Fosse apresentado uma avaliação a todos os pais, com múltiplas escolhas acerca de suas expectativas quanto à educação dos filhos, seria muito estranho que as opções menos assinaladas fossem a “formação de cidadãos plenos”, “absorção de conhecimento didático” e “preparo técnico visando à profissionalização”.
Por conseguinte, as menos indicadas seriam, por exemplo, a “formação de militantes político-partidários” (seja de que suposto lado for, tanto faz), “musicalização de hinos” ou mesmo “adoração de bandeiras”.
Óbvio: para evitar qualquer confusão, é preciso ressaltar que o respeito aos símbolos pátrios também implica em efetiva cidadania – porém, a qual não se resume apenas nisso, tampouco em misancene ufanista.
O respeito ao próximo, às “diferenças” (sejam de orientação religiosa, classes sociais, raças, ideologias, sexualidade, entre tantas outras), não são menos importantes para um futuro mais harmonioso e bem-sucedido do país. Com certeza!
Educar, também sem qualquer dúvida, só pode ter um ponto aceito em termos de uniformidade: na vestimenta dos estudantes, e só!
Seria insanidade acreditar que um sistema educacional tão amplo e heterodoxo – embora falho, até porque perpetrado por seres humanos, os tão maltratados professores – ficaria melhor se lhe imposta uma cartilha rígida de posturas “morais e cívicas”, os jovens e crianças passassem a ser tratados como soldadinhos e os mestres, vigiados como bandidos.
Aliás, essa sistemática acusação contra os professores, insinuando que estão por aí não dando o melhor que podem em meio a desafios diários e nada pequenos, mas somente fazendo política em favor de uma imaginária conspiração mundial, também não deixa de ser delírio – além de franco desrespeito aos mestres e, portanto, péssimo exemplo (de falta) de educação.
O que se deve esperar da “boa educação”, por derradeiro, é a formação de novas gerações aptas a atuarem com competência nas mais variadas atividades, que prezem pelo respeito mútuo, sejam dignas, honestas e nada ignorantes. Tarefa difícil…
Fácil, não obstante, é reconhecer que essa meta jamais será atingida sem a valorização dos professores e, além da transmissão do conhecimento formal, da liberdade no fluxo de ideias e debates que estimulem o senso crítico – ou seja, algo muito distante da imposição verticalizada de diretrizes estranhas ao “amplo saber” e aos preceitos básicos da democracia.
Ao final da primeira jornada da educação – fundamental a um novo Brasil, se bem concluída -, cada criança que hoje estuda, fora ter se tornado efetivo cidadão, ganharia oportunidade de melhor escolher e exercer a profissão de sua escolha.
Se for essa a de militar, ótimo – até porque esse ofício é digno e extremamente necessário ao país. O que não é nada necessário, tampouco digno, é se ignorar o Estatuto da Criança e do Adolescente para colocar alunos feito figurantes de publicidade, senão como garotos-propaganda de partido político – com ou sem o consentimento dos pais.
Nota zero!
Por todo esse colossal desafio de melhorar a Educação nacional de verdade, em meio a tantas provas de conteúdo lamentável, Tatuí teve privilégio de dar excelente exemplo, sediando evento na direção do melhor caminho possível: a da conscientização.
O “TEDxTatuíED”, primeira conferência da plataforma TED (organização sem fins lucrativos), aconteceu na semana passada, no Sítio do Carroção, reunindo grandes nomes da área de educação.
O encontro somou cerca de cem pessoas na sala principal e foi transmitido, simultaneamente, para 400 alunos no auditório da Fatec Tatuí e pelo site oficial do evento. As palestras ainda foram gravadas e serão disponibilizadas no canal oficial do TEDx no Youtube, gratuitamente.
Durante o dia, foram ministradas 16 palestras curtas (de até 18 minutos cada), abordando a educação de modo geral, não só voltada aos educadores na escola, mas como “cidadania”, focando metodologias, políticas públicas, inclusão, inovação e tecnologia.
“Abordamos a educação como respeito, formação do cidadão, cidadania, sustentabilidade e a sociedade como um todo. Até questões como diversidade, igualdade e racismo foram debatidas”, apontou a organizadora e licenciada TEDx em Tatuí, Fabiana Grechi.
Para Popó Manoel Leite, CEO do Sítio Carroção, a conferência “foi um divisor de águas e até de quebra de fronteiras”. A O Progresso, ele destacou que o TEDx disseminou “educação, cultura, modos de vida e pontos de vista muito importantes para a evolução das pessoas”.
Por sua vez, o juiz de direito Marcelo Nalesso Salmaso também salientou os benefícios das discussões. “Um evento como este discute a necessidade de uma escola que trabalhe cooperação, que ela promova pertencimento para todos que convivem no espaço escolar e aglutina pessoas com uma nova visão de escola e de sociedade”, frisou.
“Essa ideia de que existe alguém que sabe tudo e que enfia conhecimento na cabeça dos alunos, simplesmente para transmitir conhecimento, é uma dinâmica que foca só na transmissão de conteúdo e não se preocupa em trabalhar outras dimensões que são importantes, como cidadania, valores e ética nas relações”, reforçou.
“Como uma comunidade global, acolhendo pessoas de todas as disciplinas e culturas que buscam uma compreensão mais profunda do mundo, o TEDx acredita, apaixonadamente, no poder das ideias para mudar atitudes, vidas e, finalmente, o mundo”, resume a organização.
Nota dez!