‘Reeleição é parte de processo’, diz Manu





Cristiano Mota

Em 2015, prefeito pretende estreitar relações com aliados; gestor disse que não há dependência do PT

 

“A reeleição faz parte da vida de qualquer gestor público. O que vai nos conduzir à reeleição vai ser a mesma força que nos conduziu à eleição: a população”.

A declaração é do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, sobre o futuro político dele. Em 2016, ele pretende estreitar relações com aliados para um trabalho denominado de “continuidade”.

A afirmação feita nesta semana a O Progresso integrou balanço de dois anos de gestão. Na entrevista, o prefeito afirmou que começará 2015 enfrentando situações geradas em 2014 e que deve “avançar” na substituição de veículos locados por próprios.

Também abordou uma possível ausência do PT (Partido dos Trabalhadores) na base, a relação com a oposição e austeridade.

“Todos nós temos, sempre, que estar com objetivo à frente do que queremos. A população vai avaliar o nosso trabalho, e é para isso que nós vamos nos esforçar ainda mais, a partir do ano que vem, para melhorar nossa avaliação popular”, antecipou.

O prefeito justificou o prazo estendido para que as ações de governo comecem “a decolar” (de 2013, adiado para 2014 e, posteriormente, 2015), alegando que o país passa por uma crise. Manu afirmou que o Brasil está em um momento “sério”. Entretanto, afirmou que a Rússia vive situação semelhante.

Ele também citou que outros países passaram por esse mesmo momento, em 2008, incluindo Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. “O Brasil passou por um susto em 2008 e, em 2014, passa por uma ‘onda muito pesada’”, declarou.

Apesar disso, o administrador disse que acredita no crescimento do país, pelo menos de “alguns indicadores” a partir de 2015. E sustentou que as projeções, pelo menos para Tatuí, são promissoras no que se refere a investimentos.

Para compensar um eventual “efeito cascata” (que a estagnação atinja o município), o prefeito afirmou que vai estimular investimentos por parte do empresariado. Também deve buscar recursos junto a deputados e economizar.

A meta passa pela ampliação do número de veículos próprios e, com isso, o cumprimento de promessa de campanha. No início de 2013, o prefeito havia se comprometido a substituir veículos locados por próprios.

Neste ano, porém, entregou viaturas para a GCM (Guarda Civil Municipal) que pertencem a locadoras, uma oriunda do Estado da Bahia e outra, de Minas Gerais. A oposição reagiu, afirmando que “o discurso não acompanhava a ação”.

O prefeito rebateu as críticas, afirmando que o Executivo “não ficou somente no discurso”. Conforme ele, a Prefeitura só não fez 100% da troca por falta de recursos. Contudo, disse que a administração já conseguiu diminuir, praticamente na totalidade, os carros locados.

De acordo com ele, a Saúde, por exemplo, ganhou mais de dez veículos próprios. As aquisições devem aumentar a partir do ano que vem. Manu disse, ainda, que as compras devem ser feitas na medida em que houver recursos.

Isso porque os veículos que atendem ao Executivo precisam de manutenção. A frota da Saúde é uma das que mais exigem reparos. “Os veículos viajam 24 horas por dia, 365 dias no ano, e precisam estar em ordem”, disse.

Como na locação o reparo ou a substituição acontece de modo mais rápido, alguns dos veículos devem permanecer locados. “Nós não conseguimos ter condições de adquirir todos os carros, porque precisamos de uma frota boa e dar condições de suporte para que eles rodem”, argumentou.

No caso da GCM, a Prefeitura optou por locar por conta, principalmente da adaptação dos veículos. Manu explicou que os carros precisariam passar por ajustes para abrigar detidos, ou mesmo transportar os cães do canil da corporação.

Ainda segundo ele, a locação também mostrou-se mais viável por conta das condições dos veículos que estavam sendo utilizados pela GCM. “Os carros que estavam lá já não tinham condições de uso, estavam sem maçaneta, com a direção quebrada, vidro que não funcionava e porta que não fechava”.

