Nova etapa do MIS de Tatuí apresenta sua museologia

Responsáveis pelo projeto detalham futuro acervo do museu

Perspectiva da expografia “Cinema, Rádio e Televisão: a Era das Comunicações de Massa” (imagem: Arquiprom)
Da reportagem

Na quinta-feira, 20, o Centro Cultural de Tatuí sediou nova reunião do Comitê Consultivo do Museu da Imagem e do Som de Tatuí (MIS), com o intuito de atualizar sobre o andamento da construção do local e apresentar o Plano Museológico do MIS, localizado na avenida Domingos Bassi, esquina com a avenida Marginal do Manduca.

Estiveram presentes: a arquiteta, especialista em museografia e sócia-proprietária da empresa Arquiprom, responsável pelo projeto da expografia do museu, Sílvia Landa; o historiador e pesquisador Roney Cytrynowicz, o historiador e chefe de gabinete da prefeitura, Christian Pereira de Camargo; o secretário do Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, Cassiano Sinisgalli; a secretária da Educação, Elisângela da Costa Rosa Cecílio; o diretor municipal da Cultura, Rogério Vianna; a museóloga Cecília Machado; a técnica em Museologia Laís Ribeiro Lessa; e o representante da Fadel – Transportes e Logística, patrocinadora do MIS, José Luiz Vieira; além de diversos representantes da área cultural do município.

Dia 10, na Câmara Municipal, os vereadores aprovaram o projeto de lei 57/22, assinado pelo prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior, que autoriza a continuidade das obras de implementação do museu.

O documento dispõe sobre a abertura de crédito adicional especial, no valor de R$ 596.662,09. O recurso será utilizado para a conclusão da “fase 2” das obras, que englobam serviços de assentamento de piso, instalação de esquadrias, instalações elétricas, recuperação de vãos e aberturas, recuperação de alvenaria, cobertura e passarela, construção de arena, pavimentação externa e aquisição de equipamentos e mobiliário.

Segundo Sílvia, o projeto vem sendo trabalhado há mais de um ano pela empresa, que também fez a expografia do Museu “Paulo Setúbal”. “Somos os proponentes do MIS de Tatuí. Agora, seguimos para a fase de desenvolvimento do conteúdo expográfico”, informou.

O encontro teve a apresentação do “plano museológico” do MIS, realizada por Cecília, que reforçou a importância da participação popular no projeto, por meio do diálogo e de representações.

Silvia detalha a planta estrutural da sede do MIS e explica função de cada cômodo (foto: Fábio Morgado Rotta)

Ela descreveu o plano como “um documento de reconhecimento jurídico e uma ferramenta de planejamento estratégico, que compreende os níveis tático e operacional, iniciado pelo planejamento conceitual por meio da definição da missão, da visão, dos valores, dos objetivos e do diagnóstico da instituição e que alinha os seus programas, projetos e ações, de forma global e integrada”.

“É importante destacar o entendimento dos museus como práticas e processos socioculturais colocados a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, politicamente comprometidos com a gestão democrática e participativa e museologicamente voltados para as ações de investigação e interpretação, registro e preservação cultural acerca da realidade brasileira”, pontuou Cecília.

Para a museóloga, a pesquisa em museus visa compreender que a instituição, com acervo e temática específicos, é uma fonte de conhecimento, de informações geradas pela equipe técnica e disponibilizada para seus públicos, que variam desde estudantes, turistas, comunidade local, pessoas em busca de lazer e cultura, até um público mais especializado, com interesse voltado para a pesquisa científica, “que também pode se apropriar do acervo e temática do museu para suas pesquisas e encontrar neles uma rica fonte documental e de reflexão”.

“Além da pesquisa de conteúdo relacionada ao acervo museológico e à temática específica, também é importante que o museu realize pesquisa sobre seu público e sobre o seu não público, formado por aqueles grupos de pessoas que não o visitam”, mencionou Cecília.

“Para nós, quando percebemos que a comunidade, de modo geral, está presente na construção deste diálogo de memória, a instituição museológica se torna mais significativa para Tatuí”, enfatizou.

Para ela, o MIS, além de representativo e permanente, se tornará um lugar em que as pessoas irão muitas vezes. “Isso é uma forma de compartilhamento de sua história e, também, de sentir-se representado e orgulhoso de sua cultura”, acrescentou Cecília.

Em seguida, Silvia apresentou os croquis da expografia feitos pela equipe da Arquiprom. Neles, constam diversos registros históricos orais, pesquisas em acervos do Museu Histórico “Paulo Setúbal” e junto a memorialistas da cidade.

Ela descreveu o que foi projetado para compor o MIS, bem como os setores que existirão no futuro museu: em “Memorialistas”, haverá imagens em fotografias e filmes de Tatuí, registradas por memorialistas que as produziram ou as preservaram. “Graças a estes pioneiros, podemos contar com uma memória visual e sonora da cidade”, sustentou a arquiteta.

Já em “Sons de Tatuí”, o acervo contará com cururu, seresta, fandango, Cordão dos Bichos, outras expressões da cultura da música popular, a cronologia do Conservatório de Tatuí e referências ao título de Capital da Música.

