RUAS SEM SAíDA – Demanda para manter vias excede capacidade e vira jogo de empurra





Sec. Mun. de Infraestrutura

Secretaria pede ajuda da população para manter recapeamento de ruas

 

Distante 14 minutos do centro de Tatuí em percurso feito com veículo, o bairro Congonhal está no centro de um embate. Principal rota de caminhões que abastecem usinas de processamento de cana-de-açúcar, a localidade ostenta mais que a produção de beneficiamento. Exibe buracos atribuídos pela Prefeitura como consequência da circulação de veículos pesados e com carga excessiva.

Conforme o vice-prefeito e secretário municipal da Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura, Vicente Aparecido Menezes, Vicentão, os poucos traços de asfalto que restam nas ruas do bairro são da gestão de Joaquim Amado Quevedo. “Têm mais de 20 anos e, desde então, não foi feita manutenção”, citou.

De lá para cá e com a expansão do agronegócio, a região do Congonhal – que é dividida em três bairros, “de Cima”, “do Meio” e “de Baixo” – recebeu diversos investimentos privados. No auge da produção, em 2007, houve registro de entrada de capital estrangeiro nas usinas instaladas na localidade.

Por outro lado, pouco se fez por parte do poder público, como admitiu o secretário. A justificativa para a ausência de providências e ações preventivas, por exemplo, é a finalidade das obras.

Vicentão defendeu que o asfaltamento na região teve como objetivo “atender somente à população”. “Aí, de repente, tem uma indústria que passa caminhões pesados”, alegou.

Por entender que as empresas que escoam produção por meio de caminhões precisam colaborar para a manutenção das vias, o secretário quer dividir responsabilidades. Ele disse que as indústrias exploram comercialmente as ruas, mas ficam com os lucros e deixam os prejuízos ao Executivo.

Alegando não ter condições de assumir sozinha a tarefa de recuperar a malha do bairro, a Prefeitura pretende estabelecer parceria com as indústrias. A proposta do vice-prefeito é que elas cedam massa asfáltica para as recuperações de trechos. “E nós entramos com o equipamento”, explicou.

O entrave fica por conta do entendimento das empresas. As consultadas pela reportagem de O Progresso disseram não ter ligação com o assunto. Em especial, porque os veículos usados no escoamento da produção não pertencem a elas, sendo de caminhoneiros terceirizados que fazem os transportes.

Para o vice-prefeito, as indústrias degradam mais as condições do asfalto da cidade que as chuvas. Em função disso, Vicentão defende ação mais enérgica por parte do Executivo.

Segundo ele, a solução seria a aplicação de multas, a cargo do Departamento Municipal de Fiscalização, Guarda Civil Municipal ou Demutt (Departamento Municipal de Trânsito e Transportes).

“Tudo bem que elas (as empresas) geram emprego e renda, mas não têm o direito de destruir uma rua e não contribuir para fazer a manutenção dela”, argumentou.

“Em outros municípios, sabemos que os prefeitos vão com mão pesada em cima dessas empresas que estão com transporte acima do peso, porque a cidade é nossa. Nosso governo vai passar, mas o problema vai continuar”, acrescentou.

Apesar de reticentes, o diretor municipal de vias públicas, Wilson Siqueira, antecipou que algumas indústrias sinalizaram positivamente para uma parceria.

O problema é que a manifestação não avançou para ação concreta, resultando no agravamento das condições de tráfego no bairro e de outras regiões da cidade. Entre elas, a marginal do ribeirão do Manduca.

Como a recuperação desses trechos precisa ser feita de modo constante, o diretor municipal de vias públicas disse que sobra pouco tempo e falta dinheiro para cuidar das vias centrais e periféricas.

A situação fica ainda mais crítica quando há grande incidência de chuva. Isso implica em ações emergenciais (as operações “tapa-buraco”) que estrangulam o cronograma da secretaria, custam para os cofres públicos e não resolvem.

A falta de recursos também corrobora para que as condições de tráfego continuem numa descendente. Vicentão afirmou que o custo das ações de reparo – mesmo as paliativas – é muito alto para o município. Entretanto, não divulgou valores. “O asfalto é caro, a massa fria, também”.

A lista de materiais inclui os “agregados”, como emulsões adquiridas da Petrobras, que pesam no caixa da secretaria. Os produtos são fornecidos pela Sanson Pavimento e Obras, conforme contrato estabelecido com o Executivo.

Com a previsão de queda de R$ 60 milhões na arrecadação do Orçamento municipal, o secretário afirmou que não há condições de investir em recapeamento. De acordo com ele, a lógica é o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, priorizar ações da saúde e pagamento dos servidores.

“Estamos de mãos atadas. O que nós precisamos é que a população compreenda e nos ajude a fiscalizar caminhões que andam acima do peso”, disse Vicentão.

