Tatuí­ fica abaixo de projeção para dengue





AC Prefeitura / Evandro Ananias

Palestra realizada na Fatec integrou ações deflagradas por equipe de combate à dengue para controlar os casos

 

Projeção divulgada pela coordenadora da VE (Vigilância Epidemiológica), enfermeira Marilu Rodrigues da Costa, para os casos de dengue em Tatuí não se cumpriu. A Secretaria Municipal da Saúde atualizou nesta quinta-feira, 11, o total de casos registrados na cidade. Até a data, eles contabilizavam 464.

A estimativa inicial, feita em março deste ano, era de que as confirmações pudessem passar de mil. Na ocasião, a enfermeira informou que a previsão do Estado para Tatuí era de que o município registrasse até 1.100 casos, passado o período de alta (que teve início em abril).

“Felizmente, a previsão não aconteceu”, comentou a titular da Saúde, Cecília Aparecida Xavier de Oliveira França. No entanto, Tatuí manteve a alta nos casos autóctones. Do total confirmado, 347 são de pessoas que contraíram dengue no município, o equivalente a 74,78% do total.

Os importados somavam, até a quinta-feira, 117 casos. Já as notificações passavam de 1.100. “Esse percentual varia todo dia”, destacou o coordenador do setor de combate à dengue, Toni Sumio Ogata. Conforme ele, o diagnóstico do governo não se concretizou em Tatuí por uma soma de fatores.

“Primeiro, porque a população respondeu; segundo, porque a equipe atuou mais fortemente. Foi uma somatória, e o clima também ajudou”, argumentou.

Segundo o coordenador, a chegada de uma frente fria, em maio, contribuiu para que não houvesse maior proliferação do mosquito transmissor.

Diferentemente dos anos anteriores, os registros de dengue em Tatuí começaram em janeiro. Até então, Ogata explicou que as notificações ocorriam a partir de abril, com pico de casos na terceira semana (final do mês).

Em 2015, Tatuí contabilizou dez casos em janeiro. No mês seguinte, houve aumento de 320%, com 42 confirmações. Em março, a doença cresceu mais 228,57%, passando para 138. A cidade atingiu o “pico” em abril, com 193 casos. Em maio, a secretaria registrou a primeira queda, de 58,03%, com 81 casos.

“Em junho, nós esperamos que tenhamos menos casos ainda”, informou a secretária. Cecília disse que a expectativa é de que, com a chegada do inverno, que tem início no dia 21 deste mês, tanto as notificações como as confirmações caiam. O motivo é que o clima interfere na reprodução do Aedes aegypti.

As estatísticas do município estão dentro do protocolo da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias). Conforme Ogata, o órgão prevê que os meses de abril e maio são os “piores” em termos de contaminação.

De acordo com o coordenador, apesar de Tatuí não ter chegado ao patamar cogitado, os munícipes não podem ficar sossegados. “De maneira alguma, porque, apesar de diminuir os casos, é preciso cuidar dos recicláveis”, ponderou.

Ogata ressaltou que a preocupação da secretaria, no momento, passou a ser com a estocagem desse tipo de material (garrafa pet, embalagens plásticas e outros) nas residências. São nesses objetos que o mosquito transmissor da doença costuma pôr os ovos, uma vez que eles acumulam água.

Por conta do inverno, o clima fica mais seco e sem chuva. Daí, a redução dos casos. Como o mosquito não encontra condições propícias, tem dificuldade em se reproduzir. Entretanto, Ogata lembra que os ovos depositados nesses materiais podem sobreviver por um período de um ano sem água.

O perigo é que, no verão seguinte, as chuvas aumentem. “Se os objetos estiverem no quintal, com os ovos, eles vão entrar em contato com a água e permitir o surgimento das larvas”, descreveu o coordenador. Como os ovos podem ter sido depositados por um mosquito contaminado, existe risco de novos surtos.

“É muito importante que as pessoas possam sempre fazer vigilância no quintal. Em minha opinião, o que mais preocupa nesse segundo semestre é a presença de recicláveis nas casas das pessoas, que podem abrigar larvas”, disse Ogata.

Conforme ele, a população pode colaborar para evitar um futuro surto, no ano que vem, mantendo seus imóveis limpos e acatando orientações repassadas pelos agentes.

O setor promove trabalhos de eliminação de criadouros, por meio de visitas casa a casa e nos pontos estratégicos e imóveis especiais.

Além de visitar floriculturas, borracharias e empresas, escolas e clubes com grande circulação de pessoas, ele oferece orientação à população.

