Sherlon Adley *
Uma caricatura amorosa, que tinha como objetivo fazer rir sem nunca esquecer de homenagear todas as mães do Brasil. Foi esse cuidado em equilibrar o humor, emoção e identificação com o espectador que transformou a personagem Dona Hermínia, de Paulo Gustavo, em um sucesso estrondoso. Mais do que isso, foi o que permitiu que o ator impulsionasse o cinema nacional, elevando às alturas o patamar de público.
Como profissional que atua na área de exibição, não posso deixar de destacar que foi impressionante e muito bom ver um ator brasileiro brigando de igual para igual com grandes produções internacionais.
Somados, os três longas “Minha Mãe É uma Peça” levaram mais de 30 milhões de pessoas para as salas de exibição. Ele conseguiu, com o lançamento do último filme da série, em 2019, superar a bilheteria nacional de “Star Wars” e “Frozen 2”, lançados no mesmo ano.
Relembrar esses feitos é nos transportar direto para o mundo pré-pandemia, em que brasileiros lotavam as salas de cinema e permaneciam nas filas antes mesmo da bilheteria abrir para acompanhar cada nova cena de Dona Hermínia. É lembrar de um ator que conseguiu ter o público “na mão”. E isso aconteceu porque Paulo foi um fenômeno. De público e de talento.
Ao partir tão cedo, mas depois de ter entregado tanto para todos nós, Paulo Gustavo, que sempre tentou fazer o público rir, fez pela primeira vez todo o país chorar.
Mas junto com a tristeza, vieram também cada vez mais histórias, narradas por fãs, amigos, colegas de trabalho, que nos mostraram que fora das telas ele também era grande!
Doações ao longo da pandemia, carinho com os fãs, cuidado e atenção com os mais próximos, cada novo relato foi nos mostrando que era esse carisma do Paulo Gustavo, o ser humano, que entrava nos personagens e ultrapassava a ficção, nos atingindo em cheio do lado de cá. Não dava para ele não ser um gigante.
E aí, não dava também para essa perda não abater todos nós. Mas se tem uma lição muito valiosa que não podemos deixar de levar com isso, é que, com a ida tão precoce de um ídolo, nós também precisamos tirar um minuto para lamentar cada vida perdida nessa pandemia.
É hora de refletir, de cuidar mais dos nossos, sem nunca esquecer de cuidar também dos outros. Juntos, nós vamos em breve voltar a sorrir e abraçar, sem distanciamento.
Parafraseando o próprio Paulo Gustavo no discurso de encerramento do seu especial de fim de ano: “O humor salva, transforma, alivia, cura, traz esperança pra vida da gente (…) Rir é um ato de resistência!”.
Paulo Gustavo com certeza fará muita falta. Mas nós seguiremos aqui, rindo de suas cenas, resistindo e sempre aplaudindo. Deixo aqui meu adeus e, principalmente: muito obrigado por tudo, Paulo!
* Diretor comercial e de marketing da Cinesystem.