Santa Casa faz pré-acordo com Life para atendimento de 15 mil ‘vidas’





Por meio da São Bento Saúde, a Santa Casa firmou pré-acordo com o Grupo Life Empresarial para atendimento em Tatuí. O projeto, anunciado na manhã de sexta-feira, 2, será exclusivo para trabalhadores e pode gerar receita nova para o hospital, por meio do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”.

Para “vingar”, o credenciamento da Life Empresarial Saúde junto à Santa Casa depende da adesão de indústrias do município.

A vinda será efetivada quando o grupo contabilizar a captação (como é denominado o processo de contrato de prestação de serviços de saúde) de 15 mil vidas. Esse número deve incluir os trabalhadores das indústrias e seus dependentes diretos (mulheres e filhos).

Os detalhes do pré-acordo foram apresentados no início do mês aos responsáveis pelos departamentos de recursos humanos de cinco empresas locais e ao prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu. O encontro aconteceu na sala de reuniões do Sindmetal (Sindicato dos Metatúrgicos de Tatuí e Região).

“A participação da Prefeitura, nesse trabalho, deve-se à continuidade do processo de reestruturação da Santa Casa”, disse à reportagem o prefeito.

Manu afirmou que o credenciamento da Life ajudará a reduzir o déficit financeiro do hospital. Desde o ano passado, a Santa Casa perdeu receita aproximada de R$ 300 mil com a saída do convênio da Unimed.

Com o “caminho livre”, o prefeito afirmou que o hospital passou a buscar entendimentos para a vinda de novos convênios.

Entretanto, as negociações anteriores não avançaram porque a Santa Casa não contava, até então, com um pronto-socorro. Dessa maneira, a maioria das operadoras desistia de vir para o município, uma vez que teria de investir para manter ambulatório próprio.

“A Santa Casa está precisando de apoio financeiro. Para isso, houve conversas com várias operadoras de planos de saúde, e a Life foi uma das que nós nos interessamos muito, por ser moderna e já ter trabalho muito bem estabelecido na cidade de São Paulo, com hospital de retaguarda”, disse Manu.

O prefeito afirmou que participou do entendimento para dar segurança aos investidores. Manu argumentou que a Prefeitura dará “toda retaguarda” para que a Santa Casa consiga dar sequência e formalizar o credenciamento.

Para ele, a nova postura do hospital só é possível por conta da transferência de gestão do ambulatório. No dia 2, a Prefeitura oficializou o repasse de administração dos recursos municipais para manutenção do PS para a São Bento Saúde.

No entendimento do prefeito, a medida garantirá que o hospital “mantenha as portas abertas para entrada dos convênios”. “Isso não era possível anteriormente. Se fôssemos fazer isso, até então, teríamos de fazer um pronto atendimento dentro da Santa Casa só para a Life atender seus pacientes”, apontou.

Com a reestruturação da administração, Manu afirmou que a Prefeitura e a provedoria do hospital resolveram o impasse. Além de necessária para permitir os atendimentos dos convênios, a mudança de gestão do ambulatório constava como exigência da São Bento Saúde para gerir a Santa Casa.

Para o prefeito, as medidas permitem “total retaguarda” para o investimento no município. Em consequência, haverá um aporte seguro para a Santa Casa, uma vez que a operadora repassará recursos de contratualização. “Tudo isso vai auxiliar muito na administração”, enfatizou Manu.

O próximo passo do processo é a contratação do plano pelas empresas locais. Daí, a parceria entre a Prefeitura, a Santa Casa e o Sindmetal. A entidade classista convocou os representantes das indústrias para conhecer as vantagens. Entre elas, a possibilidade de cirurgias em rede de hospitais credenciados.

De acordo com o prefeito, a apresentação atende a uma cobrança feita pelas empresas, junto ao sindicato, de uma “segunda opção de convênio”.

Manu disse que o presidente da entidade classista, Ronaldo José da Mota (que também é vereador da base), “não mediu esforços” para que o pré-entendimento pudesse acontecer.

