Tempo de educar





No momento, quem tem contas a pagar (quase todos, portanto) está mais preocupado em saber como honrará seus compromissos, ou, então, torce para não perder o emprego. É a crise que a todos atinge, de uma forma ou outra.

As possíveis soluções são muitas e, certamente, houvesse uma alternativa inquestionável, não existiria oposição – mesmo na instância política, a despeito dos outros interesses além dos “mundanos” da população em geral.

Não obstante, como sempre, persiste uma unanimidade, uma só, que ninguém ousa contestar, mas que, apesar disso, nunca progride verdadeiramente: a educação.

É comum a afirmação de que, no futuro, se a educação for boa no presente, a maioria dos problemas deve desaparecer, senão diminuir em muito. Mais educação, menos crises.

Apesar disso, do consenso, a educação formal no país continua a distanciar-se e, consequentemente, a indicar um futuro muito preocupante, posto que dividido entre os cidadãos oriundos da escola privada e os da pública. Um “apartheid” educacional e, obviamente, social.

Por esse motivo, é muito animador o que será efetivado, na cidade, junto à escola “Barão de Suruí”. Desse tipo de iniciativa, sim, pode-se esperar o tal “futuro melhor”.

A escola estadual “Barão de Suruí”, conforme noticiado na edição de quarta-feira, será a primeira unidade escolar a integrar o programa de tempo integral do Estado.

A unidade está entre as 39 que adotarão o novo modelo de ensino, promovido pelo governo de São Paulo a partir do próximo ano letivo. No novo programa, a escola passará a oferecer, no contraturno das aulas regulares, atividades esportivas e culturais.

Entre as principais mudanças a serem implementadas, estão o aumento do tempo de permanência do aluno na unidade e a inserção de disciplinas diversificadas.

Os alunos permanecerão na escola das 7h30 às 16h30 – no caso do ensino médio – e das 7h30 às 15h30 – no de alunos do 6o ao 9o ano do ensino fundamental.

Nesse período, passarão a receber três refeições diárias: café da manhã, almoço e café da tarde.

Além da grade curricular obrigatória, receberão orientação de estudos, “preparação para o mundo do trabalho” e auxílio na elaboração de “um projeto de vida”.

Fora as disciplinas obrigatórias, os estudantes contarão com disciplinas eletivas, escolhidas de acordo com “seu objetivo”.

Os professores desse modelo atuam em regime de dedicação exclusivo e, para isso, recebem gratificação de 75% no salário, incluindo o incorporado durante a carreira.

Entre as atividades culturais e esportivas programadas, estão, por exemplo, os “clubes juvenis”, cujos focos serão indicados pelos próprios alunos.

“Poderá ser clube de xadrez, cinema, moda, matemática, eles é que vão escolher. Com isso, vamos desenvolver, nos alunos, o protagonista juvenil, a liderança. Aliás, um dos lemas da escola é educação pública de qualidade; outro, é a formação de líderes”, explica o diretor Marcelo Miranda.

Dentro da grade curricular, o desenvolvimento da liderança estará atrelado ao que o diretor denominou de “projeto de vida”. Não apenas o ensino regular, mas a formação de “indivíduos responsáveis socialmente” estará sendo pensada no novo modelo de ensino.

“Vamos perguntar ao aluno aonde ele quer chegar, estimular a ter um projeto de vida. E ele terá um professor tutor, que irá acompanhá-lo na conquista desse sonho”, disse Miranda.

As disciplinas eletivas envolvem aulas de modalidades esportivas como judô, taekwondô, tai chi chuan, xadrez, atletismo, handball, futsal, entre outras.

Entre os momentos de vivência organizados pela escola, está, por exemplo, o que será dedicado à leitura, iniciativa inspirada em ações semelhantes desenvolvidas no Japão e Canadá.

Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Cultura, o rendimento dos alunos matriculados na modalidade aumentou até 81% em leitura e 71,1% em matemática.

“A escola irá trabalhar nos aspectos intelectual, moral e físico do aluno. Esta missão estará, inclusive, em nosso emblema”, afirma Miranda, destacando que a unidade irá adotar uniformes escolares diferenciados.

A confirmação da escola “Barão de Suruí” como unidade de tempo integral levou cerca de um ano. De acordo com Miranda, há pelo menos três anos ele vem acompanhando e pesquisando o sistema. No início de 2015, a escola foi inscrita como interessada em adotar o novo regime.

“Após a inscrição, recebemos visita de uma equipe técnica, que averiguou as condições estruturais e o espaço para laboratórios de química, física e biologia”, contou Miranda.

Segundo o diretor, após a confirmação do novo sistema, os pais dos alunos foram comunicados e puderam optar pela permanência dos estudantes na unidade de ensino.

Com a opção e a formatura dos que estão nas classes finais do ensino médio, o número de estudantes cairá de 1.050 para 550.

Para ingressarem no novo sistema de ensino, os alunos já matriculados na “Barão de Suruí” têm prioridade. Já os alunos que partirão da rede municipal e iniciarão o 6o ano do ensino fundamental poderão optar pelo ingresso.

Segundo Miranda, uma reunião com os pais de alunos e a Secretaria Municipal de Educação, coordenada por Ângela Sartori, apresentará o sistema de ensino, e, após o encontro, os pais poderão aderir. São oferecidas 120 vagas para o sexto ano.

Ainda conforme o diretor, para as demais séries, é possível efetuar transferência até o dia 15 de novembro, ainda para o ano letivo de 2015.

“Desta forma, o aluno terá vaga garantida. Do contrário, faremos um levantamento de vagas no próximo ano, e os interessados devem procurar a secretaria escolar”, afirmou.

O sistema de escola integral prevê maior envolvimento entre alunos e professores. A permanência prolongada permitiria o desenvolvimento de ações voltadas, inclusive, à “educação emocional” dos alunos, tema que será trabalhado diretamente por Miranda em programa desenvolvido por ele exclusivamente para o ambiente escolar.

“O Barão de Suruí será a única escola de Tatuí a integrar o programa, mas esta é uma tendência que percebemos em todo o Estado de São Paulo e, mesmo, no Brasil”, destacou.

Em que pese a incerteza quanto ao que viria a ser um “projeto de vida” e a formação de “indivíduos responsáveis socialmente”, sem dúvida, a preocupação em formar cidadãos mais bem educados é indescritível em termos de virtudes. Portanto, que essa iniciativa floresça e semeie não apenas Tatuí, mas todo o país.