Representação de bairros marca desfile 2014





Amanda Mageste

Avenida do samba do município, a rua 11 de Agosto, recebeu grupos em duas noites do desfile

 

A passarela do samba de Tatuí ficou “mais eclética” na noite de domingo, 2, com a passagem de blocos carnavalescos. Convidados pela Prefeitura para participar do desfile de 2014, eles “levaram” para a rua 11 de Agosto uma boa parte da história e da geografia do município. Entre os bairros com representação, estiveram: Jardim Santa Rita de Cássia, vila Esperança e Rosa Garcia 2.

O desfile realizado na terceira noite da folia, a cargo do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, atraiu multidão de público. Contou com participação de duas miniescolas de samba, apresentou aos espectadores alegorias, fantasias, carro alegórico e duas homenagens.

A primeira delas a Paulo Vagalume, carnavalesco que dá nome a bloco integrante da miniescola Unidos da Vila, surgida no Bairro 400. Ele desfilou acompanhado da família e, praticamente, encerrou as apresentações do evento em um carro adaptado, com luz verde “piscante” e asas em alusão ao inseto. Vagalume foi o último a atravessar a passarela do samba.

“Fico muito agradecido por essa grande homenagem. Ela representa muito, porque, por menor que seja, para o homenageado qualquer coisa se torna grande”, comentou o carnavalesco em entrevista concedida minutos antes do desfile.

A homenagem prestada no Carnaval, com direito a samba-enredo, é uma das muitas que Vagalume recebeu neste ano. O carnavalesco está entre as personalidades com trabalhos divulgados em painel na exposição “Tatuí Carnaval de Todos os Tempos”, aberta ao público no Centro Cultural Municipal.

Ele também figura em reportagem veiculada na quarta edição de “O Progresso em Revista”. “Eu sou pequeno para receber um carinho tão grande. Neste ano, estou sendo homenageado por vários setores, pela imprensa escrita e falada, e, agora, pela miniescola de samba Unidos da Vila”, declarou.

Vagalume tem uma história com o samba desde 1938 e pretende continua-la “até quando der”. Por conta do trabalho dele e de um grupo de carnavalescos, o município chegou a ter sete escolas de samba. Todas, com carros alegóricos.

“As escolas ‘brigavam’ na avenida, porque existia comprometimento e diversão. Foi por essa razão que meus parentes se mantiveram no Carnaval. Somos uma família de avó, netos e bisnetos que gostam de diversão”, declarou.

Para o carnavalesco, o importante da festa brasileira é a confraternização. Vagalume disse que vai continuar batalhando para o que o Carnaval tatuiano fique ativo. “Nós batalhamos sempre para que a festa seja melhor que a do ano anterior. Neste ano, estou achando, em princípio, muito bom”, afirmou.

O desfile deste ano teve início no cruzamento da rua 11 de Agosto com a rua do Cruzeiro. As miniescolas participantes, blocos e grupos seguiram até a esquina da 7 de Abril, nas proximidades do Mercado Municipal “Nilzo Vanni”.

Tamires de Oliveira, rainha de bateria da Império da Vila Esperança, fez todo o percurso esbanjando simpatia. Com sorriso no rosto e samba no pé, ela carregou a responsabilidade de representar – e bem – a vila Esperança. “Eu fui criada lá e moro lá. É uma missão muito grande e uma expectativa também”, disse.

A sambista “puxou” 150 componentes uniformizados e fantasiados. Tamires estreou no Carnaval do município neste ano e, para não fazer feio, participou de vários e exaustivos ensaios. Eles atraíram centenas de pessoas à vila e originaram concurso para escolha da representante. A Império também prestou homenagem a “Pelezinho”, falecido integrante da bateria do grupo.

Perto da concentração, os participantes puderam interagir com o público, até recebendo ajuda. O formato agradou Luciana Gomes, moradora de São Paulo. Ela viajou para Tatuí e está hospedada numa chácara pertencente aos pais. “Aqui é diferente. A gente confia mais, tanto que eu trouxe meu filho”, falou.

Luciana elogiou a organização e a segurança do evento. Também gostou da proximidade com os participantes do desfile. “Não estamos no bloco, propriamente dito, mas bem perto, quase no meio dele. É muito legal poder acompanhar mais de perto, ver, interagir, especialmente, porque gosto do Carnaval”, disse.

Mesmo adorando a festa, a “turista” disse que nunca se “arriscou” a participar de uma, por questão de insegurança. Em Tatuí, no entanto, Luciana afirmou que deve rever esse posicionamento. “Tenho um pouco de medo e, aqui, eu estou à vontade. Esse formato agrada porque é bem família, muito seguro. Até me anima a sair numa próxima oportunidade”, comentou.

Completamente envolvida e sentindo-se em segurança, Érica Amorim da Silva, comandou parte da Galera do Hugo do Grau, composto por moradores do Rosa Garcia 2. “Somos um grupo que ama o Carnaval”, citou a integrante.

Érica contabilizou, em princípio, 150 pessoas. A animação do grupo, no entanto, cresceu com a adesão de mais participantes. “Nós tínhamos certo esse número. Agora, aumentou para, mais ou menos, 300 pessoas”, falou, antes do desfile.

Além de abadás, a Galera do Hugo apresentou carro de som e coreografias de músicas (axé) “conhecidas” do público. “Nossa proposta é a alegria. Tanto que temos crianças e idosos, o que é maravilhoso”, citou a representante.

Quem também ficou entusiasmada com o desfile foi Maria Eugênia Martins Pedroso. Integrante do grupo da 3a Idade do Clube Renascer, ela compôs ala que apresentou temática envolvendo a Roma antiga e o Egito. Formou grupo de 70 pessoas que propuseram “levar alegria para a rua 11 de Agosto”.

Mais que representar o clube, Maria Eugênia disse que o desfile representou mais uma oportunidade de confraternização dos associados. “Tem gente que só vai aos bailes, só vai ao artesanato e, por isso, não se encontra. Então, no Carnaval, o que acontece é um encontro geral”, considerou.

A foliã de 76 anos de idade “desfila alegria” em Tatuí há 15 anos. Maria Eugênia mora na cidade há 17 e, sempre que pode, participa do Carnaval local. “São 15 anos de dedicação, animação e representação junto ao clube”, afirmou.

Com a “mesma dinâmica” – a de envolvimento com o grupo –, a Banda do Bonde arrastou multidão no desfile deste ano. Aproximadamente, 700 pessoas passaram pela passarela do samba do município acompanhadas do bonde conduzido pelo professor, cenógrafo e artista plástico Jaime Pinheiro e com participação do presidente da Associação Atlética XI de Agosto, Wisner Castilho.

O presidente explicou que “a história do clube com a Banda do Bonde” está ligada a duas figuras Sérgio Gonçalves de Oliveira, o Lagartixa, e Pinheiro. Em 2002, eles e Jorge Ribeiro criaram o bloco que, atualmente, é um dos maiores do município por conta da “retaguarda e infraestrutura do clube agostino”.

“Ano a ano, nós temos visto que o grupo está crescendo. Tem gente nova vindo e o que é uma coisa muito legal, porque mantemos o espírito familiar que sempre privilegiamos. Então, isso tudo para nós é muito satisfatório”, disse Castilho.

Para ajudar na organização, a Banda do Bonde adotou – há anos – camisetas (abadás). Conforme o presidente do XI, elas ajudam na organização e na definição do limite de pessoas em eventos como o desfile de Carnaval.

Além das camisetas, outro quesito de destaque da Banda do Bonde é a bateria que desfilou com direito a recuo para a passagem dos foliões. Wisner afirmou que o profissionalismo se deve à presença de músicos do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”. “Muitos integrantes da bateria são professores do CDMCC, o que ajuda muito na qualidade”, falou.

O presidente disse que, por conta da interação com os profissionais, os demais integrantes da bateria têm a oportunidade de aprender e “se aperfeiçoar”. “Então, para nós, deu tudo certo. O Conservatório, a banda, a família XI de Agosto e o município só têm a ganhar com essa nossa parceria”, citou.

