Sem moeda e sem cartão

A moeda tende a desaparecer. Ela já serviu à Humanidade durante milênios. Aos poucos foi cedendo espaço para o cartão. E este não terá vida longa. As transferências financeiras já são virtuais e se tornarão cada vez mais rotineiras.

O computador, os aplicativos de smartphones, os dispositivos “wearables”, como óculos, relógios, pulseiras e canetas, vão fazer melhor serviço do que o pouco higiênico dinheiro e o contaminado cartão de plástico.

As megatendências mostram que até 2020 – é logo ali!… – quase 800 bilhões de pagamentos se farão instantânea e digitalmente. Isso já é realidade constatada pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), que define: os pagamentos instantâneos são transferências eletrônicas em que a transmissão da mensagem de pagamento e a disponibilidade de fundos ao beneficiário final ocorrem em tempo real.

É um serviço disponível 24 por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano.

É óbvio que em países de desenvolvimento retardado – o adjetivo é proposital – não se caminhe tão rapidamente como na Escandinávia. Mas até o Quênia tem 31% do PIB movimentado pelos aplicativos.

Na China, dinheiro convencional é raridade. Todo chinês desperto para o consumo aponta o celular para um código, do tipo QR Code, que identifica a carteira digital do vendedor e confirma o pagamento.

Os mendigos já dispõem de seu próprio código para receber esmolas. O chinês é tão fanático por acelerar o desenvolvimento que dispensou o cartão de crédito. Do papel moeda, passou logo para o celular. Em 2016, 5 trilhões de dólares foram assim movimentados.

No Brasil, mais da metade – ou, mais exatamente, 52% – dos pagamentos são feitos em dinheiro. Mas os bancos estão adiantados na tarefa de propiciar a seus correntistas o acesso ao mundo digital.

Tanto que o mobile banking cresceu 70% entre 2016 e 2017, informa Celso Ming (“Adeus, Cartão de Crédito”, FSP, 17.8.18). E Rômulo Dias, diretor-presidente do Grupo UOL, deixou a Cielo para assumir uma experiência em fintech, a Pag-Seguro.

Para ele, as fintechs promovem inclusão financeira. Já são 6 milhões de micro, pequenos e médios empresários, muitos sem conta em banco, que oferecem aos clientes vendas pela internet.

O avanço da tecnologia barateia o custo das transações. As fintechs ofertam contas digitais sem custos e sem tarifas por transação.

Existe uma lei em vigor – 12.865, de 2013 – que estimula a inovação e a diversidade de formas de pagamento. Além do QR Code, pode-se adotar o P2P, forma de pagamento de pessoa a pessoa.

O mundo é outro e as pessoas querem resultado. Exigem eficiência. Já não suportam burocracia. Esta, além do anacronismo, sugere corrupção.

Por isso é que o Estado deve se reduzir ao máximo, para que a iniciativa privada, que tem de sobreviver aos desmandos do governo, assuma as rédeas do convívio.

Afinal, o soberano é o povo, não o governante. Pelo menos, é o que ainda diz a “Constituição Cidadã”, que logo mais completará seus 30 anos.

* Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e conferencista, autor de “Ética Geral e Profissional”.