As informações são repassadas após vistoria nas propriedades, como forma de permitir que os moradores ou proprietários possam contribuir para eliminar criadouros.

Nos casos em que somente as orientações não bastam, o setor viabiliza aplicação de multa. Ela é destinada a quem se recusar a realizar intervenções apontadas pela equipe como necessária. Os agentes, primeiro, verificam se há problema nos imóveis. Aí, deixam um comunicado para o proprietário.

Os moradores têm prazo (que pode variar conforme a gravidade da situação e o tipo de intervenção). Depois disso, retornam para a propriedade.

Caso as orientações não tenham sido cumpridas, o supervisor faz notificação, com mais um prazo. Passado o tempo, se nada ocorrer, ele aciona a Vigilância Sanitária para que ela, então, proceda com a autuação. “O munícipe tem muito tempo para resolver o problema. Ele só não resolve se não quiser”, disse Ogata.

Conforme o supervisor, em geral, as autuações são aplicadas quando há problemas decorrentes de caixas d’água (vazamento, falta de limpeza entre outros) ou piscinas descobertas (com ou sem água parada). “Essas são os problemas mais comuns que ocorrem e que o munícipe pode resolver”.

Ogata disse que as demais questões ficam por conta do setor. As equipes retiram pneus, fiscalizaram terrenos baldios, notificam para limpeza e percorrem regiões que tenham maior concentração de contágio.

Em março, o número de casos estava concentrado no Residencial Astória, Jardim Lucila e centro (na área da praça Adelaide Guedes, nas proximidades da Etec – Escola Técnica “Salles Gomes”).

Desde maio, a secretaria informou que as notificações e confirmações ocorrem em “pontos espalhados”. Nos bairros com maior registro, como a vila Santa Luzia, a secretaria promoveu nebulização (aplicação de inseticida para exterminar os mosquitos).

Atualmente, todo o serviço é realizado por 15 pessoas. A secretária da Saúde informou que o efetivo voltou ao número original – em março, chegou a 50 – por conta da queda das confirmações e do prazo maior que as equipes têm para proceder com o bloqueio e realizar vistorias e limpezas.

Cecília disse que o reforço foi necessário por conta da alta entre março e maio. Nesse período, agentes comunitários que trabalham no PSF (Programa Saúde da Família) passaram a integrar o trabalho.

“Eles já realizam essa ação de combate à dengue nos bairros em que atuam”, comentou. Por conta da redução dos casos, a secretaria optou por realocá-los aos postos originais.

“Também durante o pico, nós tivemos ajuda da Secretaria Municipal da Educação, Cultura e Turismo. Eles nos deram muita força”, mencionou.

Com auxílio da mesma pasta, Ogata pretende desenvolver uma nova campanha. A intenção é viabilizar a ação entre alunos da rede municipal de ensino para arrecadação de materiais recicláveis. Os itens podem ser doados para a Cooreta (Cooperativa de Reciclagem de Tatuí).

“Já prevendo o próximo verão, podemos dificultar a proliferação e ter probabilidade menor de um surto”, disse Ogata. “Sabemos que muitos materiais estão nos quintais das casas e que eles podem estar com ovos infectados. Então, quanto mais rápido os tirarmos de circulação, melhor”, complementou.

Em Tatuí, as ações de combate à dengue também incluem palestras em escolas e empresas. Elas ficam a cargo da agente de vetores Rosana Alves dos Santos.

“Ela faz um trabalho muito bonito. Vai até as empresas e escolas com um teatrinho de marionetes, por meio do qual transmite conhecimento”, contou Cecília.

Para a secretária, as palestras são fundamentais para a propagação do conhecimento. Em especial, quando envolvem crianças. “Elas são multiplicadoras. Levam notícia e passam conhecimento para os pais”.

Com relação à redução dos casos, Cecília informou que ela se deve também ao prazo dos diagnósticos. No início do ano, o tempo entre a suspeita (notificação) e a confirmação era maior. Por conta disso, a secretaria adquiriu o chamado “kit rápido”, que permitia o resultado em 15 minutos.

Esse tipo de exame era realizado somente em pacientes com suspeita, que procuravam o sistema público de saúde ou particular, até o terceiro dia do aparecimento dos sintomas. “Isso agilizou muito o nosso serviço”, disse a secretária.

A redução do prazo também possibilitou ao setor de combate à dengue agir de maneira mais precisa. Ogata disse que, com isso, a equipe teve condições de saber se precisaria realizar o bloqueio de nove quarteirões (no entorno da residência da pessoa com suspeita), ou não.

“Com isso, nós tivemos mais tempo para nos voltarmos para outros casos importantes”, comentou.