Rontan emite nota de convocação e declaração ‘distintas’ sobre reunião





Na semana em que enfrentou protestos de trabalhadores, a Rontan Eletrometalúrgica publicou notas divergentes a respeito da situação da empresa. Os materiais – um edital e uma declaração – apresentam conteúdos que se contradizem. Um deles foi publicado pelo jornal O Progresso e outro, pelo jornal “Integração”.

Na quarta-feira, 3, mesmo dia no qual os funcionários esperavam o pagamento de vencimentos em atraso, a empresa publicou edital de convocação para reunião de sócios.

O documento foi encaminhado, por e-mail, à redação de O Progresso pelo diretor de compras e suprimentos da JNK Empreendimentos, Daniel Pereira.

Já a declaração contradizendo o edital teve publicação no jornal “Integração”, com circulação a partir da quinta-feira, 4, com data de sábado, 6.

Os contatos para a publicação de convocação em O Progresso aconteceram na terça-feira, 2, reservada para a edição do jornal que circula às quartas-feiras. A equipe do departamento de compras e suprimentos – com endereço em Sorocaba – encaminhou pedido para a gerência comercial do bissemanário.

A negociação – registrada por e-mail – definiu a veiculação de “anúncio em preto e branco, nas medidas de 26 centímetros de altura por 14,6 de largura”. Também determinou os valores da publicação, a data de distribuição (circulação com a convocação) e o faturamento em nome da Rontan Eletrometalúrgica.

Antes de ser publicado, o edital passou por aprovação do departamento jurídico da JK Empreendimentos. Na tarde do dia 2, o diretor de compras e suprimentos da empresa solicitou envio de exemplar da edição constando a publicação.

O edital encaminhado ao bissemanário convoca os sócios da Rontan a compareceram a uma reunião extraordinária. O encontro seria realizado no dia 10 deste mês, com primeira convocação às 14h e segunda e última, às 14h10.

No documento, consta o nome de João Alberto Bolzan (sócio-presidente do Grupo Rontan). A reunião aconteceria na rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127), no bairro Ponte Preta, para discussão e aprovação de quatro temas.

A pauta previa definição de “contratação da Deloitte Touche Tohmatsu, impetração de recuperação judicial, contratação do escritório Hasson Sayeg e Novaes Advogados, outorga de procuração ad judica aos membros do escritório de advocacia contratado para impetração da recuperação judicial, alteração de cláusula de contrato social e contratação de empresa especializada para realização de auditoria contábil e verificação de fraudes e/ou desvios”.

No documento de convocação dos sócios da empresa, encaminhado a O Progresso, consta a informação de que o edital era veiculado “tendo em vista que cumprida a previsão contratual de intimação dos sócios por carta com aviso de recebimento, o sócio José Carlos Bolzan negou receber a correspondência”.

Já a nota de declaração, também em nome de João Alberto Bolzan, contradiz o documento anterior encaminhado pela JNK. Nela, o presidente do Grupo Rontan assevera que o anúncio constante em O Progresso fora “publicado sem sua autorização, já que não tinha conhecimento do teor da nota”.

Também há ressalva de que “o documento veiculado sequer consta sua assinatura”. Por esse motivo, o edital de convocação deveria “ser desconsiderado”.

O texto inclui, ainda, a informação de que “os fatos estão sendo apurados e serão esclarecidos o mais breve possível”.

Conteúdo semelhante chegou a ser encaminhado à gerência de publicidade de O Progresso. Na quarta-feira, 3, quando o edital de convocação foi veiculado, o jornal recebeu pedido de divulgação de “carta de retratação”.

A solicitação para a reserva de um quarto de página (mesma medida do edital de convocação) para divulgação no dia 6 foi cancelada pelo diretor de compras e suprimentos da JNK Empreendimentos e Incorporações, na quinta-feira, 4.

A carta que seria publicada na edição seguinte (deste domingo) tem o nome e a assinatura de Alberto Bolzan. Nela, o presidente do Grupo Rontan fazia retratação a “todos que se sentiram ofendidos com o anúncio publicado”. Em especial, são citados “funcionários e colaboradores da empresa”.

O documento informa que a convocação havia sido publicada sem a autorização de Alberto Bolzan, “já que o mesmo sequer tinha conhecimento do teor”. Nele, também consta que os fatos estavam sendo apurados.

Com a finalidade de elucidar a questão e desfazer mal-entendidos, O Progresso entrou em contato com Pereira. Na tarde de quinta-feira, 4, solicitou esclarecimento para integrar esta reportagem (sem custo para a empresa).

Por e-mail, o pedido de esclarecimento tinha por base o entendimento de que as notas divergentes poderiam denotar que o jornal publicara “algo à revelia da empresa (Rontan), sem o consentimento ou, mesmo, conhecimento por parte dela”. Até o fechamento desta edição (sexta-feira, 5, 17h), o jornal não obtivera retorno.

A Rontan enfrenta, na Justiça, ações movidas pelo Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região). Na semana passada, a entidade classista informou que o Judiciário aceitara ação de arresto de bens contra a companhia.

De acordo com o sindicato, os trabalhadores estão sem receber desde maio. No dia 29 de julho, eles realizaram protesto na frente da empresa, voltando a protestar no dia 1º de agosto.

Nas duas ocasiões, os trabalhadores montaram barricadas e queimaram pneus na rodovia Mário Batista Mori (SP-141), que dá acesso à Rontan. Policiais militares rodoviários precisaram intervir para liberar o trânsito no trecho.

Entre o mês passado e a segunda-feira, 1º, parte dos trabalhadores montou campana na frente da empresa. Conforme o sindicato, os funcionários decidiram deixar o local após assembleia geral, realizada no dia 1º, na qual aceitaram novo prazo para os pagamentos.

Segundo acordado, a Rontan quitaria os salários na quarta-feira, 3, data da publicação do edital de convocação no bissemanário. Entretanto, o presidente interino do sindicato, Célio Gregório, informou que a previsão não se cumpriu.

Ele declarou, também, que os trabalhadores não concretizaram a intenção de ocupar a empresa. A reportagem não conseguiu confirmar, com o responsável, se houve novo acordo para pagamento e se ocorreriam novas manifestações.