Saltando de Tatuí­ para o mundo

 

Todo bailarino sonha alto, busca estrelar espetáculos, ter reconhecimento na carreira e enfrentar desafios que o estimulem ao aprimoramento. Kelvin Lazzari não contrariou a regra, mas foi além do que a grande maioria consegue alcançar.

Nascido em Tatuí, o bailarino e coreógrafo conquistou, no fim deste ano, o maior reconhecimento que um profissional da dança poderia ter. A partir do ano que vem, Kelvin vai ocupar cargo de destaque na Millennium Dance Studio Brazil.

O tatuiano se tornará professor do “primeiro braço” da Millenium Dance Complex na América Latina. A instituição é referência no mundo da dança, tem sede em Hollywood e inaugurou, em abril deste ano, uma filial na cidade de São Paulo.

É lá que, em poucos dias, Kelvin vai iniciar nova etapa na carreira. O bailarino começou cedo, em Tatuí. O primeiro contato com a dança veio aos 11 anos. “Iniciei fazendo espetáculos na igreja que frequentava”, contou.

Já nessa época, motivado pelo sentimento de superação, começou a pensar na profissionalização. Mesmo sendo novo, Kelvin tinha em mente o desejo de viver da arte de conseguir expressar sentimentos pelo corpo. Tanto que, com 16 anos, começou a saga pela realização do desejo.

“Como minha família não tinha condições de pagar por uma escola particular, eu mesmo fui até as instituições de porta em porta para conseguir uma bolsa”, recordou-se.

Com perseverança, obteve espaço e ganhou conhecimentos que passou a aplicar. Em paralelo, começou a trabalhar para poder tornar a meta palpável.

Dois anos depois, aos 18, mais experiente, Kelvin deu outro passo na dança. Este mais firme, porém, nem por isso, menos arriscado dos que já executara.

Há cinco anos, ele trocou Tatuí por São Paulo. “Infelizmente, no interior, a arte é mais difícil. Para se conquistar algo, é preciso ir para a capital, onde a arte dá mais oportunidades para as pessoas. No interior, as conquistas demoram mais”, citou.

O bailarino ingressou em várias companhias. Entre elas, o Ballet Stagium, com 46 anos de existência. A companhia tem como diretores Marika Gidali e Décio Otero e desenvolve produções adaptáveis aos mais diversos tipos de espaços, como escolas, favelas, igrejas, praias e hospitais.

Em São Paulo, o tatuiano também somou experiência em trabalhos pela Cia. Tribo de Dança. Desde maio deste ano, Kelvin é integrante da Millennium Dance, companhia na qual obteve destaque.

No fim deste ano, o jovem de 23 anos participou de seletiva para professores. A audição filmada teve de ser avaliada pelos profissionais de Los Angeles, a sede da companhia. “É preciso seguir todo o estilo dos profissionais por envolver toda uma mecânica de Hollywood”, explica o professor.

A partir de janeiro, ele dará as primeiras aulas. Em paralelo, deverá trabalhar nos vários projetos da companhia. Um deles, em parceria com o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). A emissora vai produzir a série “Academia de Estrelas”, que contará com 26 episódios na primeira temporada.

Os projetos envolvem os profissionais da Millennium Dance para a elaboração de coreografias. “Nós vamos começar as atividades em janeiro, tanto da escola como das produções feitas em parceria com as televisões”, antecipou.

Antes de se tornar professor titular, contudo, Kelvin precisou de perseverança. Além da dificuldade de viver sozinho em São Paulo, teve de lidar com as adversidades de conseguir um trabalho na arte e por meio do qual pudesse se manter.

“Quando cheguei a São Paulo, não dava para viver só da dança. Tinha acabado de me formar, e, infelizmente, já é bem complicado para quem trabalha com isso há anos, imagine para quem se estabeleceu há pouco”, ressaltou.

De modo a permanecer na capital, Kelvin buscou completar a renda com trabalhos “fixos”. “Trabalhei em várias áreas, como telemarketing por dois anos, e até no McDonald’s, mas este por menos tempo”, contou.

Para economizar, Kelvin morou em pensões e repúblicas. Depois de um tempo, mudou-se para outro endereço com a mãe. “Ela ficou comigo por dois anos e, depois, voltou para Tatuí”. Com a mãe, também dividiu conquistas.

As mais recentes delas, em 2016, ano considerado de transformação para o profissional. Kelvin ganhou projeção e realizou novos projetos. “O leque abriu bastante, e eu comecei a ser mais reconhecido profissionalmente. Tanto que fiz inúmeros trabalhos”, comentou.

O ingresso na Millennium Dance deu-se por desempenho pessoal e contatos. Kelvin soube da seletiva – a primeira da qual participou – para o corpo de bailarinos por amigos. Ele realizou a audição em maio, com outros 300 profissionais. Desse total, somente 50 foram selecionados.

A entrada já foi considerada “uma vitória e tanto”. Até então, Kelvin conhecia a companhia pela fama de ter profissionais como produtores de estrelas de Hollywood. Os coreógrafos trabalham com cantores de “primeira grandeza”, como a norte-americana Britney Spears e o canadense Justin Bieber.

Uma vez na companhia, Kelvin participou da segunda seletiva. Desta vez, o processo de escolha envolveu menos profissionais. Dos 25 que o realizaram, somente o tatuiano passou.

Ele se tornou professor, tendo sido aprovado por um dos proprietários da filial no Brasil, o mesmo que foi coreógrafo do cantor norte-americano Michael Jackson, falecido em 25 de junho de 2009.

Na Millennium Dance, o bailarino pretende concretizar projetos internacionais. Para o ano que vem, os planos envolvem lecionar nos Estados Unidos.

Futuramente, as metas são mais ambiciosas. Uma delas inclui abrir uma escola de dança própria. “Mas, antes, quero incrementar a minha carreira profissional com muitos outros trabalhos”, antecipou.

Até alcançar esse estágio, Kelvin contou que precisou superar a si mesmo. No fim do ano passado, ele cogitou desistir da carreira, em função das dificuldades. “É preciso fazer muitos sacrifícios. São muitos ensaios, não é possível ter vida social e existe um cuidado muito grande com relação ao corpo”, explicou.

Para manter-se em forma, o bailarino e coreógrafo treina oito horas por dia, todos os dias da semana. O ritmo é considerado intenso, mas, ao mesmo tempo, compensador pelo profissional.