Semana Paulo Setúbal





Na atualidade – particularmente, graças às redes sociais -, todos são escritores (com as avassaladoras escusas à língua portuguesa, algo francamente desimportante nesses meios).

Mas, nem sempre foi assim. Antes, além da necessidade de conhecimento mínimo da língua pátria, era preciso um pouquinho de talento para escrever e, assim, se fazer entender.

Pouco talento não teve um tatuiano em especial: teve muito. Demais! Chegou, mesmo, a ser um dos maiores “vendedores de livros” do século passado – “tipo”, um Paulo Coelho que sabia “escrever bonito”.

Nestes dias, como parte de justa tradição, ele é novamente lembrado, por meio da Semana Paulo Setúbal. Assim, também reconhecendo o devido crédito a quem de direito, é justo lembrar que a longeva homenagem partiu da direção original deste periódico.

O jornal O Progresso esteve à frente das mobilizações para iniciar homenagens ao escritor Paulo Setúbal. Além de divulgar a ideia da celebração e incentivar os líderes locais a fazê-la, o jornal deu amplo espaço às primeiras iniciativas.

Em edição datada de 24 de outubro de 1943, o jornal publicava: “Os nossos meios sociais e culturais movimentam-se neste instante a fim de concretizar uma ideia felicíssima e altamente simpática, que bem merece a unânime aprovação dos tatuianos, a de render homenagem a Paulo Setúbal – o escritor imortal que é um padrão de orgulho para o Brasil e particularmente para Tatuí, sua terra natal.”

Já na edição seguinte, de 7 de novembro, O Progresso divulgou em nota de capa a ação que duraria até a atualidade: um concurso literário entre os alunos locais, a fim de preservar a obra de Setubal.

“Por iniciativa do Grêmio Paulo Setúbal, acaba de ser instituído um concurso literário entre os alunos do Colégio e Escola Normal, versando os trabalhos sobre o tema ‘Paulo Setúbal e Tatuí de hoje’”, anuncia-se. Os prêmios: ao primeiro colocado coube 100 cruzeiros e ao segundo, 50 cruzeiros. O vencedor do primeiro prêmio foi Jorge Ferreira (integrante da própria equipe de O Progresso).

Na edição de 14 de novembro, a iniciativa é elogiada: “As primeiras reações à ideia de se fazer anualmente uma homenagem a Paulo Setúbal vão surgindo. O Grêmio ‘Paulo Setúbal’, por iniciativa de seu presidente Lazaro Geraldo Pacheco, organizou um concurso que será, sem dúvida, o marco inicial de uma competição que, nos anos vindouros, irá demonstrar a capacidade literária de nossos moços”.

Desde essa época ficou determinado que as comemorações seriam anuais – sempre próximas a 11 de agosto (embora a primeira edição tenha ocorrido em dezembro de 1943, no Clube Recreativo).

Logo nessa edição, conferencistas foram convidados para ministrar temas relacionados a Setúbal, sendo o embaixador José Carlos de Macedo Soares convidado a abrir o evento.

Uma comissão foi nomeada para organizar as atividades em diferentes áreas, todas voltadas a Setúbal. A comissão era formada por Fernando Guedes de Morais (coordenador), Paulo Silvio Azevedo (teatro), Nacif Farah e Ritinha Holtz Stadler (música), Francisco Hoffmann, Ari Villa Nova, Adão Bertin e Alberto Stape (social), Carlos de Morais (propaganda radiofônica), Lazaro Pacheco (auxílio aos alunos em pesquisas para o concurso) e Jorge Ferreira, de O Progresso (imprensa).

A partir do ano seguinte, páginas inteiras foram dedicadas à divulgação das atividades da já denominada Semana Paulo Setúbal, em agosto.

A comissão de trabalhos – que ia de música a educação física – era formada por mais de 30 pessoas. O Progresso, até a atualidade, divulga os trabalhos literários vencedores dos Prêmios “Paulo Setúbal”.

Antes, no entanto, tratava-se apenas de homenagem. Hoje, é mais: serve como estímulo, esperança de que, a despeito dessa nova forma de comunicação tão eficaz nos meios quanto absurda nas mensagens, a verdadeira língua portuguesa seja mais valorizada, tratada com carinho e atenção.

Se, daí, surgirá um novo Paulo Setúbal, não se sabe. Mas, ainda que isto não ocorra, a manutenção dessa tradição é merecedora do maior respeito e apoio.