Por esses motivos, o Executivo decidiu locar os veículos usados pela corporação. A previsão é de que a Guarda conte com viaturas próprias nos dois próximos anos, quando a Prefeitura deve “aportar recursos do Orçamento”.

O exemplo a ser seguido, nessa direção, é a cidade de Indaiatuba. Manu afirmou que esteve no município para verificar como a Prefeitura fez a troca da frota. “Sou parceiro do prefeito de lá, e ele conseguiu, aos poucos, tirar os veículos locados. É dessa maneira que vamos fazer aqui”, comentou.

Oposição

Manu também disse que encontrou dificuldades para cumprir promessa de campanha nos dois primeiros anos por conta da chamada dívida herdada.

“Quando eu fiz o discurso, também não imaginava o tamanho da dívida que estava a me esperar, mas não tiro minha responsabilidade. Assumi tudo, estamos resolvendo, e vamos comprovar nosso trabalho também através de ações”, falou.

Para tanto, Manu deve contar com apoio da nova mesa diretora da Câmara Municipal. Os quatro vereadores eleitos no início do mês para o biênio 2015-2016 fazem parte da base do prefeito. Para ele, a configuração é “favorável ao município e não tira autonomia do Legislativo”, conforme cogitado pela oposição.

“A oposição sempre vai colocar em dúvida a nossa administração, até o último dia que eu estiver sentado aqui”, disse o prefeito, sobre as críticas.

Conforme ele, os parlamentares que não estão na base “não fazem oposição ao governo, mas à cidade”. Manu declarou que muitos projetos de “relevância” acabaram tendo a tramitação prejudicada por conta de intervenções.

Dentre elas, citou a denominação da Creche “Vicente de Camargo Barros”. A unidade tinha previsão de inauguração em agosto, mas precisou ser adiada.

O motivo teria sido uma “manobra da oposição” em segurar o projeto de denominação. Na ocasião, o Executivo alegou que o atraso seria impeditivo para que a unidade fosse inscrita junto ao governo para receber recursos.

“Então, não é oposição ao governo, mas à cidade. Daí, atrasa inauguração da creche, faz com que as mães demorem em conseguir vagas para os filhos”, declarou.

Para Manu, a atual composição da Câmara não tira a autonomia e o “poder de fiscalização” dos vereadores. “Eles (os vereadores de oposição) sempre vão estar procurando pelo em ovo”, acrescentou.

O prefeito argumentou que, até o momento, os vereadores contrários só conseguiram questionar contratação de empresa produtora de vídeos para divulgação de ações do Executivo.

“Já temos respondido, e fizemos nosso recurso segundo a orientação do nosso jurídico. A empresa ganhou a concorrência, fez o trabalho e não há nada que impeça a contratação, tanto que ela continua prestando serviços para a Prefeitura, para provarmos lisura, e que nada foi feito de errado”, disse.

Para o prefeito, a oposição “inovou” ao apresentar a denúncia junto ao Ministério Público e está buscando “prejudicar o governo”. Manu afirmou que houve “prejulgamento” na questão da adequação do prédio da nova creche e que o Executivo “provou que não houve nenhum problema”.

Também enfatizou que os procedimentos adotados pela Prefeitura “estão dentro da legalidade” e que entende a posição dos vereadores. Disse que respeita o Legislativo, que tem como prerrogativa fiscalizar o Executivo, mas que vai “responder no mesmo tom” os questionamentos.

“Independente de estar na maioria ou na minoria, eu tenho minha obrigação. Vou responder e me defender, porque nunca cerceamos nenhum vereador”, garantiu.

Por outro lado, Manu afirmou que alguns dos questionamentos apresentados pela oposição têm resultado em transtornos para a administração. Por conta de um deles, disse que o Executivo ficou impedido de pagar hora extra aos servidores, por determinação judicial.

“Isso está se refletindo em todos os funcionários públicos e não na administração. Não vamos mais poder pagar hora extra. O MP está impedindo”, afirmou.

O funcionalismo também teria sido prejudicado por conta de requerimento apresentado na Câmara. Aproximadamente 300 podem ter de devolver dinheiro aos cofres públicos, a partir de ação do MP com base em questionamento.

Manu ressaltou que a Prefeitura está tentando achar uma saída “de todas as maneiras” e que não quer prejudicar nenhum servidor.

“Para tudo que falarem contra a administração, vai haver uma resposta. Se as pessoas falarem e não provarem, vão ter que provar na Justiça”, sinalizou.

PT no governo

Ainda sobre a política, o prefeito comentou sobre a indecisão da permanência do PT no governo. Manu fez questão de frisar que sempre teve “um bom relacionamento com o partido durante os dois anos de governo”.

“Nós disputamos uma eleição duríssima, ganhamos. O PT teve um espaço muito grande no nosso governo, respeito e respeitei sempre esse espaço”, comentou.

Manu disse que entende os anseios do partido e que Vicente Aparecido Menezes, o Vicentão, achou por bem afastar-se do governo para trabalhar para deputados da legenda dele.

Em novembro deste ano, entretanto, o vice-prefeito disse que havia sido convidado no início do ano pelo prefeito a deixar o cargo de secretário municipal de Governo, Segurança Pública e Transportes.

Ao final do processo eleitoral, Manu afirmou que o vice-prefeito decidiu, por meio de consenso com o PT, afastar-se do governo. O prefeito comentou, também, que considera o partido muito forte e que respeita a decisão.

Enfatizou, ainda, que foi o PT quem se afastou do governo e que não se tratou de uma decisão dele. “Mas, o nosso governo continua. Nós vamos dar sequência ao nosso plano de trabalho. Respeito o partido, que tem todo o direito do mundo de pensar no que vai fazer do futuro, como lançar um candidato”, disse.

No entendimento de Manu, a possível saída do partido não deve interferir na administração. Também não atrapalharia, por exemplo, uma articulação junto ao governo federal para emendas ou assinaturas de convênio. Até então, a função ficava a cargo do vice-prefeito. “Eu já assumi esse papel”, disse Manu.

Desde o afastamento de Vicentão, Manu passou a participar de reuniões com políticos para obter investimentos. O último compromisso aconteceu na semana passada, quando esteve em Brasília discutindo emendas para 2015.

Em janeiro, ele deve participar de encontro com o vice-presidente da República, Michel Temer, do PMDB. Além dos recursos, o prefeito afirmou que participou ativamente da campanha para reeleição da presidente Dilma Rousseff, do PT, ocasião em que estreitou os laços com a União.

Os encontros tiveram como pauta vários investimentos. Entre eles, o convênio para a construção de 652 casas no futuro Parque Toledo.

O empreendimento deve ser erguido pela construtora Realiza, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. As famílias contempladas contrairão financiamento junto à Caixa Econômica Federal.

“Não estou desprezando ou deixando de agradecer todo o apoio que o PT nos deu até hoje, mas uma coisa é o PT nos ajudar enquanto está no governo, outra, é agora não termos como fazer sem o PT. Nós vamos continuar, porque não existe uma relação de dependência”, destacou.

Compreensão

Manu acrescentou que o respaldo do governo federal é garantido por conta do vice-presidente da República. Temer é do mesmo partido que o prefeito e já esteve em Tatuí em três oportunidades no ano passado.

Ainda assim, o PT e o PMDB tiveram menos votos que o PSDB, tanto na corrida presidencial como nos demais cargos disputados nas eleições deste ano. Parte desse “desempenho” foi apontada como uma “má compreensão” por parte da população.

