Tião

Apanhou o velho chapéu amarrotado, que os meninos galhofeiros haviam jogado no areão, e retirou-se, cambaleando e murmurando palavrões, à procura de outra venda que vendesse pinga. Precisava ficar longe da molecada malvada.

Tião tinha sido voluntário da Revolução de 32. Entusiasta da causa dos paulistas, chegou a ser promovido a cabo. Com a derrota, embrenhou-se por aquelas bandas do sertão longínquo.

Tornou-se escravo do vício; um revolucionário devastado pela cachaça; molambo humano sem parentes, sem amigos e sem uma companheira. Vivia de ganhos por pequenos serviços, que lhe davam por caridade.

Carpia mato nos quintais, deixava secar, fazia os montes e botava fogo para, depois, varrer. Deixava tudo limpinho. Só vendo! As mulheres adoravam o capricho do Tião. Às vezes, até levavam uma caneca de café para ele, durante o serviço.

Numa tarde morna e tranquila, ouviu-se o planger do sino da capela, lá no caminho do cemitério. Algumas pessoas acompanhavam, em pesado silêncio, a carreta da subprefeitura conduzindo o caixão de Sebastião Domingos, cujo corpo, já em mau estado, fora encontrado atrás da velha casinha de tábuas abandonada, próxima ao campo de futebol…