O capitalismo dos stakeholders

*José Renato Nalini

O mundo está em permanente mutação e uma delas diz respeito ao papel das empresas. Já houve tempo em que elas existiam para dar lucro a seus donos e dividendos a seus acionistas. Aos poucos, surgiu o conceito de responsabilidade social.

Hoje, pode-se até falar em “capitalismo dos stakeholders”. Na verdade, a cadeia de interessados na atuação empresarial e o círculo deles amplia seu raio para incluir parceiros até há pouco ignorados.

Assim deve-se pensar não só nos empregados, nos clientes, nos fornecedores, mas nas comunidades afetadas, na região em que a empresa se situa ou até onde chega seu alcance, a mídia, a Universidade e a sociedade em geral.

Pensar apenas no lucro dos acionistas desconectou-se da economia real. O propósito de qualquer companhia é engajar todos os stakeholders para a criação compartilhada de valor sustentável.

Não é suficiente pagar os tributos, evitar corrupção, defender os direitos humanos e proteger o ambiente. A missão de uma empresa é responder às aspirações humanas como parte de um sistema social abrangente.

Há uma ampla gama de partes interessadas que já desconfiou do marketing ecológico, que fiscaliza a proveniência da matéria-prima com que a empresa trabalha, que avalia como é que ela trata seus empregados e se não transige com práticas nefastas, como o trabalho infantil.

Hoje a sociedade não hesita em aceitar que a empresa tem um papel social a desempenhar, muito mais amplo do que o de produzir bens ou serviços. Além de oferecer excelência na produção, ela tem de causar impactos positivos na sociedade a que serve.

Quanto maior a transparência da empresa, sua capacidade de comunicação, mais consolidada a sua reputação e, portanto, a fidelização de seus clientes. Comunicar-se de maneira eficaz é uma necessidade urgente.

Quando uma empresa reconhece o seu erro, ou não foge às suas responsabilidades, ela obtém um crédito adicional de confiança por parte de uma enorme comunidade de interessados, não apenas de seus clientes.

Já a empresa que tergiversa, que não admite equívocos ou esconde a real situação, põe em risco sua reputação. Bem intangível que leva décadas para edificar, mas basta um minuto para demolir.

* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras.