Rede de saúde bucal do municí­pio atende média de 300 pessoas/dia





Se atendesse nos 365 dias do ano, a rede básica de saúde de Tatuí quase comportaria todos os moradores do município no período de um ano pelo menos os que buscam tratamentos dentários, conforme números divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde. Por dia, o município serve média de 300 pessoas.

Tatuí conta com 116.682 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com atendimento diário de três centenas, a Prefeitura precisaria de pouco mais de um ano para contemplar toda a população.

O cálculo do dentista Walter Vitor Lança Junior leva em consideração os números de consultórios disponibilizados pela Prefeitura. São 16 no total, contando com o CEO (Centro de Especialidade Odontológica). Em cada um deles, atuam dois profissionais. Cada dentista atende de oito a dez pacientes diariamente.

Crianças, jovens, adultos e idosos recebem tratamentos por meio de programas específicos. Os pequenos são atendidos pelo Odontomóvel, pelos consultórios mantidos nas UBSs (unidades básicas de saúde) e pelo centro de especialidades. Já os adultos e idosos recorrem aos dois últimos serviços.

Há mais de cinco anos, o veículo adaptado para oferecer tratamento odontológico (Odontomóvel) e que pertence à rede municipal trabalha exclusivamente com crianças. Ele atende às creches e pré-escolas públicas mantidas da Prefeitura. “É destinado a esse público e itinerante”, contou o dentista.

Quem não está na faixa etária do serviço contra com os mesmos atendimentos nos consultórios. Diariamente, entre 255 e 300 pessoas recebem tratamento. A maioria das que procura os serviços carece de restaurações.

“Existe um estudo que diz que o dentista passa de 60% a 70% do seu tempo fazendo substituições”, disse Lança Junior. O dentista se refere às trocas de obturações. As razões variam, entre insatisfação, fratura ou queda da restauração.

As obturações respondem pela maioria dos atendimentos em Tatuí. Em termos percentuais, 50% dos pacientes que passam pelos postos procuram recuperar dentes ou trocar as restaurações.

Do total de pessoas, 30% das que vão até a rede municipal arrancam algum dente e 20% são indicadas para tratamento de periodontia. Este serviço consiste em prevenção e tratamento das doenças que acometem os tecidos de sustentação e proteção dos dentes (tanto tratamento da gengiva como do osso).

“Como dentista que trabalhou muito tempo na ponta (no atendimento), posso dizer que isso é uma coisa que tende a mudar, felizmente”, comentou.

A declaração de Lança Junior tem relação não só com as ações preventivas, mas com a estruturação do serviço. Nisso, inclui-se o sistema de agendamento, remarcação de consultas e protocolo de atendimento.

O profissional explicou que a tendência, para os próximos anos, é que o número de extrações diminua. Em outras palavras, que as pessoas tenham mais chances de conseguir preservar a “dentição original”, mesmo que precisem de restaurações.

Um dos motivos é o trabalho desenvolvido pelo Odontomóvel. Com o passar dos anos, as crianças atendidas pelo serviço tenderão a ter mais cuidados com a saúde bucal. Em consequência, serão adultos com dentes mais saudáveis. “Essa é, realmente, a ideia”, apontou o dentista.

Nesse sentido, o projeto pode ser considerado “ambicioso”, mas, ao mesmo tempo, realista. A secretaria quer diminuir, com o Odontomóvel, o chamado CPO-d (índice de dentes cariados, perdidos e obturados) da população. A meta é evitar, principalmente, a perda dos dentes.

Em longo prazo, o trabalho realizado com as crianças pode evitar a frequência – pelo menos com relação a casos mais graves – de adultos nos consultórios da rede. Atualmente, o número de crianças, jovens e adultos que buscam tratamentos é “equilibrado”. Contudo, os serviços variam conforme a idade.

“O adulto ainda, quando procura ajuda, é para extrações, infelizmente. Boa parte, no entanto, foca principalmente na restauração e nas próteses”.

Pelo volume de atendimento, número de profissionais e consultórios, Lança Júnior afirmou que a rede local é considerada referência. “Tenho colegas que brincam que Tatuí é modelo, que querem se espelhar no nosso esquema de trabalho”, comentou.

Também por conta da infraestrutura, o serviço de atendimento bucal do município tem uma “alta demanda”. O prazo para se conseguir os tratamentos depende da quantidade de pessoas que residem nos bairros cobertos pelos consultórios.

Lança Júnior relatou que a rede atende “na medida do possível”. De modo a não desmotivar as pessoas e garantir a continuidade do tratamento, a secretaria criou protocolos de agendamentos. No Rosa Garcia, por exemplo, um dos bairros mais populosos, os atendimentos são divididos.

Isso significa que, de cada oito consultas diárias realizadas na UBS do bairro, seis são de retornos e duas para atender novos pacientes. Entre um atendimento e outro, os dentistas também recebem as “urgências odontológicas”.

A medida garante tratamento contínuo aos pacientes, mesmo que isso signifique que eles tenham de aguardar por prazo indeterminado para fazerem uma primeira avaliação.

“Tudo isso é preciso para que possamos começar e terminar o tratamento. Não adianta nada ficarmos recebendo e não concluirmos”, avaliou Lança Júnior.

As urgências estabelecidas no protocolo são para atender pacientes com dor de dente aguda. Nos casos em que há inchaço, os dentistas fazem avaliação e – dependendo da situação – indicam tratamento inicial por meio de antibióticos.

Esse tipo de procedimento é comum quando há abscesso dentário ou periapical (agudo ou crônico). O abscesso consiste em processo inflamatório com formação de pus nos tecidos periapicais (ao redor da ponta da raiz do dente). Em geral, as inflamações provocam dores e devem ser tratadas.

Como esses casos precisam ser previstos (com uma reserva de vagas para atendimento), o tempo de espera para o início do tratamento pode demorar. “Existem unidades que, se a pessoa for num dia, vai conseguir agendar para a semana seguinte. Mas, há outras que, infelizmente, precisarão esperar mais”, concluiu.