A contribuição também é desejável para a limpeza das vias públicas. De acordo com o secretário, é preciso vigilância por parte da população para que as ruas sejam mantidas limpas.

O principal motivo é que o lixo gera entupimento de bueiros em períodos de chuva. Sem escoamento, as águas tendem a correr pela superfície do asfalto, danificando-o.

Em Tatuí, esse tipo de situação contribui ainda mais para o aumento de buracos. Da mesma maneira que o asfalto perdeu a capacidade de recuperação, a secretaria não tem mais condições de recapear todos os pontos necessários. Pelo menos não em curto prazo, conforme o diretor de vias públicas.

Dessa forma, a secretaria atua sempre emergencialmente. Por uma soma de fatores (falta de recursos, perda de vida útil do asfalto, incidência de chuvas e circulação de veículos acima do peso), a malha asfáltica da cidade segue piorando.

A situação é tão crítica que o levantamento realizado pela secretaria no início de 2015 pode ser considerado desatualizado desde a metade do ano. Em janeiro, o departamento realiza um estudo geral das condições de tráfego do município. A verificação começa pela área central e termina na periferia.

Por meio dela, o departamento dimensiona a quantidade aproximada de buracos que precisam ser tampados. Com base nisso, realiza programação de serviço. “Em cima dela, nós soltamos o pessoal para fazer as obras. Nós os distribuímos pelas áreas que têm de ser recuperadas”, descreveu.

Em função das dificuldades, Siqueira disse que a pasta cumpriu apenas metade das ações programadas para este ano. A dois meses do fim de 2015, a secretaria tem praticamente 50% de serviço de tapa-buraco para ser finalizado.

A previsão não é das mais animadoras, porque a equipe não deve conseguir cumprir a meta. “Não dá para atender na totalidade, porque, a cada chuva que der, vai aumentar o número de buracos existentes na cidade”, justificou Siqueira.

O diretor enfatizou que a equipe não consegue avançar por conta da demanda. Conforme ele, a secretaria precisa voltar várias vezes ao mesmo ponto para recuperá-lo quando há grande volume de chuva. “As reclamações são constantes. Então, você volta e realiza um novo serviço”.

As intervenções em cada ponto dependem de avaliações, por meio de vistoria prévia. Os técnicos analisam a incidência de risco nos trechos, por conta da circulação de veículos, ou de pedestres. Só depois fazem a intervenção.

Dependendo da situação, a secretaria utiliza materiais específicos. Em geral, a ação de tampar os buracos serve para amenizar o problema, mas não o liquida. Para o diretor, o ideal seria promover o recapeamento total das vias.

“Quando se tampa as fissuras, as trincas existentes, isso dá uma longevidade maior para as ruas, porque as veda. O problema da cidade é a infiltração de água, porque a chuva atinge a base do asfalto e o amolece”, detalhou Siqueira.

No asfalto, a chuva causa efeito parecido com a ferrugem, no ferro. Ela faz a camada superficial trincar. “É essa trinca que vai dar na situação geral em que se socorre um buraco e se abrem 10, 15. E a tendência é só degradar”, projetou.

Fora o prognóstico e o levantamento quantitativo de buracos (de números defasados), o departamento dispõe de diversos métodos para recuperação de asfalto, além do tapa-buraco. Só não consegue aplicá-los por falta de recursos.

Dentre esses métodos, está a chamada “lama asfáltica” (revestimento betuminoso) usada para o “rejuvenescimento do pavimento” e quando a malha não está comprometida (com fissuras). “Eu mesmo já fiz isso na rodovia Raposo Tavares (SP-270) e aguentou por muitos anos”, contou Siqueira.

Na cidade, o diretor não recomenda a aplicação da lama asfáltica, em função da oxidação da malha. O indicado é a reestruturação da base do solo. Por falta de recursos, de mão de obra e tempo, Siqueira disse que a secretaria não consegue dar esse tipo de atenção a todos os pontos recapeados.

Entretanto, para evitar a recuperação por várias vezes de um mesmo ponto, a equipe opta por se responsabilizar pela infraestrutura. Nesse caso, providencia o tratamento para que o trecho a receber o asfalto não fique sujeito a trincas.

A extensão da malha do município inviabiliza a adoção desse tipo de medida em todos os trechos a serem recuperados. Dos 300 quilômetros de pavimentação flexível da cidade, pelo menos 60% precisariam passar por esse tratamento.

A avaliação da secretaria é de que 180 quilômetros estão comprometidos por buracos, abalroamentos e afundamentos. Boa parte deles em bairros periféricos, pelos quais circulam ônibus e veículos de trabalhadores e moradores.

As dificuldades enfrentadas pelos usuários dessas vias são tema da terceira e última reportagem especial da série “Ruas sem Saída”, publicada por O Progresso.