Da mesma forma que o ex-vereador Jorge Sidnei Rodrigues da Costa, do PMDB, o prefeito afirmou que seu governo foi “mal compreendido em determinados momentos”. Na opinião dele, isso é resultado de “informações divulgadas de maneira deturpada aos munícipes”.

“Criou-se uma ideia totalmente diferente do que era para ser. E temos essa capacidade de entender. Afinal de contas, a população trabalha constantemente com versões de várias pessoas, e a gente tem que, também, fazer a nossa”, disse.

Manu afirmou que a Prefeitura não dispõe de um veículo de comunicação que possa atingir “um maior número de pessoas” para contrapor as informações.

Dessa maneira, as ações adotadas pela administração poderiam ser “mal compreendidas”, quando deveriam ser minimizadas “em termos de polêmicas”.

“Não culpo a população, em nenhum momento. Temos de nos posicionar perante a população em todas as ações que são feitas na cidade”, emendou.

A partir do ano que vem, ele antecipou que a Prefeitura adotará uma nova postura com relação a essa “contraposição de pontos”.

Manu considera essa medida essencial para evitar que ações “de impacto e difíceis”, como o não pagamento das horas extras dos funcionários por conta de ação do MP, possam ser mal interpretadas por falta de divulgação dos fatos.

“Já temos adotado essa postura, e vamos enfatizar cada vez mais para que não tenhamos desgastes, porque não estamos fazendo nada de errado. Não tem nenhuma coisa ilegal ou ato corrupto, que é o pior que pode acontecer”, falou.

Manu frisou que vai agir com mais rigor com relação às afirmações feitas pela oposição e para “mostrar para a população quais são as intenções das medidas adotadas pelo Executivo”.

Previsões

Para o ano que vem, afirmou que a população poderá esperar mais ações na Saúde. Além da reformulação no pronto-socorro e da inauguração do Cemem (Centro Municipal de Especialidades Médicas), a Prefeitura deve ampliar o número de equipes do PSF (Programa Saúde da Família) e inaugurar o Caps (Centro de Atenção Psicossocial). Isso no decorrer de 2015.

Já no mês que vem, em janeiro, vai transferir a Casa do Adolescente. A unidade funciona atualmente na avenida Cônego João Clímaco de Camargo e atenderá em um imóvel na rua 13 de Maio, em frente à agência central dos Correios.

“Estamos fazendo um trabalho de excelência na Saúde. Isso, para mim, já me deixou muito gratificado. A Saúde é a prioridade do nosso governo, foi e vai continuar sendo até o último dia que eu for prefeito”, disse.

O cronograma de ações para o ano que vem inclui novas creches e a construção de duas novas unidades de ensino na região do Jardim Santa Rita de Cássia. A primeira, uma Emef (escola municipal de ensino fundamental); a segunda, uma escola estadual por meio de convênio com o Estado.

“Vamos investir mais na Educação, na Saúde, no esporte, na cultura e na infraestrutura. E é aí aonde eu quero chegar”, disse. Outra meta da administração, para o ano que vem, é melhorar a malha asfáltica do município.

Para tanto, a Prefeitura está se programando para “economizar o que puder”. A ordem é enxugar os gastos, “sem deixar de prestar atendimento”.

“A cidade precisa de uma grande reforma na sua infraestrutura, desde novas ruas, manutenção das existentes e implantação de ciclovias”, citou.

Outra meta é o início do Minha Casa Minha Vida, cujo projeto contempla criação de um novo bairro no município, composto de 2.600 moradias populares.

Ainda em 2015, Manu disse que a cidade ganhará um investimento que dará “salto de qualidade e orgulho para quem mora em Tatuí”. O anúncio do empreendimento deve ser feito em janeiro, em entrevista coletiva para a imprensa.

Por fim, o prefeito afirmou que trabalhará para o início da implantação do centro de hemodiálise e da UTI (unidade de terapia intensiva) neonatal, na Santa Casa.