Quase 85% procuram o PS ‘indevidamente’

Em 31 dias, secretaria contabilizou atendimentos a 8.752 pessoas que poderiam ter sido levadas para UBSs, ESF e pronto atendimentos (foto: arquivo O Progresso)

A Secretaria Municipal de Saúde divulgou, neste mês, balanço de atendimentos realizados pelo Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. Os dados disponibilizados pelo titular da pasta, enfermeiro Jerônimo Fernando Dias Simão, têm como função contrapor queixas recebidas pelo órgão.

Conforme explicou o titular, as reclamações são relativas ao tempo de espera pelos atendimentos. A O Progresso, Simão argumentou que as críticas são decorrentes de uma sobrecarga.

O secretário lembrou que as equipes que atuam no pronto-socorro deveriam atender somente dois tipos de casos: urgência e emergência. Entretanto, o maior volume de procedimentos envolve pacientes que não correm risco de perder a vida. Somente em agosto, as pessoas classificadas como “verde” e “azul” representaram 84,37%, o que contribui para o tempo de espera.

Esse percentual corresponde a 8.752 atendimentos feitos no período de 31 dias. O número é bem superior ao volume de atendimentos que deveria ser prestado no pronto-socorro. Em agosto, 1.621 casos de urgência e emergência foram atendidos pelas equipes, o equivalente a 15,63% de todo o mês.

Desse total, apenas 56 pacientes se encaixaram na “prioridade zero” (alta prioridade), identificada pela cor vermelha. Isso significa que, na prática, menos de 1% (0,54%) dos atendimentos realizados pelo pronto-socorro em agosto era prioritário.

Segundo protocolo do Ministério da Saúde, pacientes com a classificação vermelha devem ser atendidos em tempo máximo de 15 minutos. Este é o caso de pessoas que sofreram parada cardiorrespiratória, infarto, politrauma (lesões múltiplas) e choque hipovolêmico (hemorrágico), entre outros.

“O PS é a porta de entrada para os serviços de urgência e emergência. Entretanto, 71% dos casos atendidos no mês passado eram eletivos e 13% poderiam ser encaminhados às unidades básicas de saúde”, sustentou o secretário.

De acordo com ele, além dos postos, a maioria dos pacientes que procurou o pronto-socorro poderia ter evitado transtornos, fila de espera e desconforto se buscasse ajuda nas unidades do ESF (Estratégia Saúde da Família).

Outra opção para a população são os dois prontos atendimentos mantidos pela secretaria. Eles funcionam no Jardim Santa Rita de Cássia e na vila Esperança.

“A situação (de superlotação) não vai se resolver se a população não procurar o atendimento onde deve. As pessoas procuram o pronto-socorro porque acham que o atendimento é mais rápido, mas ele é resolutivo para urgência e emergência e paliativo para os casos ambulatoriais”, frisou o secretário.

Simão explicou que, embora não recomendado, o pronto-socorro pode ser o local indicado para que as pessoas tenham minimizada uma dor crônica. Quem apresenta uma algia, por exemplo, terá alívio com uma intervenção pontual, mas precisa buscar tratamento por meio de acompanhamento clínico.

“Resolveu a dor, a pessoa tem que passar na UBS ou ESF. É o clínico que verifica a necessidade de encaminhar para um especialista e não o pronto-socorro”, reforçou.

De acordo com o secretário, esse tipo de orientação já é dado a pacientes que precisam aguardar um tempo maior para serem atendidos. O tempo de espera, segundo ele, depende do número de pacientes que chegam com “prioridade zero”.

No próprio pronto-socorro, os profissionais que fazem a triagem também explicam, para os pacientes sem prioridade, que o melhor caminho é a UBS ou o ESF.

“A equipe faz uma orientação para quem tem dores crônicas, como artrose, artrite, tendinite e bursite. Até porque, o médico vai tirar a dor, naquele momento, mas o pronto-socorro não dá direito a retorno”, informou.

Quem não tem disponibilidade de ir até um posto de saúde durante o horário de funcionamento (das 8h às 17h), pode buscar os dois prontos atendimentos da cidade.

Simão ressaltou que as unidades estão preparadas para receber o fluxo de pessoas, por dispor não só de médicos (clínicos gerais), mas de medicamentos que, em geral, são ministrados no pronto-socorro.

Os ambulatórios funcionam das 17h às 22h, de segunda a sexta, e, conforme o secretário, estão aptos para atender aos casos “verde” e “azul”.

“A população tem alternativa para ser atendida. Se as unidades básicas estiverem fechadas, basta que as pessoas procurem os PAs e não o pronto-socorro”, frisou.

Como são “menos frequentados”, os prontos atendimentos costumam ter tempo de atendimento pequeno. No caso do pronto-socorro, a demora tem a ver com o aumento de procura da população – de modo geral – e com a elevação dos acidentes de trânsito.

“Temos notado que a parte de traumatologia aumentou muito em decorrência dos veículos”, relatou.

Segundo ele, a facilidade para a aquisição de veículos, principalmente motos, tem aumentado a probabilidade de traumas. Simão ressaltou que esse “fenômeno tem sido registrado não só em Tatuí, mas em todo o país”. “É para isso que serve o pronto-socorro, não para quem tem enxaqueca”, reforçou.

