Sem perder o trem da história

Acabaram as eleições de 2018 e os eleitos sequer tomaram posse. No entanto, a campanha de 2020 já teve início, não por candidaturas específicas, mas pelos grupos de situação e oposição, que começam a reorganizar-se a partir de uma realidade claramente menos serena e objetivando as necessárias alianças.

Não por outro motivo e sobejamente pela avassaladora tormenta dos extremismos, os homens públicos e candidatos “a” não andam perdoando nada que não lhes convém – inclusive, as notícias, sejam boas ou ruins, a depender do lado de cada um.

Ou seja, muitos sempre andam infelizes, desejando que a público somente chegue o que lhes importa. Não obstante, como o jornalismo minimamente de respeito nunca é feito em função de quem “aparece”, senão, invariavelmente, conforme o interesse de quem recebe as informações, essa insatisfação, além de eterna, jamais deve pautar as reportagens.

Claro, ressalte-se com grande ênfase: insatisfação da parte de quem não é democrata, não compreende a função profissional e social da imprensa, tal como ainda carrega imaturidade política. Mas, novamente: jornalismo não existe para estes, e sim para todos!

Concluída a tão enfadonha introdução – embora oportuna diante do chatérrimo e abjeto atual culto do “nós contra eles” -, é com imenso prazer que a cidade deve receber a notícia (positivíssima!) da posse da estação ferroviária pelo município, noticiada nesta quarta-feira, 12.

Como informado, a estação ferroviária abrigará o novo Centro Cultural de Tatuí. A prefeita Maria José Vieira de Camargo esteve em São Paulo, na tarde de segunda-feira, 10, para a assinatura do protocolo de intenções com a empresa Rumo Malha Sul S.A., concessionária que detém o direito de uso do imóvel. O ato formalizou o acordo que transfere a administração do prédio histórico para a Prefeitura.

Isso significa que a cidade alcançou, junto ao DNIT (Departamento de Infraestrutura de Transportes), a concessão que permite a revitalização e o uso do prédio como equipamento turístico e cultural.

De acordo com o secretário do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli, a intenção é utilizar o espaço como um novo equipamento turístico. Mesmo assim, o protocolo apresenta algumas exigências para que a Prefeitura tenha a concessão do imóvel.

“No contrato, ficou estabelecido prazo de 60 meses para a restauração, e somente após o término das obras a concessão passa a ser da Prefeitura. Mas, temos o termo de intenção e já vamos pegar as chaves para começar a fazer o projeto de restauração”, afirmou.

Conforme o secretário, desde o início da atual gestão, a secretaria tem a intenção de utilizar o espaço como patrimônio cultural, turístico e histórico. A linha férrea não é utilizada há mais de um ano.

“Estamos em conversa com o diretor regional há dois anos. Hoje, o DNIT está em alinhamento com a empresa detentora da concessão e a Prefeitura. Queríamos que o DNIT estivesse envolvido no processo, até porque a Prefeitura vai dar um aporte financeiro para a revitalização e tínhamos que ter esta segurança”, comentou.

A Prefeitura já realizou um pré-projeto, no qual detalha o que pretende fazer com o prédio. “Temos certeza de que a estação ferroviária vai ter uma finalidade cultural e turística e que, com a Prefeitura cuidando do imóvel, vamos conseguir conservar melhor o patrimônio, que é nosso”, reforçou.

“As empresas passam e a gente não sabe como vai ficar. Hoje, a concessão é da Rumo, amanhã pode ser de outro, e a gente sabe que eles não vão ter o mesmo carinho que nós, gestores locais, temos pelos nossos prédios e pela nossa história”, acrescentou.

Sinisgalli antecipou que a intenção é fazer do local uma estação cultural, mostrando a história da ferrovia em Tatuí, além de estruturá-lo com um balcão receptivo, uma unidade de PIT (ponto de informações turísticas) e um espaço da Guarda Civil Municipal.

“E ter também lojas de lembrancinhas, café e um espaço para fazer eventos e oficinas culturais”, detalhou. O secretário também divulgou a intenção de interligar o novo Centro Cultural com o galpão que abrigará uma “estação de artes”.

A Prefeitura tem o domínio do barracão, anexo à estação, onde poderão ser instalados projetos ligados ao Departamento de Cultura e Turismo, com a realização de oficinas de dança, artes plásticas, artesanato e, até, um anfiteatro.

“Vamos deixar um espaço bem turístico mesmo. Se a gente conseguir a aprovação para fazer a ‘Estação das Artes’, vai ficar muito bonito, vai se tornar um complexo artístico e cultural”, acentuou.

O secretário ainda explica que a ideia é ressaltar as características do imóvel e utilizá-lo como espaço de lazer em atividades noturnas, incentivando a interação da comunidade com o prédio histórico.

“Temos um espaço aberto ao lado do imóvel, tipo um jardim, que a gente vai ver se dá para adequar um café ou algum barzinho, para incentivar uma vida noturna ali”, comentou.

Sinisgalli salienta que a secretaria está se unindo com a prefeita e conselhos – como os de cultura, turismo (Comtur) e de preservação (Condephat) – para elaboração no projeto final, que deve ser analisado a partir do ano que vem.

“Vamos começar a discutir projetos para implantação, mas a ideia é ter projetos culturais e turísticos. Além disso, pensamos em colocar loja de doces, aqueles tradicionais da cidade, já ressaltando o título de ‘Terra do Doce’, e um espaço para música. Temos muitos planos para o local”, reforçou.

“Vejo aquela região com um potencial muito forte. Aquela via entre o Conservatório até a Estação está se tornando uma via gastronômica e que pode ser explorada como um ponto turístico”, assegurou.

O município espera investir, aproximadamente, R$ 500 mil no local. O custo poderá ser dividido, a partir de recursos de parcerias com a iniciativa privada, do governo estadual – por repasse do MIT (Município de Interesse Turístico) – e da própria Prefeitura.

As revitalizações e reformas devem começar no final de 2019. O projeto será elaborado, depois segue para a aprovação do Condephat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico) de Tatuí e de São Paulo e para o Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos), buscando a liberação do recurso.

A Estação Ferroviária de Tatuí foi construída e inaugurada entre os anos de 1888 e 1889 (há duas versões), integrando o ramal Itararé.

Por toda a riqueza histórica e beleza, a efetivação do projeto de revitalização do edifício local da antiga Sorocabana pode tornar-se um extraordinário legado. Afinal, como o trem passa, as intempéries e cenários políticos, também, e, portanto, importa é o que fazemos no presente, considerando o passado e com vistas ao futuro.