
Da redação
Depois de um longo período, o artista plástico Rafael Sangrador oficializou a abertura de seu novo ateliê na semana passada, instalado em um espaço anexo às dependências do Colégio Objetivo, à rua Professoro Oracy Gomes, 665, centro.
O novo ateliê dá continuidade a uma trajetória iniciada ainda na década de 1960, com passagens formativas por Madrid, na Espanha (país natal do artista), e com atuação como educador de várias gerações de artistas e profissionais de áreas correlatas.
O espaço tem como proposta unir práticas de ensino e produção artística, a partir de fundamentos da arte clássica e de técnicas variadas. Além disso, o ateliê está aberto para exposições e outras atividades voltadas à difusão e à valorização da arte como instrumento de conhecimento, expressão e formação cultural.
Conforme Sangrador, a decisão de retomar um espaço próprio para o ensino e a prática da arte surgiu após 2022. “Havendo retornado depois de uma larga ausência de Tatuí e, considerando que passaram pelo meu ateliê alunos, hoje formados em áreas como arquitetura, moda, belas artes — e alguns ou algumas exercendo as atividades profissionais aqui em Tatuí e outras cidades, como São Paulo —, pensei na possibilidade de voltar a montar um novo ateliê”, afirma.
Ele explica que o espaço foi pensado com características próprias do ensino da arte clássica, “assim como aprendi em Madrid, Espanha, alguns anos na década de 1960 e outros na década de 1970”.
Para o artista, o compromisso com a realização do projeto vai além de uma decisão racional. “Na verdade, é o que eu chamo de armadilha. Explico: cada vez que me proponho à execução de uma ideia, um projeto, crio e me arrastão em uma responsabilidade na qual entro de cabeça, vou em frente, sempre driblando acertos e desacertos.”
A escolha pelo novo endereço se deu por conta da descoberta de um espaço adequado, nas instalações do Colégio Objetivo, em Tatuí. “Sem nada a ver com o colégio propriamente dito, é um espaço individual e isolado, sem qualquer contato com as instalações do colégio”, pontua.
Ensino e produção
O novo ateliê funciona como espaço conjugado de estudo e produção. A denominação da área didática é apontada como “Curso de Visão Espacial”, com aplicações de diversas técnicas, antecipa o artista.
“Pretendo eu mesmo trabalhar e o fazer junto com os interessados e interessadas, fazendo um todo de cada momento de convívio em um espaço singular para o exercício do fazer artístico”, comenta Sangrador.
O espaço também inclui a realização de exposições com os trabalhos dos alunos, o que, segundo o artista, contribui para o reconhecimento por parte do público e a valorização das obras. “Conforme for, algumas obras poderão ser vendidas, se houver interessados”, antecipa.
Sobre o que será ensinado e praticado no ateliê, o artista afirma que o foco é mostrar que “arte não é um mero passatempo, que precisa de conhecimento e entendimento”. O objetivo, segundo ele, é que os alunos busquem a realização pessoal e, se for o caso, profissional, por meio da arte.
“As técnicas para o ensino seguirão a aplicação dos diferentes materiais”, explica, listando alguns: grafite, lápis de cor, fusain, nanquim, pastel oleoso e pastel seco. Os materiais poderão ser utilizados de forma individual ou combinada, conforme as possibilidades e necessidades de cada trabalho.
O domínio do desenho, contudo, é vital. “Parto da base em que o conhecimento e o domínio do desenho são fundamentais para qualquer outra aplicação: óleo, têmpera, guache, aquarela etc.”
Para o artista, entender o conceito de “visão espacial” é essencial ao desenvolvimento da prática artística. “O objetivo das aulas é ensinar a apreciar o que é sólido e como se representa em imagem. O resto é pôr mãos à obra e produzir arte.”
O ensino parte da interpretação de modelos naturais e incentiva que cada aluno desenvolva sua própria linguagem. “Com o aprendizado e a prática constante, espera-se, sem dúvida, que cada aluno siga sua própria intuição e aplique as técnicas que melhor desempenhe e satisfaçam”, acentua.
Novidade do projeto
O diferencial do novo ateliê, segundo Sangrador, está no método clássico de ensino, “que busca estabelecer uma relação entre observação, leitura e conhecimento”.
“Após uma real compreensão entre o que é e o que representa. Uma fotografia com a amostragem de alguém não é esse alguém, e sim a sua imagem. Consequentemente, devemos interpretar que o que é, é tridimensional; e o que está na imagem — foto, desenho, pintura etc. — é uma representação.”
Sobre o que espera alcançar com o projeto, o artista afirma que sua principal intenção é “mostrar que a vida pode ser interpretada a partir da arte, sair do mundo das ideias para partir para os fatos”.
Ele acredita que a prática artística contribui para a organização de pensamentos e ações. “A realização de trabalhos no mundo da arte produz sensação de realizações e ajuda a organizar pensamentos e ações com a utilização dos materiais”, defende.
A autocrítica também é apontada como um dos efeitos do aprendizado artístico. “Essa maldita que nos faz sempre voltar ao início para verificar a associação entre o que pensamos, queremos fazer e o que fizemos”, reconhece o artista.
Sangrador complementa sua visão com uma analogia: “Trabalhar o desenho, fazer arte, nada é tão diferente de escrever um texto. Desenho é texto igualmente, assim como a escrita é um desenho com possivelmente o mesmo significado.”
Abertura e eventos
O ateliê, conforme informou, está aberto a todos os interessados, a partir de 14 anos, com possibilidade de exceções. A realização de eventos está prevista, embora exija alinhamento com a instituição onde o espaço está localizado.
“Não devemos esquecer que o ateliê está dentro de uma instituição de ensino, o que deve ter que negociar o que, como e quando o fazer”, conclui o artista.
Embora sem vínculo direto com a instituição, o espaço permanece aberto de segunda-feira a sexta-feira, das 14h às 17h e durante as aulas, das 18h30h às 22h30. Contatos podem ser feitos pelo fone (15) 99775-2441 ou por e-mail (fazconarte@uol.com.br).