“Tatuí sempre manteve uma tradição de bailes em clubes e salões, animados por conjuntos, bandas e orquestras variadas, das jazz bands aos grupos de rock”, lembrou Silvia.

Cytrynowicz, Silvia, Sinisgalli, Pereira de Camargo e Cecília, durante apresentação de plano (foto: AI Prefeitura)

No setor “Teatro”, será detalhada a cultura teatral, focando nas atividades da área, desde a fundação da Sociedade Recreio Dramático, em 1871, que construiu o Teatro São João, até a história do prédio do “Teatrão”, que ficava na praça Martinho Guedes, onde atualmente é a praça de alimentação.

Na expografia “Cinema, Rádio e Televisão: a Era das Comunicações de Massa”, será feito um trabalho cronológico, começando pelo cinema no começo do século 20; depois, o rádio nos anos 1920; e a televisão, nos anos 1940 e 1950.

“Tatuí esteve sempre inserida neste circuito. Maurício Loureira Gama, nascido na cidade, tornou-se o primeiro apresentador de um telejornal na TV brasileira”, destacou. Gama, aos 16 anos, começou a escrever no jornal O Progresso de Tatuí.

“Antonio Del Fiol foi um conhecido locutor de rádio e TV e a atriz Vera Holtz começou a carreira em 1979, tornou-se uma das atrizes mais conhecidas por conta das novelas na Rede Globo”, complementou.

Na quinta expografia, intitulada “A Alma do Instrumento: da Luteria ao Streaming”, a ideia, segundo Silvia, é detalhar a cadeia produtiva da música no município, por meio do curso de luteria do Conservatório e do de produção fonográfica da Fatec (Faculdade de Tecnologia).

Por fim, a “História do Matadouro” será na parte externa do prédio. Lá, o público verá referências iconográficas, valorizando o edifício que deu origem ao MIS.

Silvia relatou que o complexo prevê mais dois lugares interativos: o “Anexo do MIS”, composto por uma sala multiuso para atendimento do educativo; e o “Teatro de Arena”, instalado no gramado em frente à edificação, para receber apresentações artísticas.

A arquiteta contextualizou que o prédio do antigo matadouro era “bonito, porém, pequeno”. Em conversa com a prefeitura, foi proposta a utilização da praça em frente ao espaço e a construção de um anexo, para a área administrativa.

Já o prédio histórico deve concentrar as exposições de longa duração. Haverá, também, um espaço para eventos culturais na área externa. “O MIS ganhará visibilidade em toda a área em que está inserido”, afirmou a arquiteta.

O projeto, exposto aos convidados na reunião, terá uma entrada coberta, com um banco comunitário para as pessoas se acomodarem. Para Sílvia, é importante que haja espaços de convivência.

Para Sinisgalli, é essencial que se mantenha um grupo focado, em forma de conselho, para que, mesmo após a inauguração do espaço, ele continue atuando para que os atrativos do museu sejam mutáveis.

“O sucesso do espaço será visto depois de sua implantação. Por isso, é necessário que haja um comprometimento espontâneo com o que será mostrado no museu ao longo de sua existência”, pontuou.

De acordo com Cytrynowicz, a procura pelos acervos da cidade está intensa. “Trabalhamos em conjunto com o comitê. Isso tem ajudado muito no levantamento e na formatação de forma eficaz do material que será exposto futuramente”, detalhou. Para ele, a criação de um espaço com exposições permanentes é vital para a cultura da cidade.

“Meu trabalho é garimpar o que há, para que seja mostrado às futuras gerações”, pontuou. Cytrynowicz tem realizado frequentes visitas a Tatuí com o intuito de captar o material para a expografia do MIS.

O historiador antecipou que alguns elementos do antigo matadouro serão mantidos. “Eles serão importantes para compor a história da edificação. É importante que o público saiba o que acontecia naquele lugar. Esse resgate é genial”, frisou.

Durante a reunião, foram feitos os registros de doações de dois itens: o piano “Grotrian Steinweg Nachf Braunschweig” que já foi de propriedade do maestro Antonio Carlos Neves Campos, doado por Ana Aparecida de Melo Sá Azevedo Vieira; e uma pasta, doada por Luiz Antônio Voss Campos, contendo diversos arquivos históricos, entre os quais, discos compactos de vinil de músicos tatuianos, como Os Tropeiros da Mata, Jair e Irene, Coronel Teixeira e Roque de Paula, além de documentários sonoros e jornais.

Esses itens, recebidos em forma de doação ou comodato, farão parte do acervo do MIS, cuja reserva técnica será no Museu Histórico “Paulo Setúbal”.

“Poder fazer parte deste projeto doando itens históricos para que outras pessoas tenham acesso é um ato de cidadania e coletivo. Nós, tatuianos, temos de valorizar a nossa cultura e dar a devida importância a esse museu, que será fundamental para a disseminação da história do município, bem como das personalidades que aqui nasceram e levaram o nome da cidade para os quatro cantos do país”, observou Voss.

Ele reforçou a importância de doar itens ao MIS. “Quem tiver algo para doar, que seja da proposta do museu, doe. Muitos materiais estão se perdendo por conta de pessoas que não querem e não sabem para quem disponibilizá-los. A história não pode ser esquecida. Doem”, concluiu.