia da qualidade de ensino do CDMCC.
Desta união não podem se abster nenhum – então – verdadeiro tatuiano, a despeito de suas convicções e interesses pessoais, sejam de que cor ou natureza forem. Neste momento, não cabe gosto, opção ou partido, pelo interesse maior do município.
A população, em geral, precisa entender, definitivamente, que não ganha com a desunião extremista e atentar-se mais ao que realmente interessa.
Neste momento, em Tatuí, importa o Conservatório! E, antes que se imagine algo inspirado pelo obscurantismo quase medieval da contemporaneidade – feito julgar a arte como algo “ruim” –, é fundamental lembrar as múltiplas virtudes carregadas pelo CDMCC no dia a dia da Cidade Ternura.
A primeira, claro, é a formação musical erudita – uma arte! – a levar o nome de Tatuí para muito além das fronteiras locais. Isto não apenas é motivo de orgulho, mas garantia de representatividade nacional, com seus devidos benefícios.
Ou, em outras palavras: o Conservatório de Tatuí não é uma escolinha de música, mas a maior escola de música clássica da América Latina, assim ainda considerada.
Este privilégio incomensurável rende benefícios a todos os tatuianos muito além da oportunidade de poderem optar pela música clássica e pelo teatro como opções de profissão para seus filhos.
O Conservatório garante um investimento do estado muito importante, com a manutenção de empregos, subsídios a bolsistas, significativo contingente de estudantes de outras localidades, eventos e, ainda, parcerias com a administração pública.
Isso tudo leva recursos a se espalharem por todos os setores do comércio,acabando por tornar Tatuí -pelo menos como é hoje – indissociável do CDMCC.
Em outro exemplo, basta observar que, sem a escola de música e teatro, ainda que com seus quitutes admiráveis, a Terra dos Doces Caseiros dificilmente seria hoje Município de Interesse Turístico.
Diante de tanto trabalho sendo feito, desde a classificação como MIT, para a ascensão à condição de estância, de repente, a cidade teria de se desdobrar apenas para não perder o atual status, deixando de ser um real atrativo turístico do estado – em caso, óbvio, de qualquer mudança realmente severa.
Em resumo a tantas questões envolvendo o maior patrimônio local, não há nada mais relevante a ressaltar que, sem o Conservatório, não haveria Capital da Música.
Por este motivo, quem de fato é daqui, ou efetivamente venha a ser, precisa se sensibilizar e, conforme a possibilidade de cada um, demonstrar que sabe a importância do Conservatório para Tatuí e, sem a tal falsa modéstia, para a dramaturgia estadual e a música erudita (inter)nacional.
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