Para Jaime Pinheiro, a Banda do Bonde tem outra característica importante: traz “coisas boas” para quem participa dele e para o público. “Há coisas boas em tudo. No Carnaval não é diferente. Tem o lado da brincadeira e da diversão que nós mantemos”, disse ele, que conduziu a multidão de foliões pela rua 11.

Desta forma, a Banda do Bonde faz um contraponto para os “aspectos ruins” do Carnaval. Entre eles, o consumismo e a banalização da exposição do corpo.

“Eu gosto do lado da brincadeira, da curtição e da volta à infância. Existe espaço para todo tipo de folia. Aqui, o forte é a família e a animação fantástica da bateria. Tanto que quem vem uma vez, volta sempre”, falou Pinheiro.

Responsável pela projeção do bonde, o cenógrafo afirmou, ainda, que a banda mostra que é possível pular Carnaval com organização. O abadá, segundo ele, faz com que os participantes – e quem está em volta – assimile a questão da segurança. “A vantagem é que todos se protegem, se cuidam. Isso acontece em muitos blocos. Tanto que nos melhores não existem brigas”, citou.

86 anos de alegria

Com 86 anos de existência, o Cordão dos Bichos carregou a responsabilidade de abrir o desfile carnavalesco de Tatuí. O grupo folclórico também fez apresentação na tarde de sexta-feira, 28 de fevereiro, e sábado, 1º de março, na praça Manoel Guedes, do Museu Histórico “Paulo Setúbal”.

“O Cordão é formado por bichos e de bonecos feitos com papel, arame, cola e tinta e que têm a função de levar alegria ao público”, explicou o presidente, Pedro da Silva.

Segundo ele, além de bichos da fauna brasileira, há os da fauna africana (elefante e girafa) e “personagens exóticos”, como a bruxa. “São bonecos os quais o público simpatiza, que embalam marchinhas dos antigos carnavais”.

Exatamente por esse aspecto, Silva afirmou que o cordão agrada todo tipo de público. “As crianças assistem porque é novidade, os jovens porque gostam e os adultos recordam o passado, porque é muito interessante lembrar”, falou.

O desfile deste ano contou com participação de 35 figuras, restauradas no mês passado. Ao todo, 45 pessoas – todas, voluntárias – integraram o cordão. O grupo fez concentração na sede social e já fez, na noite do sábado, 1o, de desfile no município de Cerquilho. Na segunda-feira, 3, o grupo tatuiano compareceu ao Clube de Campo, e, na terça, 4, da premiação do desfile.

A corte carnavalesca, composta pela rainha Rayssa Rolim, rei momo Uelitom Machado Leite, primeira primeira-princesa Nathália Azevedo, segunda, Bárbara Carneiro, e a “miss simpatia”, Joice Rodrigues Tengo, também participaram das atividades. “É maravilhoso e uma alegria”, disse Nathália.

“É uma emoção indescritível. Eu amo Carnaval e fico sempre na expectativa para poder continuar no reinado”, falou o rei momo. Leite integra a corte carnavalesca pelo quarto ano e disse que se diverte com os festejos. “O público tem demonstrado boa recepção. Tatuí está de parabéns”, concluiu.

Mais homenagens

Além de Paulo Vagalume, lembrado pelo Bloco do Waguinho juntamente com a Unidos da Vila, o Carnaval 2014 teve reconhecimentos ao sambista Amado de Jesus Miranda, Amadão, e às mulheres, com o enredo “Bendita é Tu, Mulher”, apresentado pela miniescola Raízes Quilombolas e Falsa Modéstia.

O desfile contou, ainda, com participação do “Cordão dos Bichos Mirim”, da Creche Municipal “Joaquim da Silva Campos”, no bairro Valinho; do grupo Ki Presença, com o bloco Águia Azul, do Unidos do Santa Rita, Colina das Estrelas, Unidos pelo Clube – com apresentação de carro alegórico. Também desfilaram: os blocos Novos e Seminovos e do Corinthians.