O prefeito também defendeu que a vinda de novas empresas para Tatuí vai resultar num atendimento mais aprimorado à população. Disse, ainda, que “a concorrência é uma forma sadia de garantir serviços e preços cada vez melhores”.

O gerente comercial da Life Empresarial Saúde antecipou que a empresa pretende investir pesado no município. Valmir Costa disse a O Progresso que a empresa poderá trazer atendimento médico (novos profissionais) se houver necessidade.

Da mesma maneira, poderá enviar pacientes de Tatuí ao hospital de referência do grupo, o Monte Moriah, que funciona na capital.

Costa ressaltou que a prospecção do grupo é de “mudar a roupagem” da Santa Casa. “Queremos dar um atendimento digno ao pessoal de Tatuí”, adicionou.

Entretanto, as previsões não estão 100% garantidas. A Life condicionou os investimentos à obtenção de 15 mil vidas (todas a partir de contratos firmados exclusivamente com empresas). “Esse é o projeto inicial e o que nos foi falado na primeira conversa, há dois meses”, disse Costa.

Caso não consiga atingir esse patamar, a empresa trabalha com um número “um pouco mais flexível”. O mínimo é de 10 mi vidas. “O investimento é muito alto, e nós precisamos de um número inicial para compensá-lo”, disse o gerente.

A empresa já estabeleceu valores e definiu percentuais de repasse ao hospital. No momento, aguarda a adesão das empresas e dados dos funcionários. O passo seguinte será o credenciamento de médicos para atendimento.

Em Tatuí, a Life Empresarial Saúde projeta cadastrar até 70 médicos. Esse é o número levantado pela empresa de profissionais não vinculados à Unimed.

Costa disse que a quantidade de médicos é suficiente para atender as 15 mil vidas projetadas e fazer frente aos atendimentos realizados pela cooperativa.

Caso a captação exceda o previsto, a Life pretende cobrar da Santa Casa a vinda de novos médicos. O trabalho de contratação ficaria a cargo da São Bento Saúde.

“Se for necessário, nós poderemos trazer médicos para cá, mas nós não queremos que outros profissionais liberais venham de fora. Queremos os daqui”, disse.

A definição do credenciamento da empresa, ou não, deve acontecer no prazo de 20 dias. Uma vez firmada a contratação, a Life atenderá, exclusivamente, trabalhadores das indústrias. Não será, num primeiro momento, aberta para pessoa física.

A O Progresso, Costa informou que a restrição poderá cair conforme a adesão. Na medida em que a Life conseguir ampliar a cartela de clientes, ela pretende abrir para a contratação de planos para pessoas físicas.

“Nada impede que possamos elaborar um projeto nesse sentido. Mas, no momento, a formatação do nosso negócio é somente empresarial”, argumentou.

A Life Empresarial Saúde é a sexta empresa a pleitear credenciamento junto à Santa Casa. Segundo o presidente do Sindmetal, o processo pôde avançar por conta da nova gestão da Santa Casa e pela autonomia dada ao hospital.

Em Tatuí, Mota viabilizou a vinda da Lan, Mediplan e Intermédica. A quarta empresa, a Amil, tentou credenciamento com apoio do sindicalista, mas desistiu, em função de uma série de requisitos. Na sequência, Mota viabilizou encontros com representantes da Medisanitas, mas não obteve sucesso.

Para o sindicalista, a Life Empresarial Saúde é a empresa com mais chances de consolidação. Ela deve ser, também, a porta de entrada para novos convênios.

Uma vez firmado o credenciamento, Mota disse que o sindicato deve voltar a procurar as empresas de saúde para ampliar a gama de oferta no ambulatório.

“Acredito que outras empresas se interessem e, talvez, até a Amil e a Medisanitas voltem a ver Tatuí com bons olhos e vir para cá”, completou.

O encontro de representantes do grupo e de empresas locais marcou a “última ação” do sindicato dentro do projeto de abertura de credenciamento de operadoras de saúde.

Mota informou que continuará acompanhando o processo, mas que o sucesso da iniciativa depende da disponibilidade das indústrias.

Ele também afirmou que os novos credenciamentos deverão “priorizar as necessidades da população”. A meta é garantir atendimento para “todas as famílias”.