O pronto-socorro pode – e deve – ser utilizado por hipertensos com oscilação na pressão arterial. Da mesma forma, por diabéticos com alta glicêmica. Entretanto, o tratamento das doenças é oferecido nos postos, por meio de programas. O atendimento envolve controle da pressão diário, além de orientações de educador físico e nutricionistas.

Novo protocolo

Priorizando desafogar o pronto-socorro e reduzir o tempo de espera dos pacientes, a Secretaria de Saúde estabeleceu novo protocolo de atendimentos. Ele se estende ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que, em casos não urgentes, destina pacientes aos prontos atendimentos.

Além do “Erasmo Peixoto”, a secretaria estabeleceu, como referência, os ambulatórios do Santa Rita e da vila Esperança. Caso os quadros de saúde dos pacientes encaminhados a esses locais tornem-se graves, eles são transferidos ao PS.

“O Samu já está trabalhando com essa logística. Os objetivos são de agilizar os atendimentos, desafogar o pronto-socorro e conscientizar a população de que há uma alternativa, que são os prontos atendimentos”, enfatizou o secretário.

Na avaliação de Simão, os prontos atendimentos são subutilizados pela população. Prova disso é que, no feriado prolongado do Dia da Independência, celebrado em 7 de setembro, os dois espaços registraram menos movimento que o pronto-socorro.

Por conta do ponto facultativo (concedido na sexta-feira, 8), as unidades básicas de saúde não atenderam. De modo a evitar sobrecarga ainda maior no pronto-socorro, Simão abriu os prontos atendimentos em horários diferenciados.

“Fizemos uma ação com a população, como um teste, e colocamos cartazes nas unidades básicas de saúde para avisar sobre o funcionamento. Abrimos os dois prontos atendimentos no dia 8, das 14h às 20h, e, no dia 9, nós os mantivemos em funcionamento das 13h às 19h”, contou.

De acordo com o secretário, os números registrados pela secretaria, nos dois dias, demonstraram que a população não tem o costume de frequentar as unidades. No dia 8, o pronto-socorro atendeu 380 pessoas, enquanto que o PA do Santa Rita, 68; e o ambulatório da vila Angélica, 23.

No dia 9, a secretaria atendeu mais 350 no PS, 17 no PA do Santa Rita e 12 na vila Angélica. “A população precisa se conscientizar de que o pronto-socorro é referência para as concessionárias e serviços da região”, argumentou Simeão.

De acordo com o secretário, o pronto-socorro absorve a demanda de vítimas de acidentes em Tatuí, Quadra e, até, Alambari. Além disso, recebe pacientes que se acidentaram nas rodovias que circundam o município, como a Gladys Bernardes Minhoto (SP-129), Antonio Romano Schincariol (SP-127), Mário Batista Mori (SP-141) e Senador Laurindo Dias Minhoto (SP-141).

“Ainda temos a Castello Branco (SP-280), além das vicinais asfaltadas que ligam Tatuí a Itapetininga e as cidades vizinhas ‘por dentro’”, enumerou.

De acordo com ele, todos os equipamentos do pronto-socorro precisam estar disponíveis para atender a esses casos. O secretário afirmou ser preciso ter espaço físico, leito e profissionais em prontidão para absorver a demanda.

Pediatria

Considerado “ganho para a população”, o atendimento pediátrico oferecido 24 horas e sete dias por semana no pronto-socorro também está causando um “estrangulamento”.

Conforme o secretário da Saúde, o “Erasmo Peixoto” tem registrado mais procura por parte dos pais do que as unidades básicas de saúde. Em contrapartida, é nos postos que a oferta de serviços é maior.

Em agosto, o pronto-socorro registrou 2.076 atendimentos pediátricos, o pronto atendimento da vila Angélica, 245 e o PA do Santa Rita, 318. Contudo, a secretaria disponibilizou, no mês, 3.316 consultas com pediatras, das quais 1.700 foram agendadas. “Sobraram 1.565 por falta de procura nos postos, e a região com menos procura é o centro”, informou Simão.

A diferença entre as UBSs e o PS é que, neste último, o atendimento é oferecido 24 horas por dia, de domingo a domingo. Contudo, os pediatras são mais procurados após as 17h, quando os postos não estão em funcionamento.

Segundo o secretário, o pediatra costuma atender todos os tipos de pacientes. Entretanto, dá preferência às crianças que apresentam febre alta, têm histórico de vômitos, sofreram acidentes ou estão em crises respiratórias.

“Recebemos bastantes reclamações de pessoas alegando que o pediatra está demorando. Mas, está demorando porque ele está atendendo uma criança grave. Crianças com febre baixa, tosse há cinco dias, com dores de ouvido, são a maioria. Mas, esses são problemas que poderiam ser resolvidos nas UBSs”, disse.

Nos postos, os pediatras atendem às crianças no período da manhã. O secretário contou que a maioria dos profissionais fica disponível a partir das 7h.

“Mesmo assim, não estamos tendo sucesso. As pessoas não procuram o serviço. Nós até já demos uma alterada no horário, mas não há interesse”, concluiu.